“London calling to the faraway towns
Now war is declared and battle come down
London calling to the underworld
Come out of the cupboard, you boys and girls
London calling, now don’t look at us
Phony Beatlemania has bitten the dust
London calling see we ain’t got no swing”
London Calling – The Clash
Londres
Três anos depois...
Tantas pessoas do mundo fazem essa minha casa ter a cor de todos os lugares. Às vezes me perco por ruas que parecem todas iguais, tão perfeitas, de jardins recortados por flores e tão cheias de casas com tijolos, portas escuras e maçanetas douradas.
Uma simetria de invejar teias de aranha. O fantástico de Londres é que você espera encontrar pessoas iguais, em ternos bem passados, com camisas simétricas.
Logo então, da porta mais certinha e idêntica, sai de casa uma senhora com cabelo azul e monta em sua bicicleta dourada para desfilar no Hyde Park. Isso sempre me fez sorrir para Londres.
Quando vim para Londres é claro que eu sonhava com muitas coisas maravilhosas.
Ninguém sonha em sair de casa e ser atropelado por um ônibus, ficar sem emprego ou ser traído pelo namorado.
Há um ano, nunca sonhei com a cirurgia que tive que fazer no tornozelo. Nada muito grave, uma coisa rápida para corrigir um tipo de calo ósseo que se formou devido à sobrecarga no local.
Na época, minha mãe quase enlouqueceu porque eu tive que diminuir o ritmo de treinos por três meses, mas logo tudo voltou ao normal. Bom, também não sonhava com as tendinites, nem com as joanetes. Porém, isso parecia que vinha no pacote dos sonhos de ser bailarino, então... tentava não dar um valor a dor.
Sempre soube que ela me acompanharia durante a minha profissão. O balé era o espaço da minha alma. Então, se dissesse que nunca sonhei com o que aconteceu comigo, estaria mentindo. É claro que fazia isso, dormindo ou acordado, mas não tinha nenhuma garantia de que aconteceria, algum dia.
Só que aconteceu.
De verdade.
Há um ano faço parte do corpo de balé profissional da Companhia de Ballet de Londres, o principal da cidade e um dos primeiros do mundo!
E agora estava indo para a audição do papel principal da peça, que seria montada dali a alguns meses.
E não era uma audição qualquer, já que fazíamos testes há mais de trinta dias.
Era a parte final. Aquela que definiria quem iria calçar nuvens nos olhos daqueles que nos veriam alcançá-las. Essa era uma frase do Gregory.
O Gregory era meu palco nos dias cinzentos. Mais essencial que sapatilhas novas.
Ele foi o meu melhor amigo desde que cheguei, era meu colega de quarto durante os dois anos na escola e também foi aceito na Companhia de Ballet de Londres há um ano. Eu sei que parece exagero da boa vontade Divina, mas o Gregory ter sido aceito na mesma companhia que eu não era algo tão impossível assim de acontecer, já que era da nossa escola que saíam boa parte dos bailarinos que compunham o corpo profissional da Companhia.
O Greg, não disputava um dos papéis principais junto comigo, mas teria um solo bem legal na peça — ele seria o Rei.
Andei em direção ao local onde aconteceria o teste, lembrando de quando fui convidado para a seleção principal. Naquele dia, o meu amigo olhou para mim e disse com uma fingida gravidade:
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senhor florimundo - johnlock
Fanficum maestro e um bailarino, ambos cheios de traumas e demônios particulares, brigando diariamente. poderiam superar isso tudo? ou em que o maestro é cego, não literalmente. e o bailarino é a luz na sua vida.