He Is More Than A Pretty Boy

Brasil. 01

Algumas pessoas diriam que é impossível abandonar suas coisas para se mudar e começar uma nova vida, mas eu estou amando a ideia. Mamãe decidiu que iríamos para Toronto na próxima semana para que eu pudesse estudar em alguma lugar diferente e inusitado.
Estou bastante ansiosa e nervosa acima de tudo, tenho medo de não conseguir fazer amizades do jeito que penso. A mente é um campo minado.

Nossas passagens estão todas certas assim como passaportes e todo tipo de documentação, vou começar o ensino médio numa escola em que apenas pessoas com grana no bolso poderiam estudar, e como minha mãe é uma grande empresária, roteirista e diretora, os estudos são mais um favor do diretor na escola do que muita grana, apenas vivemos bem com o que temos e o resto doamos.

A parte mais triste vai ser ter que me despedir dos meus amigos, então, ao invés de fazer um encontro e dizer tchau pessoalmente, apenas mandei textos agradecendo. Não gosto de despedidas, prefiro algo que não dure tanto tempo e não me faça chorar.

A semana passa e é sábado de manhã, bem cedo,  ainda tenho algumas horas para me arrumar.
Mamãe me chamou para tomar café, mas escolhi ficar em casa separando todas as coisas que ainda faltavam para guardar, como escova de dente, e roupas íntimas. Quanto mais o tempo passava, mais nervosa ficava. Minhas mãos chegavam a tremer e precisava me distrair.
Conectando o celular na causa de som, me deixei levar ao com da playlist de lo-fi. Abri diretamente no instagram, mais especificamente na página da nova escola. Eles sempre lançam os nomes dos alunos em cada turma já que a maioria são famosos ou filhos de famosos.
O primeiro ano do ensino médio é uma responsabilidade e tanto para minha mãe, então tenho que deliberar meu perímetro para saber em quem chegar perto.
A turma do primeiro ano era tranquila: Filhos de músicos e modelos. O que é interessante por eu ser a única "diferente" da turma.
A do segundo ano já era mais extensa, e foi onde me deparei com dois nomes que me fizeram respirar fundo e quase desmaiar: Aidan Gallagher e sua namorada, Hannah.

Minha mão foi a culpada por eu ter derrubado o celular naquela mesma hora. Após retomar minha consciência, liguei pra minha neguinha, a melhor amiga que posso ter: Alisson.

- Alô? - A voz sonolenta ecoava na outra linha.
- Nega, babado fortíssimo. Advinha quem vai estar no segundo ano na mesma escola que eu?
- Não sei... Um filho secreto do Chris Hemsworth que tenha nossa idade e seja mais bonito que ele?
- Muito engraçada você, mas não seria uma má ideia - Me dispersou por um segundo e voltei a sentir o nervosismo ao contar - Não besta! Aidan Gallagher. Aquele pedaço de céu!
- Nem FODENDO que vai estudar na mesma escola que Aidan Gallagher?!
- Te digo, te mando até print se quiser, louca. A desvantagem é que a namorada dele também vai estar lá.
- A bonitinha da Hannah? Não vai conseguir passar por ela. Ela é o padrãozinho mais perfeito que existe, nega. Você pode levar em consideração o fato de que é bem diferente dessas modelos e atrizes, é toda brasileirinha.
- Se eu conseguir ao menos falar com ele, já tá valendo algo. Mas nega, preciso desligar, te ligo quando chegar lá.
- Promete tirar uma foto dele pra mim?!
- Prometo, tonta - Ria na outra linha soltando um suspiro longo - Vou sentir saudade, beijos neguinha.
- Eu também! Te amo, se cuida nega.

Era difícil demais ter que desligar o celular, ela seria a que mais sentiria saudade, ficar sem ela é um pesadelo sem fim. Espero conseguir me adaptar não só ao local mas a ficar sem ela.
As malas estavam todas prontas, o quarto ficava frio sem minhas coisas, prateleiras sem livros, escrivaninha sem material, armário sem brinquedo... Agora era apenas um lugar gelado, porque todas as emoções estavam dentro de mim.

Apenas duas horas para chegarmos no aeroporto e ainda precisava tomar café da manhã. Seguia para a cozinha vasculhando os armários, mas como por intuito, mamãe tirou tudo por conta da mudança.
Peguei um dinheiro do cofrinho dela e voltei para o quarto trocar de roupa. Arrumei o cabelo, coloquei um cropped preto e uma calça larga de moletom num verde exército, com uma jaqueta jeans da mesma cor, o coturno preto serviu certinho.
Sai de casa mais do que feliz, é como se estivesse pegando toda a energia positiva para levar comigo, notando cada detalhe das ruas.
Após andar alguns quarteirões, cheguei num café simples de conhecidos. Sempre que pisava naquele lugar ouvia o mesmo coral de vozes:

- Bom dia, Maitê.
- Bom dia, desocupados - Respondia rindo como sempre, indo para o balcão - Bom dia, Peters.
- Bom dia, Tetê, vai querer o de sempre?
- Por favor.
- O de sempre - Peters, o atendente, gritava para o pessoal da cozinha.

