bring me to life

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“How can you see into my eyes
like open doors
leading you down into my core
where I’ve become so numb?”

Bring me to life – Evanescence

O avião era enorme e as pessoas acomodavam as malas e tentavam se ajustar entre as cadeiras.

Por que em um avião gigante sobra tão pouco espaço para os corpos dos passageiros?

Ao menos na classe econômica. Para alguém pequeno e flexível, como eu, ok, dava para passar... Mas
para pessoas grandes e tensas... Deus, isso devia ser horrível.

Oh, sim. Desculpe não ter me apresentado. Sou um garoto de cabelos louros, de olhos esverdeados, meio sem vida, vestindo duas calças azuis, um blusão creme de lã, e um casaco enorme! E estou lendo o livro com a história do balé de Nova Iorque e mascando um chiclete como se ele
fosse o bem mais vital do universo.

Eu, John Watson, estou indo a Londres para realizar meu sonho.

Parecia tão maravilhoso que ainda não tinha entendido que era de verdade.

Um mês atrás foi a audição mais importante da minha vida, lembram?

Eu consegui. Era um dos quinze sortudos indo para o Reino Unido.

Até então, Rio de Janeiro, Teresópolis e Belo Horizonte tinham sido as maiores viagens que já tinha
feito. E agora? Nova Iorque e Londres, minha nova casa.

Tinha acabado de passar uma semana em Nova Iorque. Essa visita me deu o direito de participar das aulas e fazer um tour pela cidade, porque fazia parte do prêmio pela conquista da vaga para estudar na escola da Companhia de Ballet de Londres.

Meu telefone tocou e vi no visor que era a minha mãe.

Tinha acabado de falar com ela há dez minutos. Mesmo assim, bufei e atendi.

— Oi.

— Já está dentro do avião? — Revirei os olhos com a sua pergunta.

— Já, mãe.

— Você se lembrou de colocar o agasalho e proteger as pernas com aquela meia de pressão?

OK, eu tenho três anos.

— Sim, é claro que lembrei, mãe — respondi tentando soar um pouco ríspido para que ela parasse.

— E... você conseguiu conhecer alguém nessa semana, aí no balé em Nova Iorque?

Ela já tinha me feito essa pergunta mais de uma vez e eu sabia o que estava por trás dela: controle.

Essa mania insuportável que minha mãe tinha de querer controlar tudo em minha vida e, claro, de julgar
tudo como bom ou ruim. Olhei para o lado e vi o grupo de dez bailarinos que viajavam comigo, eles estavam sentados juntos.

Eu era o único deslocado da turma e aquilo me irritou.

— Você sabe que eu não ligo para isso, vim aqui pelo balé e não para fazer amigos.

Ela ficou quieta. Acho que respondi de forma grosseira. Eu sacudi a cabeça, arrependido.

— Qual o problema que eu não tenha me enturmado ainda? Você acha que não sou capaz nem mesmo de fazer amigos? — murmurei.

Ouvi sua respiração longa do outro lado da linha.

— Ah, que besteira. É isso que você acha de mim, depois de tudo o que fiz e faço por você?

— Não, mãe, eu... me desculpe, tudo ficará bem e... — Parei tentando enxergar as coisas, como sempre fazia em relação a ela: essa era a maneira como ela lidava com as coisas e expressava o amor: cobrando.

senhor florimundo - johnlock Onde histórias criam vida. Descubra agora