Seco no olhar

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Perco a forma
por dentro
água e fogo
cubos e círculos
Se completam
Espalho no chão
Minhas quinquilharias,
Meus sonhos e ambições
Admiráveis coisas pequeninas
burburinhos
Maiores
que a rua lá fora
Maiores
que o barulho aqui dentro
e os pesadelos já não dormem
mais.
Numa letargia agitada, num desconforto estático e manso
O Tempo não exatamente existe agora
E, assim mesmo,
Escraviza;
Grita, ruge,
Me acordando para mais um dia
De olhos que nunca se fecham
Vozes que não dizem nada,
Inexpressivo, silencioso,
Cortes brancos e limpos,
Claros e indubitáveis.
As ruas cheias, pra lá e pra cá
A verdadeira onipresença
Juiz e Juízo
Tão aclamado juízo,
tão aclamado controle
faz crescer a barba, esbranquiçar os cabelos, cair os seios,
Começar a hora
acabar o dia
acabar a vida
Começar as noites
In-ter-mi-ná-veis...
E se tudo o que eu tenho
é sanidade
E todo o meu desejo
É ter o direito de não ter
Se tudo o que eu posso
É ficar por cima
Toda minha vontade
Será
lançar-me ao espaço e ver
o alto-baixo e o pequeno-grande,
o bonito que é feio e a luz da escuridão,
e a claridade do sol
Batendo à janela dos olhos
quando meu quarto renasce
e irradia
a subjetividade bonita
De um poema ruim.

Poemas de GuardanapoWhere stories live. Discover now