Jardim de Histórias

Capítulo 10- Rosas

Querido Diário.

Hoje foi um dia um tanto quanto interessante. Eu acordei e me olhei no espelho e disse "mais um dia e você ainda está com esse corpo né Rosália?" como eu sempre faço em todas as manhãs. Fui tomar banho e fiz o que eu sempre faço, me agacho e aperto minhas pernas enquanto a água quente cai pelas minhas costas por cerca de 5 minutos. Depois desse mais outro doloroso banho para não ter que olhar para nenhum detalhe meu, eu vou ao meu quarto me arrumar.
Ainda falta 3 horas para abrir o portão e por mais que eu queira muito faltar, eu prometi a minha mãe me dedicar o máximo possível, então eu fiz um acordo com o meu psicólogo, disse que eu iria somente enfrentar esse inferno todas as segunda, quartas e quintas, tendo dois dias para as minhas crises. Coloquei um vestido preto rodado e um casaco xadrez preto e branco, tentei evitar todos os meus possíveis reflexos como dica do meu amigo. Ok, talvez eu estivesse preparada para o que ia acontecer, aliás, as segundas são as mais fáceis de lidar. Eu coloquei meu sapato que por mais de lindo, me lembrava que eu estava ali vivendo.. Odeio aquele dia.
Peguei minhas chaves, dei um beijo no meu pai que estava dormindo na sala, pois ele era viciado na TV, dei um beijo na minha mãe que dormia e abracei minha irmã o mais forte possível. Eu peguei minha mochila e fui pegar um ônibus, sim um ônibus as 3:37 da manhã, com sorte eu veria um demônio que pudesse me levar logo pro inferno. Peguei um ônibus que me levou pra onde eu queria mesmo ir, para o meu mercado favorito, onde eu sempre pego um cigarro de graça com um carinha lindo e muito fofo. Eu decidi que ia deixar isso por ultimo, a melhor parte do dia é ver aqueles olhos lindos e aquele sorriso incrível que ele tem. Eu fiquei sentada olhando pra cima, assim eu veria o céu ao invés de olhar para as minhas pernas, na qual eu odeio também. Nessas 3 horas eu vi de tudo, DR's de um casal que chorava enquanto brigava, uma criança pedindo comida para um mendigo comendo um sanduichá que tinha acabado de comprar, vi uma prostituta chorar por amor e vi um carinha se arranhar prestes a ter um colapso. Adivinha quem eu ajudei? O carinha com colapso. Eu dei a ele um dos meus últimos cigarros e depois comprei um pacote de salgado e dei pro mendigo e pra criança. Recebi alguns elogios e agradecimentos, na hora me arrependi de ter feito isso. Elogios sempre me pioram. Quando deu 6:30, eu atravessei a rua e me encontrei com o meu melhor amigo Andy que vive me ajudando. Na hora ele tirou meu cigarro e tacou fora, odeio quando faz isso. Disse que ele tinha muito medo de perder a unica pessoa que ele tinha, e de novo me veio a cabeça a merda que iria acontecer. Fui direto para a aula de Ciências que era as 3 primeiras aulas. Decidi pular o muro da escola. Não há motivos para aguentar mais 3 aulas só de reunião e palestra sobre doenças psicológicas. A escola faz isso, pois eu sou a mais problemática de todo o colégio e só eles sabem. Eu não vou discutir como é horrível se recusar a se olhar quando todos olham para você como um ser incrível e que tem que ser perfeito. Bom, fui direto pro mercadinho e encontrei aquele carinha todo ferido, mas mesmo assim sorria. Queria essa capacidade....Eu ofereci ajuda e enquanto conversávamos, eu cuidava de seus ferimentos. Ele tinha se envolvido em uma briga com o namorado da prima dele, que estava traindo ela e ainda queria que ela ficasse com ele. Disse também odiava mentiras e logo em seguida perguntou como eu estava e eu disse o que eu sempre digo. Bem. E ele repetiu "Eu achei que você levava a sério meu ódio por mentiras" e eu revirei os olhos. Ele disse que queria entender como alguém tão perfeito poderia se odiar tanto..E eu comecei a me derramar em lágrimas. Ele me abraçou e disse que tudo bem e me entregou um buque de rosas dizendo que toda vez que via uma se lembrava de mim e que uma espécie tão linda quanto as rosas, não poderiam deixar de existir, e então ele me beijou e ficamos ali, nos pegando por cerca de 1 hora e meia, eu decidi parar quando vi que ele não me tocava porque sabia do como eu ficava extremamente insegura e paranoica e disse que ele merecia mais, foi uma cena muito cliche e eu não mereço nada disso. Eu voltei para casa chorando, sabendo que eu nunca vou ter como sentir algo bom de verdade. Então, eu fui para um telhado qualquer e fumei todos os cigarros do meu pack e engoli todos os meus remédios para depressão e para ansiedade. Desmaiei e acordei bem chapada e você não acredita no que aconteceu. Eu cai do telhado e morri. A ultima coisa que eu ouvi foi "Ela é tão linda...Tão linda quanto as rosas que ela carregava".

-Eu gostaria de viver o suficiente e morrer logo em seguida, pois o inferno se parece mais fácil que a própria vida.