Desinibido

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DESINIBIDO
Nem todas as ações impetuosas de Pedro foram de efeito negativo. Em diversas ocasiões ele fez ou disse inesperadamente coisas tão maravilhosas que até hoje,
quando lemos os relatos, sentimos nosso coração aquecer. Os sanguíneos têm
essa agradável capacidade. Na hora em que se está mais irritado por causa da
falta de consideração alheia, eles fazem alguma coisa que inspira afeto. Assim
era Pedro. É muito difícil não amar um sanguíneo —, às vezes, apesar dele
mesmo!
Um desses episódios ocorreu nos primeiros dias do ministério de nosso Senhor
(Lc 5:1-11). Uma multidão se aglomerou ao redor de Jesus à beira-mar para
ouvir seus ensinamentos. Ele entrou no barco de Pedro e pediu que o empurrasse
para um pouco mais longe da praia. Terminando a mensagem, Jesus pediu a
Pedro: “Vá para onde as águas são mais fundas, e a todos: Lancem as redes para
a pesca”. Simão, o sanguíneo, em desânimo, respondeu: “Mestre, esforçamo-nos
a noite inteira e não pegamos. Mas, porque és tu quem está dizendo isto, vou
lançar as redes”. Uma das tendências de sua personalidade valeu-lhe bem, pois
os sanguíneos gostam de agradar. Têm prazer em se acomodar às pessoas e
muitas vezes fazem qualquer coisa que possam para não descontentar. “Mas,
porque és tu quem está dizendo isto, vou lançar as redes.” Logo que lançou a
rede, “pegaram tal quantidade de peixes que as redes começaram a rasgar-se
[...] a ponto de começarem a afundar”.
Foi então que Simão, o sanguíneo, fez algo que enternece o coração dos
cristãos. Comovido, sem acanhamento algum, ele “prostrou-se aos pés de Jesus e
disse: Afasta-te de mim, Senhor, retira-te de mim, porque sou homem pecador”.
Essa emoção explícita é típica do sanguíneo. Muitas pessoas julgam que quem
possui esse temperamento é hipócrita ou um tanto falso por ter atitudes
precipitadas em público. Isso não é verdade. Os sanguíneos são muito desinibidos,
com tendência a fazer aquilo que lhes vem à cabeça. Provavelmente a
impulsividade os preocupará mais tarde, mesmo assim é comum vê-los mostrar
seu íntimo com toda sinceridade. Sem dúvida, era esse o caso de Simão, que se
esqueceu de todos os demais e adorou abertamente o Senhor. Essa sinceridade é
evidenciada quando, pouco tempo depois, ele obedeceu ao chamado do Mestre,
deixando suas redes e seguindo-o.
FALANTE
Encontramos outro efeito positivo da língua impulsiva de Pedro em Mateus
16:13-20. Na metade de seu ministério de três anos e meio, nosso Senhor
perguntou aos discípulos quem os homens pensavam que ele fosse.
Responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros,
Jeremias ou um dos profetas”. Então Jesus perguntou: “E vocês [...] quem vocês
dizem que eu sou?”. Instantaneamente, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo”. Esse belo testemunho agradou tanto ao Salvador que este replicou:
“Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne
ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus”. O testemunho de Pedro quanto à
identidade de Jesus foi o mais verdadeiro até aquele momento na vida do Senhor.
Demonstra que já naquele momento Deus estava falando-lhe ao coração. Os sanguíneos têm enorme capacidade de responder com entusiasmo a esse tipo de
motivação; por isso seus espíritos os compelem a andar nos caminhos de Deus
quando permitem que ele lhes fale com regularidade por intermédio de sua
Palavra. Porém, devido ao fato de a mente, bem como as experiências, levar o
coração a sentir, é muito importante que o sanguíneo avalie seus pensamentos.
Duvido que a resposta de Pedro fosse premeditada. Ele não era analítico, mas
ouvira os ensinos insuperáveis de Cristo e tinha visto sua vida singela e santa
durante quase dois anos. Intimamente sabia que esse homem era mais que
humano — era divino. Então, quando a pergunta lhe foi feita, Pedro apenas disse
o que sentia. Somos todos inspirados pela resposta maravilhosa de Simão, o
sanguíneo.
De todos os eventos na vida do apóstolo sanguíneo, meu episódio favorito se
encontra em João 6:66-69. Se esse fosse o único episódio relatado da vida de
Pedro, eu já o amaria tão somente por isso. O Senhor Jesus era divino quando
andou sobre a terra, mas era também genuinamente humano, a ponto de ter
fome, cansaço, entristecer-se, chorar, e ser movido de compaixão. Perto do fim
de seu ministério terreno, João nos relata um desses momentos.
Muitos queriam seguir Jesus a fim de receber os “pães e peixes” e suas curas,
enquanto Jesus queria que as pessoas o adorassem pelo que era (por quem era) e
pela verdade que proferia. Começou então a enfatizar as dificuldades que seus
seguidores encontrariam se realmente o aceitassem e acompanhassem. Isso foi
difícil demais para um grande número de pessoas, pois lemos que “muitos dos
seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo”. Com profunda tristeza, o
Mestre perguntou aos doze: “Vocês também não querem ir?”. Pedro, amável,
impulsivo, quebrou o silêncio com as palavras imortais: “Senhor, para quem
iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo
de Deus” (Jo 6:69). Em quase dois mil anos, homem algum pôde superar essa
declaração clássica.
Sim, Pedro era todo coração. Mas, quando aquele coração estava firmado em
Jesus Cristo, ele se saía muito bem. Por outro lado, quando seu afeto se fixava em
outros ou em si mesmo, ele se saía mal. Esse problema não se limita aos de
temperamento sanguíneo! O sucesso da vida de qualquer cristão é determinado
pela direção do coração. É por isso que o Espírito Santo nos instrui: “Mantenham
o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas” (Cl 3:2).

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⏰ Última atualização: Mar 03, 2019 ⏰

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