Maturidade Espiritual

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MATURIDADE ESPIRITUAL
Um fator comumente esquecido, quando alguns crentes procuram analisar seus
temperamentos, é a obra modificadora e amadurecedora realizada pelo Espírito
Santo. O temperamento está baseado no material ainda tosco com que nascemos.
Desse modo, quanto mais um crente amadurece espiritualmente, mais difícil é o
diagnóstico de seu temperamento básico. Assim, é útil examinarmos o material
ainda bruto, a personalidade, como era antes de o Espírito Santo ter iniciado sua
obra.
Há tempos, quando fui a uma conferência sobre vida familiar e profecia em
uma igreja do Centro-Oeste norte-americano, a pessoa responsável veio me
esperar no aeroporto. Aos 72 anos, ele era o cavalheiro mais educado, bondoso e
cheio do Espírito que eu jamais conhecera. Naquela semana, fui informado de
que ele era presidente de uma das maiores fábricas de móveis do mundo; era,
portanto, um homem excepcionalmente bem-sucedido. E quanto mais coisas eu
descobria a seu respeito, mais admirado ficava. Em geral, homens fleumáticos
não compram uma empresa quase falida em meio a uma depressão econômica
e conseguem fazê-la sair do buraco e prosperar. Isso seria trabalho para um
colérico. Pois em conversa com seus amigos fui descobrindo que esta era sua
história.
Em seus primeiros tempos ele fora um colérico típico, um “comedor de
fogo”, com algumas tendências à melancolia. Trabalhava noite e dia; era
organizado, cheio de iniciativa e conseguia colher resultados onde outros tinham
falhado. Aos trinta e poucos anos, se converteu. Tempos depois, um tanto
acidentalmente, começou a ensinar a Bíblia a um casal recém-convertido. Esse
estudo bíblico logo transformou-se em uma classe, e a seguir foi necessário
estabelecer uma noite especial para as reuniões. Quando vim a conhecê-lo, essas
aulas já eram realizadas três vezes por semana. Hoje, há duas fortes igrejas que
resultaram dessas classes bíblicas. Mas a mudança que se operou nesse homem
foi igualmente maravilhosa. A Palavra de Deus “habita ricamente nele”, e o
Espírito Santo moldou de tal forma suas características coléricas, a ponto de
torná-lo um exemplo bastante atual de um temperamento controlado pelo
Espírito Santo. Ao observarmos com cuidado, notamos suas forças coléricas de
boa organização e habilidade para a promoção, esforço, propósito no trabalho
cristão e otimismo criativo, mesmo aos 72 anos. Faltavam-lhe, entretanto, ira,
amargura, ressentimento, crueldade e outras formas de carnalidade típicas. Esse
homem não conhecia nada a respeito da teoria, mas sabia o que era estar cheio
do Espírito Santo. Não é necessário conhecer os princípios do temperamento para
ser modificado pelo Espírito Santo, mas esses preceitos apontarão os defeitos
mais perigosos de cada personalidade para que possamos apressar o processo de
modificação.
Outro fator a ser considerado quando estiver diagnosticando seu
temperamento é a idade. A maioria dos temperamentos é mais fácil de distinguir
entre os 15 e os 35 anos. Dessa época em diante, suas atitudes em geral se
alternam, a não ser que os hábitos, as experiências ou outras pressões as
acentuem.
A condição física da pessoa também afetará suas expressões de
temperamento. A pressão alta poderá levar um temperamento fleumático a
assumir atitudes de atividade mais intensa do que seria o comum. A pressão
baixa tenderá a tornar um sanguíneo ou colérico menos tenso. Já outras pessoas
possuem estruturas fisiológicas que criam tensões nervosas — e isso certamente
afetará a expressão de suas características.
Por vezes, a educação na infância forma impressões e hábitos que parecem
embotar o temperamento secundário. Libertada dessas inibições pelo Espírito
Santo, a personalidade mostrará uma mudança marcante. Minha esposa, a quem
quero muito, é um exemplo disso.
