Capítulo 3- Lirios

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-Todos já sabem de como Eros é muito mais diferente de todos os outros garotos, ele com certeza não pode se classificar como "normal".

-Como assim?

-Ele não costuma se relacionar direito com pessoas da sua idade e tem péssimas relações em geral com pessoas.

-Você tem algo para nos contar senhora Julien?

-Tenho. Com certeza tenho.

-Pode nos dizer.

-Meu filho não é depressivo. Ele não se corta por problemas com a nossa família. Eros é borderline e já tentamos de diversas formas fazer com que pelo menos ele se sentisse bem consigo ou parasse de achar que é melhor do que qualquer pessoa. Ele é um menino de ouro, é inteligente, incrivelmente lindo, divertido, mas não consegue ver isso de jeito nenhum por outro lado, acha que ninguém é mais importante que ele. Para piorar seu estado emocional, ele é gay. E tem de a achar que o pai dele irá mata-lo caso saiba. Meu marido é cristão, mas nem um pouco fervoroso, ama seu filho como qualquer pai e o seu único medo é que ele seja um suicida.

-E tem tratamento?

-Me desculpe dizer, mas a senhora é estupida. Eu vim aqui, nessa reunião, com o objetivo de acabar com as acusações que meu filho seja autista ou seja chamado pelos outros de "bichinha", "baitola", "boiola" e principalmente "viado". Eros sofre grandes problemas, tanto no emocional quanto no físico que se coloca no pretexto que somente se cortando o máximo possível, ele irá melhorá.- Levanta devagar e se vira para trás onde outras mães olham com lagrimas nos olhos para a senhora Julien- Olha, eu tive que passar por muitos sufocos para conseguir tratamento terapêutico, psicológico e psiquiátrico para o meu filho não desistir de viver. Todas vocês estão aqui por um único motivo, Amor. Amor pelos filhos e filhas de vocês, mas não estão atentas aos problemas que eles podem criar para si através de pequenas palavras. Eu sei mais como ninguém aqui o quanto é difícil lidar com problemas psicológicos, tanto que não conseguimos aceitar que um ser tão incrível como a nossa criação seria capaz de não amar a si, mas vocês precisam entender que para eles é mil vezes mais difícil. Louise, todos aqui sabem que você sofre muito para conseguir o dinheiro que sustenta tudo entre você e sua filha, ela sabe disso mais do que ninguém, mas ela sente a tua falta. Ela precisa conversar urgente com você, ela está sendo abusada por garotos do ensino superior. Natalie, seus gêmeos fazem o possível para diminuir todos nessa sala, T O D O S, sem exceção. Não bata neles quando chegar, não tire o cinto como o seu pai fazia quando você apenas aceitou uma bala de uma colega, não faça o mesmo. Seus filhos tem mais problemas de insegurança do que ninguém aqui, eles se acham insuficientes para você, porque elogia e tenta ajudar todos os adolescentes e crianças daqui e mesmo assim não consegue ajudar os que tem em casa. Dennise, você sabia que seu filho se relaciona com o meu? Pois então, ele nunca te disse por que você vive empurrando a filha de Catherine para ele que por acaso é transexual. Opa, avancei um pouco, retornamos então. Seu filho, é gay e com certeza não vem na minha casa para jogar video game com o "melhor amigo". Por ser só vocês, ele tem medo de te decepcionar, aliás você dá duro para manter seu marido longe por que ele é um mal exemplo. Essa sala é considerada a mais problemática de todas as escolas na região, pois não se sabem lidar com os problemas de ninguém. Vocês acham que o desempenho escolar está ruim porque ninguém quer, ou porque nossos lírios estão perdendo a magia? A alegria de viver? O não desejo de crescer? Nós somos os únicos que podemos mudar isso, mas usam os mesmo argumentos que dão pro cachorro ou gato que defeca no lugar errado ao invés de usar o argumento para as flores que não receberam água. Estão apodrecendo por dentro. Perdemos nossas cores ainda jovens, querem tirar mesmo as cores dos seus futuros?..


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