17. Impossivel

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Imersa em uma deleitável inconsciência. Superficialmente, nada me machuca, preocupa ou agoniza. Sonhos perpassam pelos meus olhos, mas nada de tão nítido ou apavorante. Bem no fundo sinto a consciência, que aparenta emergir. Ouço um som ritmado. Assim, com um usual solavanco sento-me abruptamente na cama. O telefone. Um pouco desnorteada pelo sono, entretanto determinada a chegar ao meu objetivo, desço escada abaixo, contorno o sofá de qualquer jeito, acertando, dolorosamente, meu dedinho do pé na mesinha de apoio, a dor livra-me de qualquer névoa sonolenta, enchendo minha boca de xingamentos.

- Alô. – Falo tentando controlar minha voz.

- Está tudo bem, senhorita Everdeen? – Não acredito que eu quase distendo meu dedo, por causa do dr. Aurélius. Minha raiva se canaliza para outro objeto: meu maldito psiquiatra.

- O que o senhor acha? – Pergunto incutindo a mais enraizada ironia em minha voz.

- Não estaria lhe perguntando se soubesse. Todavia, em se tratando de você e todo o seu histórico, suponho que não estamos tendo muito progresso com o seu tratamento. Fato este que, provavelmente, deve ter se intensificado com a ausência do sr. Mallark por exatos 33 dias.

- Você acha mesmo? – Respondo, ainda sem conseguir conter o sarcasmo. – Nossa, com toda essa inteligência, pudera o senhor ter se tornado um médico!

- Katniss, por favor. Seriedade. Estou ligando para tratar de um assunto delicado. – A questão é a seguinte, se tem uma pessoa que nunca munda o modo de falar, desde os primórdios da existência da terra, é o dr. Aurélius, então no momento em que ele profere esta frase, sinto que algo extremamente sério aconteceu e, com certeza, algo envolvendo meu Peeta. – Como você deve estar supondo, trata-se de Peeta. Bem, ele estava colossalmente agitado noite passada, repetindo a todo instante voltar para o Distrito 12, que ele não podia ficar mais ali.

- O que aconteceu com o Peeta?! Por que o senhor não o libera logo? - Pergunto quase gritando ao fone.

- Ele estava em tratamento, não podíamos liberá-lo simplesmente. Eu repetia isso ao Peeta, mas ele estava incontrolável, por várias vezes tivemos que sedá-lo. O ponto é que tenho que conversar com você. Tenho que lhe pedir um favor, você estaria disposta a me ajudar? Quer dizer, ajudar Peeta?

- O que aconteceu com ele? – Falo quase que inaudivelmente. O dr. Aurélius suspira pesadamente de cansaço.

- Katniss, Peeta não estava no seu quarto do hospital essa manhã. Nem no hotel, em canto nenhum. Ele não está na Capital.

- VOCÊS PERDERAM O PEETA?? – Dessa vez, eu berro.

- Primeiro, se acalme. De nada adiantará os desesperos. E segundo, nós não perdemos o Peeta, ele apenas não está em nenhum lugar na Capital, o que nos remete a supor que ele deve ter voltado para o Distrito 12, até você. – O dr. Brilhante responde. – O problema é que ele não terminou seus exames, é imprescindível a conclusão. Pode ter certeza que o Peeta é tão importante para nós quanto é para você.

Neste momento uma epifania me ocorre. Peeta não foi apenas fazer um exame por conta da sua saúde, Peeta foi para Capital como uma cobaia. Uma experimentação psicológica. "É tão importante para nós". Aquele familiar sentimento de pavor se apodera de mim. Olho, instintamente, ao redor, a procura de uma eventual ameaça.

- Katniss, você ainda está na linha? – O dr. Aurélius pergunta algumas vezes.

- Sim. – Respondo o mais firme possível.

- Ótimo. Então, preste atenção no que eu vou lhe dizer. É de extrema importância que o Peeta retome aos exames, ele estava quase concluindo. Precisamos da sua ajuda. Uma equipe qualificada da segurança foi requisitada para fazer a busca. Esperamos que ele seja logo encontrado. Entretanto, por mais que o esquadrão esteja procurando-o, acreditamos que ele vai voltar para você.

Jogos Vorazes: O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora