O toque da neve

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Costumava passar dias esperando a neve chegar. Quando era criança, minha mãe sempre me impedia de ficar muito tempo do lado de fora, o que fazia eu querer ainda mais me jogar naquela manta branca e fria. Até o cheiro era inebriante. Gostava de ver o vento gelado sair de minha boca, mas gostava mais ainda de retornar pra casa sabendo que teria um chocolate quente esperando por mim. Minha mãe fazia o melhor chocolate quente do mundo.

Minha mãe.

Sentia sua falta... Não só do chocolate quente como das broncas que me dava... Ela saberia exatamente o que fazer numa situação como essas... Ela sempre soube... Sempre.

Ela sempre soube...

Será que ela sempre soube mesmo? Não conseguia imaginar minha doce mãe passar por todo o sofrimento de me perder e eu acordar anos depois ciente de tudo. Por mais que brigássemos ela me amava. Será que ela sabia de tudo isso?

Mãe?

- Sophie! - exclamou Genevieve mais uma vez. Ela parecia encantada em me ver.
- Eu sou sua mãe. - falou segurando meu rosto entre as mãos.
- Não!  - falei a afastando.
- Calma, eu vou explicar tudo a você... Mas antes, preciso que veja algo. - falou virando as costas deixando seus longos cabelos brilhosos e branco gelo a vista.
- Eu vou ficar te esperando aqui, Sophie. - falou Demétrio e eu apenas assenti. Sentia todo o meu corpo se enrijecer.

As paredes do local eram revestidas de um papel vermelho gasto seguidos de diversos quadros enormes. Não havia pessoa alguma em nenhum dos quadros. Só paisagens... Paisagens de lugares que pareciam inexistentes de tão bonitos. Genevieve me viu encarando e parou sorrindo para as telas.

- Bonitas, não são? - assenti. - Seu pai que pintou. - falou ainda sorrindo e a olhei incrédula.
- Meu pai não sabia nem desenhar bonecos de palito. - falei com as sobrancelhas arqueadas.
- Seu pai de verdade. - arregalei os olhos. - Logo, logo você vai se lembrar.  - sorriu e voltou a caminhar.

Passamos por alguns corredores que pareciam sem fim e abarrotados de livros. A cada passo que dávamos meu coração acelerava mais. Eu estava com medo. Medo do que poderia descobrir... E se não gostasse?

- Minha querida... Estive tão ansiosa pela sua vinda... Achei que este dia nunca chegaria. - falou animada. Só conseguia a encarar imaginando o que essa mulher sabia sobre mim.

- Quem é você? - perguntei a encarando enquanto interrompia seus passos no vasto corredor.
- Sua mãe. - sorriu novamente.
- Deixa eu reformular a pergunta... O que você é? - a encarei desconfiada. - Você também tem esses... Poderes?
- Calma... Uma coisa de cada vez. - ela parou em frente a uma porta revestida com algo que parecia ser veludo. - Chegamos. - sorriu me dando passagem para que eu abrisse as portas.

Quando abri a estreita porta me deparei com um vão que mais parecia uma gruta. Era tudo escuro e a única coisa que iluminava era um caminho de tochas até uma rocha enorme cheia de desenhos cravados... Parecia que aquele lugar não era habitado a anos. Meu coração batia rápido e de repente senti meu sangue esfriar... Esfriar muito rápido. Olhei em volta e não havia uma alma viva. Comecei de repente a sentir medo. A enorme pedra tinha as fases da lua desenhadas. Palavras escritas em uma linguagem antiga extremamente difícil de entender, mas novamente começaram a fazer sentido. De repente um instinto surgiu em mim... E me parecia certo perguntar a Genevieve o que era aquilo.

- O que está escrito? - perguntei.
- Nada relevante... Só pede pra que você coloque a chave no seu lugar. - falou apontando pra o meu colar.

Ela estava mentindo. De repente tive tanta certeza, como a certeza de que a chuva é molhada.

