Capítulo 3

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Ao invés de jogar no lixo, a tulipa amarela recebida naquela manhã estava dentro de um pequeno jarro sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama. Era frustrante não ter domínio sobre os próprios pensamentos, quando as imagens do acontecido na noite anterior repassavam em sua mente como um lembrete do que poderia ter sido, caso não tivesse virado o rosto no último instante. Ainda podia sentir o calor e a maciez dos lábios beijando tão perto de sua boca. O perfume de madressilva com um leve aroma amadeirado parecia ter impregnado em seu olfato, assim como aqueles olhos azuis tempestuosos, perseguindo-a até mesmo durante os sonhos.

Frustrada, Lúcia deixou o livro de matemática de lado, pois não conseguiria terminar de responder as questões mesmo se quisesse. Lavou o rosto com água gelada e deu um jeito nos cachos rebeldes dos cabelos, que ainda se encontravam macios por conta da hidratação do salão.

A casa estaria silenciosa caso não fosse por Pongo e Damon Neto brincando com um bonequinho de borracha. Ainda estranhava que os dois se dessem tão bem ao ponto do felino agir como se também fosse um cachorro. Pongo latiu assim que a viu. O rabinho balançando quando Lúcia se abaixou para afagar os pelos claros e macios do cãozinho. Damon Neto por sua vez, miou se esfregando nas pernas dela também pedindo por atenção. Amava animais e aqueles dois tinham um lugar especial na sua vida, já que eram os primeiros bichinhos com quem verdadeiramente tinha contato e eles eram muito carinhosos.

Seguida pelos dois, Lúcia passou pela cozinha e encontrou apenas Cassie preparando o almoço, e a julgar pelo maravilhoso cheiro, não restavam dúvidas que estaria de lamber os dedos como sempre.

"Bom dia!."

"Bom dia, menina Lúcia!" A bondosa senhora de olhos castanhos cumprimentou a mais nova com um beijo no rosto antes de ir até a geladeira e voltar com um grande copo de iogurte natural. "Beba, menina. Está muito magrinha. Um passarinho come mais do que você."

"Eu preciso manter a forma, Cassie. Não posso engordar." Escorada no balcão de mármore, Lúcia brincou com a borda do copo após uma grande golada. "Eu fui uma criança gordinha, senão tiver cuidado, daqui uns dias estarei uma bola novamente."

"Bom dia, garotas!" Uma voz animada cantarolou da porta da cozinha.

Bonnie usava um longo vestido amarelo floral, óculos de grau delicados, assim como ela era. Sem sombra de dúvidas, aquela mulher era uma das mais elegantes e simpáticas que Lúcia conhecia. Nunca a tinha visto tratar ninguém com grosseria ou ficar com a cara fechada, muito menos se achar superior por ser tão rica. Era um exemplo de lady a ser seguido e admirado.

"Estava te procurando, filha." Aquela última palavra ainda fazia um friozinho gostoso no estômago de Lúcia, todas às vezes que era direcionada à ela. "Preciso de ajuda para embalar uns livros ilustrativos que doarei ao hospital de câncer infantil e pensei se você não gostaria de me ajudar."

"Eu posso ajudá-la, sim." Prontificou-se de imediato e bebeu o restante do iogurte. "Eu só vou lavar o copo e já vou."

"Deixe isso aí, menina!" Cassie reclamou sem parar de mexer na panela, mas para Lúcia não custava nada lavar um simples copo e foi isso que fez sob os olhares reprovadores da senhora cozinheira e os risonhos de Bonnie.

Seguiu com Bonnie até a grande sala de paredes claras, com uma grande janela de vidro, permitindo assim, que a claridade do dia tornasse o ambiente ainda mais aconchegante. Ali era uma espécie de escritório, misturado com uma pequena biblioteca cheia de prateleiras brancas com os mais variados estilos literários, além de raros exemplares de livros clássicos, que fariam os amantes da literatura suspirarem, chorarem e até se matarem para tê-los em sua coleção. Lúcia amava ler, principalmente, os livros clássicos de terror de Edgar Allan Poe, Stephen King, Anne Rice e outros grandes autores, que normalmente faziam os fracos corações tremerem de medo.

Série Corações Feridos: Em busca do amor (Vol.5)Onde histórias criam vida. Descubra agora