O ônibus estava cheio de pessoas, e nenhum espaço para sentar. Eu estava cheia de coisas na mão. Cadernos, livros, apostilas do curso, algumas compras do mês e ainda, para piorar, uma mochila cheia de coisas nas minhas costas.
Andei naquele lugar apertado, na esperança de, por um milagre de Deus, ter um lugar vago para mim.
Mas como sempre, sortuda do jeito que sou, óbvio que não tinha. E ninguém se dignava a ceder um banco para mim. Bom, eu não esperava mais dos seres humanos mesmo...
- Senta aqui.
Quando me virei, tinha um garoto lindo de pé, apontando para um lugar vago. Na minha cabeça eu estava, tipo: "meu Deus, existe bondade no mundo". Então, eu sorri, como sinal de agradecimento, e me sentei no tal lugar.
Ele era um príncipe. Uma beleza exuberante e única, um rosto calmo e tranquilo, e ainda por cima uma educação dessas! Ai, eu apaixonei na hora.
- Obrigada mesmo...
- Fazer o que, né? A gente é OBRIGADO a ceder lugar para esse bando de mulher preguiçosa, só porque é falta de educação...
O príncipe se foi. E o sorriso angelical de dois segundos atrás desapareceu, dando lugar a uma expressão de arrogância e cinismo. Que me irritou profundamente.
- O que você disse???
- Aish, além de preguiçosa é surda...
- Olhe aqui, seu idiota. Pois pode descansar essa sua bunda no seu maldito lugar. Não quero a sua forçada educação...
Me levantei, e em seguida, ele se senta novamente no lugar.
- Mal agradecida! Bom, melhor pra mim... Que não vou ficar em pé com peso nas mãos e nas costas...
- Imbecil...
Que idiota que eu sou. Por um segundo achei que o mundo não estava perdido. E realmente, não estava. ESTÁ. E isso não vai mudar. As pessoas são más e sem coração, eu já devia ter aprendido isso. Depois de tudo que passei na vida ainda faço papel de trouxa, em achar que um dia as pessoas vão mudar.
Fiquei com raiva dele o caminho inteiro. Finalmente, dei o sinal e desci do ônibus lotado. Porém, ouvi passos atrás de mim. Quando olhei para trás, lá estava ele. Foi aí que percebi que o uniforme dele era igual ao meu. Ou seja... Ele e eu estudávamos na mesma escola. A vida é bela, não é, minha gente?
Dei um longo suspiro, e percebi que ele ria cinicamente.
- Parece que você e eu estudamos na mesma escola. - Ele disse.
- Infelizmente...
- Que destino cruel ser seu colega...
- Eu que o diga...
Deixei ele falando sozinho e entrei na escola. Lá, me encontrei com Henry, meu melhor amigo desde que tínhamos nascido.
- Bom dia, senhorita de cara fechada...
- Nem vem, Henry, eu tô de saco cheio...
- Ué? De que, logo tão cedo?
- Um imbecil nos ônibus fez hora com minha cara, e ainda me deixou ficar em pé, cheia de bolsas...
- Que idiota!
- Pois é! E eu pior: ele estuda com a gente, na mesma escola.
- SÉRIO? ME MOSTRA! VOU FAZER ESSE PALHAÇO PEDIR DESCULPAS A VOCÊ!
- Não, Henry. Deixa esse cara pra lá! Vamos falar sobre coisas legais! Tipo...
- Tipo a festa para os calouros? Vai ser muito show! Ouvi dizer que vai ter DJ, globo de festa e até bebida alcoólica.
- Tenho certeza de que a parte das bebidas é mentira. O nosso diretor nunca permitiria distribuir bebida para menores.
- Verdade... Mas mesmo assim! Vai ser muito legal! Todo mundo vai estar lá, a gente pode dar sorte de pegar alguém!
- Pegar alguém? Há. Duvido que eu consigo. Com essa cara? Nem morta...
- Ah, para, Laura, você é linda e incrível! Todo mundo vai querer te pegar na festa...
- Até parece...
O sinal para o início da aula bateu, e aquele mundaréu de adolescentes formaram um mar de pessoas, amontoando-se com o objetivo de entrar em suas respectivas salas. Eu que não iria me enfiar naquela multidão.
- Espera essa multidão passar...
O pessoal parou de surgir, então eu e Henry seguimos até a nossa sala. Chegando lá, tive a infeliz surpresa de me deparar com aquele príncipe insuportável.
- Tá brincando, né? - eu disse alto.
- Acha que eu me agrado com isso? - ele disse arrogante.
- Ah, esse é o cara... - Henry disse.
- Olha que casal lindo. Dois idiotas! Perfeitos um para o outro!
- Ora, seu... - seguro o braço de Henry, impedindo que o mesmo começasse uma briga.
- Deixa ele pra lá, Henry. Vamos...
- Porque você não pega a sua namorada idiota e vocês dois sentam bem longe de mim?
- É o que iremos fazer! Quero você bem longe dela!
- Farei o possível...
- Henry, vamos!!
Eu e Henry nos sentamos na segunda fileira, de trás pra frente. Gostávamos daqueles lugares porque lá era quentinho e escuro, ou seja, bem aconchegante.
E assim, a aula começou.
