Capítulo 2: Pressentimento.

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Acordo desesperada com o meu celular tocando, era uma ligação da Kenzie, às 05:36AM. Estou desnorteada, como eu pude dormir no sofá por tanto tempo, sem nem acordar para ir ao banheiro?! Está frio, e eu nem ascendi a lareira, muito menos dormi com um cobertor quente o suficiente para não me tremer de frio. Olho para meu celular e ele continua tocando, sei que se eu não atender, ela irá surtar, mas eu poderia muito bem fingir que não ouvi.
Ela continua insistindo, então decido atender:

— Alô? Mas que diab... Zie, o que você quer me ligando à essas horas? — Perguntei com tom de indignação.
— Me desculpe estar perturbando o teu sono, A. Tive que voltar mais cedo do camping, soube que vai ter uma festa na fogueira hoje. — Zie parecia animada, mas são 05:40, eu só quero dormir.
— Tá, tudo bem. Podemos falar sobre isso mais tarde Kenzie? De verdade? Eu estava dormindo e você me liga do nada. Você está em casa? — Bocejei.
— Na realidade, não. Estou na porta da sua casa. Pode vir abrir para mim? Está nevando muito, e eu estou com frio. — Disse batendo o queixo.

Ok, eu preciso de cinco minutos para raciocinar. Minha melhor amiga acabou de voltar do acampamento de verão que estava programado para ela chegar daqui 3 dias. Ela está na porta da minha casa. São basicamente 6 horas da manhã, e eu tive um sonho estranho... não sei por qual motivo, mas sonhei com uma das garotas que eu conheci ontem na faculdade, aquela do cabelo escuro... droga! Esqueci o nome dela.

— Zie, já vou. Só espera eu subir para pegar uma blusa de frio, estou congelando. — Desligo o telefone e subo até o meu quarto, abro meu guarda roupa, pego um moletom qualquer, meias, depois coloco tudo e desço para receber a Kenzie.
— Ok garota, você me deve muitas explicações.— Digo enquanto vou abrindo a porta, logo vejo minha garota, com seu lindo cabelo castanho escuro, que vai até o ombro, uma touca vermelha, lábios que estavam roxos de estar no frio, uma bomber jacket enorme, duas malas, um sorriso lindo no rosto, e uma sacola cheia de presentes.

— Oh meu incrível Buda, como eu estava com saudades de você! — Disse Kenzie, enquanto vinha me dar um abraço.
— Vem, vamos entrar. Vou fazer um café para a gente. — Digo isso e ao mesmo tempo vou ajudando com as malas. Deixo tudo no cantinho perto do sofá, viro-me, tranco a porta, ascendo as luzes, depois disso seguimos para a cozinha.
— Me conta, como foi passar as férias sozinha aqui? Nevou muito? Conheceu algum cara legal? Como foi o primeiro dia de volta na faculdade? Me conta mais sobr...
— Zie! — Falo num tom alto. — Calma, eu vou te contar tudo, respira, está tudo sob controle, não precisa se precipitar. — Enquanto ela se senta na bancada, vou até a cafeteira e começo a preparar nosso café.
(Notas sobre a Kenzie: Ela sempre foi a melhor amiga dos sonhos, está sempre do meu lado para tudo. Nós nos aproximamos de um jeito estranho, foi bem engraçado aquele dia. Pra ser sincera, conversávamos faz muito tempo pelo Twitter, só que nunca usávamos nossas reais fotos, então não sabia como ela era, e nem ela sabia como eu era. Até que um dia na faculdade, sentamos na mesma mesa para almoçar, e estávamos conversando naquele exato momento pelo Twitter. Ela soltou um "tem uma garota muito estilosa sentada na mesma mesa que eu, ela me lembra você". E depois disso nós caímos na real e não desgrudamos mais. Ela é linda, gosto de cada detalhe que habita essa mulher. A boca dela tem um formato perfeito, os olhos são redondos e grandes, eles tem a cor do mel. Ela sempre teve um estilo despojado, sempre soube abusar daquilo que tinha. Tem tatuagens espalhadas pelo corpo, a minha favorita é uma conchinha, que fica atrás da orelha direita. Eu amo cada detalhe nela, cada curva, cada palavra que ela dá, eu a amo. Ela é muito engraçada quando se trata de relacionamentos, ela é pansexual, e nem sendo pansexual, ela arruma alguém. Como ela sempre diz "O amor não está para todos, como todos estão para o amor").


— Então, vamos começar com o meu verão... Eu basicamente fiquei em casa, revirei minha criatividade do avesso, saí para fazer algumas fotos, que inclusive você tem que me lembrar de te mostrar depois. Vovó veio aqui, me fez companhia por muitos dias, estava preocupada com minha saúde mental, você acredita?! Fiquei bastante do Union também, não apenas quando estava trabalhando, tentei ir para conhecer algumas pessoas mas, acho que não deu certo. — Dei risada enquanto colocava café para nós duas, depois virei-me e fui preparar torradas. (Esqueci de mencionar que hoje não tem aula). — Até que demorou bastante para nevar, sabia? E você sabe que por mim, nevaria a todo tempo. — Olhei para ela e ri.
— Eu queria entender, em que mundo Ava Jenkins vive!!! Você só pensa em neve o tempo todo, quando não é neve, está pensando em inverno, que para a gente é quase a mesma coisa. — Gargalhou. Enquanto isso eu retirei as torradas, coloquei-as num prato e fui para a bancada me sentar ao lado da Kenzie.
Enquanto a Zie comia, eu falava:
— Meu primeiro dia de volta na faculdade foi estranho, e eu to falando muito sério quando falo "estranho". — Arregalei os olhos e fiz o sinal de aspas. Como ela estava comendo, fez sinal com as mãos de "por que?".
— Fui ao banheiro, e lá estavam duas garotas, uma se chama Rachel Adams e a outra eu não consigo lembrar o nome desde que acordei. — Olhei de canto e tomei um gole de café.
— Como elas eram? Vai, anda. Me conta tudo! Elas tinham cara de lésbicas? Será que elas eram um casal? Você perguntou? — Arregalou os olhos e esperou que eu falasse.
— Não, não acho que elas são um casal. A Rachel é ruiva e faz moda lá na facul. A outra faz contabilidade, na verdade eu acho que ela é lésbica.
— A Rachel? — Perguntou Kenzie.
— Não Zie, a outra. Ela é sexy, e misteriosa. Usa um gloss de pêssego que tem um cheiro marcante, ela é marcante, não sei. Ela me chamou muito a atenção, tanto que sonhei com ela essa noite. — Disse isso enquanto revirava os olhos.
— Será que temos uma mulher se descobrindo bissexual? — Gargalhou enquanto me cutucava.
— Para, garota! — Empurro ela de canto. — Acho que foi só o estilo mesmo, que me chamou atenção. — Viro-me de canto, levanto e vou levar a minha xícara na pia.

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