Impulsivo

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IMPULSIVO
Quando André levou a Jesus seu irmão sanguíneo, Simão, este parecia bem longe
de se tornar um futuro líder espiritual. Pelo contrário, era apenas um pescador
barulhento, profano e genioso, cujo traço mais evidente era a impulsividade.
Quando agia, fazia-o “de imediato”, como dizem as Escrituras. Quando um
diálogo ia cessando, era ele quem o continuava. Falava pelos cotovelos! Era
chamado “o que fala pelos discípulos”. As palavras: “Então disse Pedro”, são
introdutórias de mais expressões do que a soma total das falas de todos os outros
discípulos.
Quando o Senhor chamou a Pedro em Mateus 4:20, sua pronta reação foi: “No
mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram”. Quando as viagens
de Jesus levaram os discípulos para perto da casa de Pedro, este impulsivamente
convidou a todos para comer e dormir ali, não levando em consideração o fato
de sua sogra estar doente (Mc 1:29-30). Porém, como acontece tantas vezes na
vida de um cristão sanguíneo, o Senhor Jesus se interpôs, curando
milagrosamente a mulher, que passou a ajudar a esposa de Pedro a servir.
O temperamento impetuoso de Pedro é visto com clareza na noite em que
Jesus andou sobre o mar. “Senhor, disse Pedro, se és tu, manda-me ir ao teu
encontro por sobre as águas. Venha, respondeu ele. Então Pedro saiu do barco,
andou sobre as águas e foi na direção de Jesus” (Mt 14:28-29). Quem, a não ser um sanguíneo impulsivo e até um tanto infantil, iria querer deixar a segurança do
barco e andar por cima d’água?
Essa história ilustra também uma tendência comum, porém menos notada.
Apesar de sua valentia e coragem aparentes, em geral o sanguíneo é bastante
medroso. Salta sem olhar, mas logo fica apreensivo quanto às consequências do
salto. Foi exatamente isso o que aconteceu com Pedro. Depois de alguns passos
na água, em vez de olhar para o Senhor, “reparou no vento, ficou com medo e,
começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me’”. E, prontamente, Jesus,
estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: “Homem de pequena fé, por que você
duvidou?” (Mt 14:30-31).
Essa característica do sanguíneo de saltar antes de olhar e depois tremer com
as possíveis consequências mudará quando o Espírito Santo transformar sua vida.
Ele se tornará “pacífico”, terá “domínio próprio” e “esperará no Senhor”, em
vez de correr desesperadamente em todas as direções. Em lugar de tremer,
manterá seus olhos fixos em Cristo e nas circunstâncias em que se encontra.
Quem vê a situação terá suas dúvidas, mas Pedro é um bom exemplo do que se
deve fazer quando dúvidas, ansiedades ou temores tomam conta de você. Ele
clamou “Senhor, salva-me!” e Cristo o salvou.
Não devemos ser demasiadamente severos com a atitude incrédula de Pedro
nessa ocasião. Ao menos ele teve fé a ponto de sair do barco e entrar no mar
impetuoso. Foi mais do que os outros discípulos fizeram, e alguns deles teriam
lucrado se tivessem o espírito mais audacioso.
Uma das explosões de Pedro nos oferece um vislumbre cheio de humor
quanto a seu constante impulso para falar. Na posição de um dos três discípulos
preferidos, Pedro, juntamente com Tiago e João, foi com o Senhor ao monte da
Transfiguração. Jesus “foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o
sol...” A esses três homens foi dado o privilégio de ver a glória divina do Senhor
brilhando por meio de sua humanidade. Então apareceram Moisés e Elias, dois
dos homens mais respeitados da história de Israel, “conversando com Jesus”.
Incontrolavelmente comovido, como nos relata a Bíblia, “Pedro disse a Jesus:
Senhor, é bom estarmos aqui. Se quiseres, farei três tendas: uma para ti, uma
para Moisés e outra para Elias” (Mt 17:1-13).
