Capítulo 2

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Passava horas e mais horas de seu dia treinando até a exaustão. As pernas doloridas e os pés machucados eram provas do esforço de Lúcia para se tornar a grande bailarina que sonhava. Não era por status nem nada relacionado a isso, apenas queria mostrar ao mundo o seu valor e o seu talento através da dança. Sabia estar longe da perfeição, mas subiria degrau por degrau até estar no topo, através de seu próprio esforço e mérito, sem jamais pisar em ninguém.

"Mantenha a altura da perna de trabalho durante o rond jambe e puxe o retiré rapidamente, está muito lento." Tentou fazer conforme as orientações de Valentina, que mesmo sendo um doce de pessoa, quando assumia a função de professora, se tornava bastante exigente. "Deixe sua mente livre e concentre-se, Lúcia. Esqueça do mundo lá fora. É somente você e a música. Deixe-a te envolver e melhore sua postura, por favor."

A adolescente respirou profundamente e de olhos fechados, permitiu que finalmente os acordes de Lago dos cisnes de Tchaikovsky fizessem sentido e sua alma se entregasse profundamente ao momento. Dançou como se sua vida dependesse daquilo, como se estivesse em um palco sob os olhares de uma plateia crítica, que decidiria o rumo de sua vida de acordo com a sua interpretação. Executou os passos com extrema mestria e tinha um grande sorriso no rosto suado ao terminar sua performance.

"Então, como fui?" Questionou com a respiração acelerada. Aceitando a garrafinha de água que Valentina estendeu, sentou-se no banco ao lado da irmã.

"Você é muito talentosa, Lúcia. Porém, precisa se soltar mais, ser menos mecânica e criar sua própria personalidade. Os passos podem ser os mesmos, no entanto, cada bailarina que interpretou o papel de Odette ou de qualquer outra personagem em musicais, cada uma delas deixou sua marca única. Uma boa bailarina não é amada apenas por executar passos perfeitos e mirabolantes, ela precisa fazer o público se emocionar, levá-lo para dentro do espetáculo."

Lúcia entendia muito bem sobre o que Valentina estava dizendo e era frustrante ainda não ter encontrado o seu próprio caminho, mesmo com tamanho esforço que fazia dia após dia.

"Então vou treinar mais e mais até atingir a perfeição."

Falou convicta e ia levantar para voltar ao treinamento quando Valentina segurou seu pulso. Lúcia olhou confusa para a mais velha, que sorria docemente com as covinhas das bochechas em evidência.

"Por hoje já chega." Anunciou firme sem deixar espaço para objeções. "Vamos fechar a escola que daqui a pouco o papai vem te buscar e eu vou sair para jantar com o meu marido."

Era engraçado como Valentina suspirava sonhadora, com os olhos brilhando e um sorriso bobo sempre que falava do marido. Apesar de tão jovem, ela era completamente apaixonada pelo lindo moreno, que não escondia de ninguém a devoção pela bela e delicada esposa.

Como de costume, Kai estava na porta da escola conversando com o segurança da noite.

"Como estão as minhas meninas?" Valentina pulou nos braços do pai, enchendo-o de beijos. Era muito bonita a relação de pai e filha; eles possuíam uma cumplicidade sem igual, que fazia Lúcia suspirar cada vez que os via juntos. "Não vai me dar um abraço também, filha?"

Kai não esperou que Lúcia pensasse sobre o assunto e a envolveu em um abraço protetor, beijou a testa da menina que aprendia a cada dia a amar como um de seus filhos de sangue. Lúcia ainda não havia derrubado todas as barreiras, permitindo que Kai e Bonnie ocupassem seu coração como os pais que desejavam ser para ela. Mas os dois eram pacientes o bastante para esperar o dia em que a garota confiaria neles ao ponto de chamá-los de pais.

Já Lúcia, envergonhada, não só por estar suada, como também por receber o carinho de alguém, correspondeu ao abraço do homem mais incrível e respeitador que já havia conhecido. Não sabia como era o abraço de um pai, mas tinha certeza que deveria ter o cheiro amadeirado e o calor protetor de que nada e ninguém poderia lhe fazer qualquer tipo de mal.

Série Corações Feridos: Em busca do amor (Vol.5)Onde histórias criam vida. Descubra agora