Eu sabia o que estava escrito... Já havia encontrado aquela escrita antes.

"Liberte-se. Destrua a chave e os segredos serão revelados, volte ao inicio e o oculto será lembrado."

Aquela escrita era um aviso! Não era pra aquela porta ser aberta. Mas porque ela mandaria eu a abrir?

- Sabe... - falei pegando o colar em minhas mãos. - Algo me diz que você está errada. - falei e ela arregalou os olhos.
- Do que está falando, filha? - sorriu, mas percebi quão forçado era. - Abra logo a porta e finalmente você poderá encontrar seu verdadeiro pai.
- Se é apenas isso porque ele estaria aí dentro? E porque na pedra estaria gravado um aviso para não abrir, mamãe? - o olhar dela passou de gentil a furioso.
- Pare com isso e abra logo... Não sabe a quanto tempo esperamos por isso. Você não quer ver seu pai? - usou uma voz afetada como se estivesse ressentida. Analisei o local ao redor e falei quando finalmente estive certa do que estaria por vir.
- Se fosse isso mesmo porque mentiria sobre o que está escrito na pedra? - levantei a sobrancelha e a analisei. Ela suspirava irritada. - Aliás... Algo me diz que você não é minha mãe coisa nenhuma. - esbravejei. - Eu vou embora. Saia do meu caminho. - falei tentando passar, mas ela bloqueou o caminho e o que era aquilo? Ela estava rindo. Rindo não... Gargalhando.

- Pensou rápido... Valkiria. - franzi a sobrancelha ao escutar do que ela tinha me chamado, mas não deu tempo de absorver. Ela pulou em cima de mim com toda fúria sacando uma adaga da perna. - Se do jeito dócil não funcionou, farei a força. - colocou a adaga em meu pescoço. Minhas pernas estavam travadas. Não sabia o que fazer, mas de repente senti todo meu corpo responder como se de repente tivesse recuperado a vida.

A empurrei pra longe, fazendo com que ela atravessasse a gruta e caísse do outro lado. Observei a passagem aberta para a saída e saí correndo enquanto ela tentava se levantar.

- Volte aqui! Eu vou matar você! -grunhiu correndo atrás de mim.

O que eu faço? Pensa, Sophie... Pensa...

Sentia que meu coração ia sair pela boca e de repente a sensação de frio começou a se apossar de mim. Olhei em volta e não havia nada pra segurar a porta. Levantei as mãos e numa tentativa frustrada tentei fazer com que a saída congelasse, mas parece que esse poder precisa de um gatílho.

- Sophie... - falou Demétrio atrás de mim.

Ta aí o gatilho que precisava. Minha raiva havia aumentado em 100% só de olhar pra ele. Concentrei toda a minha mente e força na porta e em um grunhido quase inaudível congelei a porta apenas olhando pra ela.

- Me deixe sair! - gritou Genevieve com ira.
- Sophie... - falou Demetrio novamente me fazendo querer explodir de raiva.
- O QUE? - Gritei.
- Temos que sair daqui... Isso não vai segurae por muito tempo. - saiu me puxando pelo braço.
- Porque confiaria em você? Foi você quem me trouxe pra cá, afinal. - minha cabeça latejava e eu estava concentrada apenas em me soltar dele, mas lutar parecia uma opção nao muito viável. Ele era forte. Dava pra sentir só pela firmeza que segurava meu pulso.

Tentei me soltar dele com todas as forças que tinha, mas não funcionava. De repente senti uma tontura imensa.

- Calma... Vou te explicar tudo. - ele vomitava as palavras rapidamente e nada parecia fazer mais sentido pra mim quando tudo apagou.

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Demorei muito? Não me matem! Espero que curtam... Agora a historia começará a ter os segredos na mesa depois de tanto tempo kkkk Esperl que gostem. Bj bj

A Garota do LagoOnde histórias criam vida. Descubra agora