Sempre que um sanguíneo não sabe o que fazer, ele fala. É certo que romperá
qualquer período de silêncio tenso com palavras, por vezes ditas na hora errada,
desnecessárias ou até mesmo inconvenientes. Esse foi o caso de Pedro. Ninguém
havia perguntado, porém, ele já veio como uma “resposta”. Se houve uma hora
em que se devia manter a boca fechada, essa foi uma delas. Mas Pedro não se
sentiu envergonhado. Ele tinha que dizer algo, então falou inadvertidamente:
“Senhor, é bom estarmos aqui!”. Não é um exemplo clássico? Ali estava ele,
desfrutando o raro privilégio de ver dois homens que haviam morrido cerca de
mil anos antes, e disse: “É bom estarmos aqui”. E isso não bastou. Nosso tagarela
impulsivo prossegue sugerindo que façam três tendas. Não lhe ocorreu que os
espíritos de homens mortos não precisam de tendas, e que permanecer no cume
do monte faria malograr o propósito de nosso Senhor em vir ao mundo. Sei que
as intenções de Pedro eram boas — geralmente o são —, mas nada muda o fato
de que suas ideias impulsivas e impensadas são frequentemente mal dirigidas.
Nessa ocasião, ele estava tão enganado que o Deus Todo-Poderoso falou dos
céus estas palavras: “Este é o meu filho amado de quem me agrado. Ouçam-
no!”. Pedro deveria ter escutado, e não falado (Mt 17:5).
A ilustração mais conhecida da impulsividade de Pedro deu-se no jardim do
Getsêmani. O Senhor Jesus acabara de beber do cálice da nova aliança em seu
sangue e estava pronto a se oferecer em sacrifício pelos pecados do mundo.
Uma multidão armada de espadas e archotes, vinda da parte do sumo sacerdote,
fariseus e oficiais do povo, surgiu para prendê-lo à força. João nos conta que:
“Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a e feriu o servo do sumo sacerdote,
decepando-lhe a orelha direita. (O nome daquele servo era Malco)” (Jo 18:10). É
claro, Pedro era pescador, não esgrimista. Provavelmente apontou para a cabeça
de sua vítima; mas, ou o homem se abaixou, ou Pedro não tinha prática, por isso
só lhe cortou a orelha. Mateus explica a razão da atitude de Pedro quando Jesus
perguntou: “Você acha que eu não posso pedir a meu pai, e ele não colocaria
imediatamente a minha disposição mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53). O
problema de Pedro era que ele não pensava! Os sanguíneos, por natureza, agem,
não pensam. Quando pressionados, têm de fazer alguma coisa.
Essa falta de reflexão causa a perda de ricas bênçãos na vida dos sanguíneos.
Por exemplo, quando Pedro e os demais discípulos lamentavam a morte do
Senhor, algumas mulheres foram dizer-lhes que haviam estado junto à sepultura,
encontrando-a vazia, e viram um anjo que lhes dissera: “Ele não está aqui;
ressuscitou, como havia dito” (Mt 28:6). Como era de esperar, os dois homens
correram para a sepultura. João, sendo mais jovem, chegou antes, mas parou à
entrada do túmulo vazio. Ao chegar, Pedro empurrou o companheiro para passar
a sua frente e correu para dentro do túmulo. Ao contrário de João (que viu a
evidência e creu que Cristo ressuscitara), Pedro saiu triste dali e confuso, pois
suas emoções ofuscaram-lhe a percepção do óbvio, que fizera de João um crente
(Jo 20:9). Somente depois que o Senhor apareceu-lhe pessoalmente foi que se
convenceu de que Jesus tinha realmente ressuscitado.
Outra história encantadora, que nos revela algo da impulsividade de Pedro,
ocorreu no mar da Galileia, depois da ressurreição de Cristo. João relata (Jo 21:1-
11) a decisão de Pedro: “Vou pescar”. Como da outra vez, eles pescaram a noite
toda sem sucesso. Jesus surgiu na praia e mandou que os discípulos lançassem as
redes do outro lado do barco. Obedeceram e, de repente, tinham tantos peixes na
rede que não puderam içá-la. João exclamou: “É o Senhor!”. Quando Pedro
ouviu isso, esqueceu-se dos peixes, pulou na água e nadou até Jesus. Tipicamente
sanguíneo, deixou o trabalho inacabado quando encontrou algo mais atraente
para fazer. Nós elogiamos Pedro por seu amor a Cristo nessa ocasião, mas ele
deixou a tarefa para os outros terminarem, apesar de lhes ajudar quando
chegaram mais perto da praia. Os sanguíneos não são preguiçosos, mas tendem a
pular de uma coisa para outra; têm pouca capacidade de concentração.

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