Capítulo 5

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Quando a música acabou, Lúcia abriu os olhos e levou um pequeno susto ao se deparar com Vincent Brukner encostado na porta. De braços cruzados e a expressão ilegível, com aqueles olhos de um azul tão profundo, observando-a, atentamente, a adolescente se sentiu nervosa diante do homem, que além de ser uma lenda dos maiores e atuais musicais e peças de teatro, ainda por cima, era tão bonito quanto os perfeitos atores de Hollywood.

"Boa tarde e desculpe a invasão, Lúcia." Oh, ele lembrava seu nome apesar de tê-la visto apenas uma vez meses atrás. Surpreendeu-se. "Estou procurando Valentina e a minha filha. Liguei no celular da sua irmã, mas caiu na caixa postal."

"Eu não as vi, senhor Brukner." Nervosa, sentou no banco de madeira para retirar as sapatilhas. "Posso ajudá-lo a procurá-las. Talvez estejam no vestiário feminino."

"Faça os alogamentos antes de encerrar seu treinamento." Diante da reprimenda gentil, Lúcia sentiu as bochechas queimarem. "Você está muito diferente da primeira vez que a vi em um palco, e, não me refiro somente a hoje." Curiosa, ergueu o rosto para olhar para o mais velho. "Quando venho buscar Mary, acabo vendo algumas aulas e, sinceramente, às vezes, parece que você gostaria de apenas provar algo às pessoas ao seu redor. Como se precisasse do reconhecimento e da aprovação dos outros o tempo todo. Você tem talento, mas ele não é suficiente quando se torna uma obrigação. Entregue-se de corpo e alma ao que ama e a cada vez que  cair e se machucar, você se tornará mais forte para se reerguer e recomeçar. O fracasso faz parte de nossas vidas, mas cabe somente a nós colhermos os bons frutos dele."

"Colher os bons frutos do fracasso?" Perguntou confusa.

Como o fracasso poderia lhe trazer algo de bom? Ela não conseguia compreender aquela lógica.

"Papai!" A chegada de Mary e de Valentina atraiu a atenção dos dois.

"Oi, filha!" Vincent pegou a filha no colo e beijou sua testa; seu olhar era de puro carinho para a pequena em seu colo.

"Agora a pouco que vi suas chamadas." Lúcia guardou as sapatilhas de ballet na mochila,  aproveitando que agora a atenção de Vincent estava em Valentina. "Tinha levado Mary para tomar um banho já que a pequena arteira estava cheia de lama."

"O que andou aprontando, mocinha?"

"Foi na hora do intervalo do lanche, papai. Estava caçando um sapinho que vi lá no jardim." A garotinha sorriu toda inocente. "Ia levar pro vovô Diego."

"Se prepara que a sua mãe vai te dar um sermão daqueles."

"Mamãe Andressa fica muito zangada por causa dos homônimos do bebê."

Eles conversaram mais um pouco até se despedirem deixando Lúcia mais aliviada. As palavras de Vincent Brukner ecoando em sua mente não foram tão diferentes das de Valentina semanas antes. Eles tinham mais experiências e não falariam aquelas coisas senão fosse para ajudá-la.

"Está tudo bem?" Lúcia colocou a mochila no ombro direito e forçou um sorriso para Valentina, que a olhava com preocupação.

"Semana de provas e muitas atividades extra-classe."

O que não deixava de ser verdade. Aquela semana estava uma verdadeira tortura na escola.

"Papai é bom com exatas e mamãe com humanas. Se precisar de auxílio não se intimide em pedir, eles nunca negam ajuda aos filhos."

Era tão bom aquela sensação de se sentir querida e amada por uma família tão especial quanto os Parker. Em momento algum eles a tratavam diferente por não ser do mesmo sangue, por não ter nascido em berço de ouro. Kai e Bonnie eram pais amorosos e preocupados; Valentina, de uma sensibilidade e coração de ouro sem tamanho; Isaac com seu jeito meio sério, tinha aquele ar de protetor, passando segurança para as irmãs; Mia era um doce de menina sempre acompanhada de seus inseparáveis gato e cachorro. Todos faziam Lúcia se sentir parte deles, amada de um jeito tão profundo, que só o simples pensamento fazia os olhos arderem e a garganta apertar.

Série Corações Feridos: Em busca do amor (Vol.5)Onde histórias criam vida. Descubra agora