Olhando para a televisão, haviam trocado de canal, passando um noticiário sobre algo relacionado a uma nova série em que Aidan estaria estrelando, Pete conseguia ver todo meu nervosismo.

- O que foi? - Ele chamou minha atenção entregando meu milk shake de morando com torradas.
- Vou estudar com aquele menino - Apontei para a tela e peguei o copo para tomar um gole da bebida - Estou tão nervosa!
- Você vai se dar bem, menina Tê - Dizia me fazendo virar para ele - E é tão melhor quanto eles.
- Diz isso porque me conhece desde que mamãe estava grávida - Bufei deixando o copo no balcão e pegando as torradas.
- Digo isso porque te conheço melhor do que ninguém, é uma garota com um coração muito grande e leva sangue de brasileiro, apesar de louca é muito gentil e amigável. Não se diminua por um bando de mesquinhos.
- Obrigada, Pete, sempre soube o que dizer para mim - Sorria de forma radiante até terminar de comer e entregar o dinheiro - Prometo trazer uma lembrancinha para você.
- É bom mesmo.

Me levantei indo para trás do balcão, o abraçando forte. Outra pessoa que seria difícil de ficar longe. Sem muita cerimônia, me despedi de todos, e antes de passar pela porta, me chamou novamente.

- Não se esqueça, Maitê: Só te merecem aqueles que te aceitam como é - Pete disse e eu apenas concordei com a cabeça.

Pronta para voltar, me encontrava na frente do prédio e minha mãe estava lá com todas as malas. Ao me ver, apenas veio em minha direção e me abraçou forte, nós duas estávamos dividindo algo muito forte.
As horas se passavam tão rápidas, mal tive tempo de piscar e já estávamos dentro do avião. O voo seria um pouco longo, mas iria valer a pena.

Por mais confuso que seja, o Brasil é um bom país. Vou sentir saudade dos carnavais com os amigos, churrascos e comidas típicas. Acima de tudo, vou sentir bastante falta dos pequenos lugares que já frequentei, sejam bibliotecas, bares, escolas, casas, praças ou igrejas. Um país do tamanho de um continente tão rico em cultura, pena que dá errado, só corrupção, e disso não vou sentir falta.
Vai ser estranho ter que me adaptar àquele país... Apenas sinto que não nasci para aquele lugar, mas se mamãe disse que pode ser bom, eu acredito nela, basta experimentar.

Não era uma viagem curta e agradecia profundamente pela classe econômica ser confortável, mais ainda pelos lanches serem de bom gosto e, ainda por cima, ter opções vegetarianas.
Aquilo era mais um paraíso no céu, um pouco gelado, mas era.
Do meu lado, mamãe já estava confortável, lia revistas que trazia consigo e gostava de ficar o tempo todo perguntando se eu estava bem ou precisava tomar algum remédio.
Conforme as horas passavam, sentia um sono pesado vir, então aproveitei para tirar um cochilo, e em uma desses, sonhei com o Aidan. Era mais um pesadelo sobre ele e Hannah fazendo bullying comigo, o que me deixou mais nervosa ainda é me acordou num pulo.

- Está tudo bem? - Mamãe perguntou colocando a mãe no rosto para checar minha temperatura - Está gelada feito gelo! O que aconteceu?
- Apenas tive um pesadelo ruim, mãe - Passei as mãos no rosto sentindo as mãos suarem frio.
- Não fique nervosa, eles vão te amar - Ela sempre sabia o que dizer para me alegrar - Não vai me dizer que é por causa do ator bonito que está assim?
- Mãe!
- O que é?! Eu sou sua mãe, sei de tudo bobinha
- Sabe de tudo... De tudo e mais o que está escrito no meu diário - Cruzei os braços, mas seu olhar podia derreter qualquer gelo em uma conversa - É por causa dele sim... Ele é muito bonito e super dedicado ao mundo, a ser vegano e tudo mais. Eu sou só mais uma perto dele, sem contar que ele tem namorada.
- Maitê Barbosa Rodriguez, pare de se rebaixar tanto! Você é uma menina maravilhosa, uma das melhores que eu conheço. E aposto que se ele te conhecesse bem, ficaria apaixonado na hora, nem pensaria nessa namorada dele.
- Você diz isso porque é minha mãe... - Digo isso porque te amo e conheço como ninguém.
- Peter disse a mesma coisa para mim hoje, deveriam se casar.
- Pare de falar baboseira garota! Somos apenas amigos, já te disse isso.
- Sei, sei. Vou me lembrar disso na próxima vez que me shippar com alguém.

Passar os momentos com a mamãe era a melhor coisa, sem em divertia tanto e ela tirava toda minha preocupação... O que seria de mim sem essa rainha? Simplesmente nada.

As horas passavam e tudo o que eu queria era chegar logo, apesar das aulas começarem apenas na segunda, sentia o nervosismo de não conseguir me comunicar ou conviver com ninguém. Uma sensação simplesmente terrível.