Ela foi criada em um ambiente bastante severo e, durante os primeiros anos
de nosso casamento, o medo era um fator preponderante em sua vida. Se
naquela época eu tivesse diagnosticado seu temperamento, a teria considerado
70% fleumática e 30% sanguínea. As pessoas que a conheciam consideravam-na
uma jovem suave, meiga e graciosa. Seis anos antes, ela tivera a experiência da
plenitude do Espírito Santo. Desde então, a mudança tem sido surpreendente. Vi
uma pessoa excessivamente retraída transformar-se em uma mulher vibrante,
maravilhosa. Os temores que a prendiam foram afastados, provocando a libertação de impulsos sanguíneos antes reprimidos. Minha esposa, antes tão
tímida, que dizia: “Acho que para mim seria melhor desaparecer do que falar
em público”; ou “É meu marido o orador da família”, tornou-se uma oradora
dinâmica, capaz de magnetizar um auditório. Não é próprio das pessoas
fleumáticas, mas sim das sanguíneas” conseguir isso. Mas, como se fora um
botão de rosa a abrir-se, Deus tomou minha esposa (antes tão fechada, que
passou quatro anos em nossa igreja sem nunca ter sido sequer convidada para
fazer uma palestra para um pequeno grupo da sociedade de senhoras) e agora a
usa em palestras para senhoras em muitas cidades da costa oeste dos Estados
Unidos. A última vez que fui esperá-la no aeroporto, vinda de outro estado,
comentei: “Se isso continuar assim, logo serei conhecido como ‘o marido de
Beverly Lahay e’”.
As palestras são apenas uma das áreas de mudança nesta ex-fleumática-
sanguínea. Velhos amigos que encontram Beverly, hoje dinâmica e desinibida,
quase não acreditam que seja a mesma pessoa. Se eu fosse diagnosticar seu
temperamento neste estágio de sua vida, diria que ela é mais sanguínea do que
fleumática — talvez 55% sanguínea e 45% fleumática. Naturalmente, grande
parte da mudança operada nela reflete a modificação feita pelo Espírito Santo,
mas em parte deve-se também à eliminação de atitudes e hábitos de infância que
inibiam seu temperamento predominante. Sei que essa mudança foi operada pelo
Espírito Santo porque toda modificação tem sido fortemente positiva. Do que
conheço do assunto, percebo que ela não desenvolveu nenhum dos pontos
característicos negativos do sanguíneo.
A vida nos mostra a importância do aprendizado no período da infância.
Depois de levar seu filho à experiência com Cristo, a melhor coisa que você pode
fazer por ele é dar-lhe um ambiente de amor e compreensão, onde tenha
liberdade de agir por si mesmo. Isso não significa licença para fazer coisas
erradas, nem exclui a disciplina, mas requer que os pais não descarreguem sobre
os filhos as próprias frustrações de temperamento, que exercitem o amor, a
compreensão e o autocontrole que vem do Espírito Santo. Toda criança tem de
ser tratada como um indivíduo. Algumas precisam ser disciplinadas severamente
com amor, enquanto outras podem entrar na linha com apenas um olhar mais
sério. Mas os pais devem ser controlados pelo Espírito Santo de uma forma
especial, para que os filhos, aquilo que eles têm de mais precioso, cresçam até
alcançarem todo o potencial de suas habilidades individuais.
Outro fator que pode afetar o comportamento da pessoa, criando uma
impressão errada quanto a seu temperamento natural, é a existência de um
trauma, que pode ter sido provocado por um único acontecimento ou uma série
deles em sua vida. Esses traumas são mais predominantes nas áreas do medo,
causando no indivíduo atitudes de retração e recolhimento. Por exemplo, alguns
indivíduos que normalmente falariam em público, por terem tido uma
experiência traumatizante, sentem-se tolhidos a ponto de nem tentarem. Se uma
criança, por exemplo, tentar representar em uma peça de teatro na escola e for
ridicularizada em vez de elogiada, pode desenvolver uma inibição que perdure a
vida toda. Algumas pessoas, quando se sentem envergonhadas, reagem com
nervosismo, com risadas inadequadas ou alguma forma de comportamento  irregular.
