Capítulo 4

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Julie

Por um momento a única coisa que se escuta no recinto é a música cantada em tom desafinado que vem lá de fora.

David Bowie? Ou Iggy Pop? Não consigo identificar...

— O que está... acontecendo? — Alan pergunta por fim com cara de quem acredita que enlouqueceu.

Ai merda!

Como é que a gente ia sair dessa agora?

Simon está em choque, ainda me segurando e percebo naqueles segundos constrangedores que terei que assumir as rédeas da situação. De novo!

Bem, quando estivesse sóbria teria que ter uma conversa séria com Simon sobre equilíbrio. Parecia que eu estava contribuindo muito mais para aquela relação do que ele.

— Senhor Bennett, eu já falei que não vou chupar seu pau! — grito com minha voz meio grogue. Merda, minha língua está tão pesada, minha cabeça também.

— Que porra, Julie! — Simon agora está mais chocado do que antes e eu pisco. Ou tento.

Caralho, ele é retardado ou o quê? Não entendia que eu estava atuando?

— Cara, você estava assediando a Julie? — Alan dá um passo para dentro, todo nervoso.

Ops. Não sei se foi uma boa ideia inventar que Simon era um chefe assediador.

— Calma aí Felton, não é nada disso!

— Não, eu entendi bem, a Julie está bêbada e vulnerável e você está se aproveitando da situação!

— Gente... espere, vou explicar... — Tento pular da pia para conter os dois homens que começam a se encarar como aqueles lutadores de MMA antes do início da luta. Teria caído de cabeça no chão se Simon não me segurasse a tempo.

— Solte-a! — Alan se aproxima e Simon o empurra com a mão livre.

— Não se aproxime, eu sou o noivo dela, porra! — Simon solta em alto e bom som e de novo os olhos de Alan se arregalam estarrecidos.

— Mas o quê...

— Droga, Simon, a gente não tinha combinado que seria segredo? — reclamo.

Simon não está me escutando.

— Exatamente o que ouviu. Eu sou o noivo secreto da senhorita Harris.

***

Acordo na manhã seguinte em minha cama com uma sensação estranha de que perdi alguma coisa.

Com muito custo consigo me levantar e entrar no chuveiro e até me arrumar sem vomitar, ou cair de novo na cama.

O apartamento está silencioso quando saio pela porta e consigo entrar no primeiro café Nero que encontro e peço um café preto.

E é só quando estou no metrô a caminho de Cannary Wharf que minha cabeça começa a desanuviar e as lembranças da noite anterior voltam a minha mente.

Ai merda. Eu tinha mesmo cantado Like a Virgin?

Espera, o que Simon está fazendo nas minhas lembranças dançando a Macarena?

E de repente minha memória clareia como se alguém tivesse acendido uma luz dentro da minha cabeça e me recordo de tudo. Sim, de Alan nos pegando no flagra e de Simon gritando que era meu noivo.

E acho que devo ter desmaiado depois, pois não conseguia me lembrar de mais nada.

Deus, Simon deve estar muito puto comigo por toda aquela confusão! Se bem que a culpa não é toda minha. Tenho certeza que estava indo bem inventando a historia do CEO assediador e ele não tinha nada que contar a verdade para o Alan.

Um Noivado Nada DiscretoOnde histórias criam vida. Descubra agora