Um menino de oito anos de idade, do tipo sanguíneo, estava com a
personalidade completamente alterada, à beira de um colapso nervoso. Em vez
de ser um garotinho alegre, despreocupado, estava sempre carrancudo. Qualquer
pessoa que o visse nessas condições concluiria que se tratava de uma criança
extremamente melancólica. Na realidade, ele pouco tinha de melancólico no
temperamento. O problema era a vida traumática que levara em casa. Os pais
eram divorciados, mas antes da separação a criança fora testemunha constante
das brigas intermináveis do casal. Isso acabou com todo o seu sentido de
segurança, tão necessário. Quando os pais lançavam sobre o menino suas
frustrações, gritando a cada vez que fazia um barulho ou uma traquinagem que
os desagradassem, ele se recolhia a sua colcha protetora e alimentava suas
mágoas. Tinha poucas esperanças para o garoto quando a mãe e o padrasto o
trouxeram a meu gabinete. Mas depois que eles aceitaram a Cristo e cresceram
na graça dele, cobriram o menino com o amor e a paciência de que ele tão
desesperadamente precisava. Então houve a transformação, que é um
testemunho do poder de Deus. Hoje ele está no último ano do Ensino Médio.
Você jamais desconfiaria que esse jovem cheio de vida foi, aos oito anos, um
garoto fechado e triste. É evidente que o amor de Cristo transbordando dos pais
para os filhos faz uma diferença enorme na maneira como eles se desenvolvem.
É um erro perigoso pensar que determinado tipo de temperamento seja
melhor do que outro, ou que um conjunto de temperamentos seja preferível a
outro. Kant considerava o colérico melhor. Alexander Whyte, pregador, preferia
o sanguíneo-fleumático por ser mais acessível, simpático e, ao mesmo tempo,
controlado. Mas Deus nos criou a todos “para a sua glória”. Não importa quem
somos, todos possuímos pontos positivos e negativos. Quanto mais forem os traços
positivos, mais serão os negativos. Essa é a razão por que as pessoas muito
talentosas frequentemente têm tantos problemas emocionais. Se você tiver traços
positivos de temperamento em um nível médio, os negativos também se
manterão nesse nível. Além disso, pode-se dizer que “o pasto é sempre mais
verde do outro lado do rio”, isto é, as pessoas tendem a querer ser aquilo que não
são. É raro conversar com alguém que esteja satisfeito com a personalidade que
possui, pois todos nós temos consciência de nossas falhas e fraquezas.
Infelizmente, é muito comum exagerarmos nossos defeitos e depreciarmos
nossas qualidades. Essas tendências, com a força do hábito, podem induzir muita
gente a achar que seu temperamento é o menos desejável.
A natureza do temperamento de uma pessoa é mero acidente. Se você aceitou
a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, o Espírito Santo habita em sua vida.
Por intermédio dele, suas fraquezas serão de tal forma modificadas que a pessoa
que Deus quer que você seja se revelará. Os cristãos cheios do Espírito Santo são
exemplos vivos de temperamentos transformados.
Na Bíblia — revelação da vontade de Deus para o homem — lemos relatos da
vida de muitos líderes espirituais. Vários desses personagens são exemplos
clássicos da ação do poder transformador de Deus sobre o temperamento
humano. Nos capítulos seguintes, examinaremos quatro desses homens. Tenha
em mente que a obra modificadora de Deus em cada um deles está também a.   seu alcance. Repetidas vezes Deus disse aos personagens bíblicos: “Eu sou o Deus
de Abraão, Isaque e Jacó...”. Isso significa que seu poder é constante, de uma
geração para outra. No Novo Testamento lemos que o Senhor Jesus:
“... é o mesmo ontem, hoje e para sempre”. O mesmo poder que transformou
homens no Antigo e no Novo Testamento hoje ainda a nossa disposição; por isso,
nos beneficiamos ao ver como Deus os transformou.

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