Episódio dois: Vidente

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TAEHYUNG

2 ANOS ANTES

Geralmente, em quase todos os momentos da minha vida, eu me esquecia do ponto onde comecei. Eu não lembrava do meu primeiro dia em Seul. Não lembrava exatamente qual foi dia em que o olheiro de uma agência disse que eu tinha talento, baseado em droga nenhuma, eu estava literalmente parado limpando uma vitrine - e disso eu lembro porque eu odiava trabalhar na loja de conveniências do pai da JiSoo e Seokjin-hyung - e também não lembrava dos períodos de treinos até debutar. Eu nunca achei que iria dar certo, a lembrança dos meus pais chorando pelo meu destino terrível quando a vovó me contou a primeira vez sobre a maldição sempre esteve muito mais presente.

Eu podia dizer que tive sorte. Talvez fosse mesmo. O que importava no fim das contas era que agora eu era um idol popular - poucos solistas alcançaram tanta coisa quanto eu na indústria -, então toda a história maluca sobre maldição parecia só mais uma coisa que eu também esqueceria, assim como esqueci de todo o resto até aquele momento. Eu estava acima disso. Pelo menos foi o que pensei por muito tempo...

Mas infelizmente os velhos fantasmas sempre voltam pra me assombrar.

— Ter dinheiro às vezes não parece... frustrante? Eu me sinto limitado — JiSoo me olhou enquanto a gente caminhava pelo shopping, faltava pouco para meu período de "férias" finalizar e não tinha muito o que fazer então acabei saindo cheio de sacolas de um shopping caro no centro da cidade. Eu não teria outra oportunidade quando o próximo comeback saísse, de qualquer forma. Havia momentos que eu passava meses sem sair de casa para além de programas de TV.

— Nossa, realmente. Você deve ficar tão triste e limitante comprar tanta coisa dessas marcas caras e feias — ouvi-a resmungar. JiSoo-noona odiava roupas de marca por alimentar uma indústria consumista e superficial ou qualquer coisa do tipo, eu nunca prestava atenção quando ela falava essas coisas.

— Eu não posso aparecer mal vestido, noona. O que minhas fãs vão pensar?

— Não vão pensar nada, elas te achariam bonito até vestido com sacos de lixo, e eu já vi saco de lixo mais bonito que essas porcarias da Gucci.

— Também não é assim. E minhas fãs tem bom gosto, assim como eu. — disse, com uma nota de orgulho — Toma, segura aqui — entreguei meu copo de milkshake não finalizado e tirei meu celular do bolso para verificar algumas mensagens que eram basicamente Seokjin reclamando de termos saído sem avisar e uma de Hoseok avisando do primeiro ensaio do comeback. Por enquanto o dia estava tranquilo, nada de alvoroço, nenhum maluco mascarado com uma câmera tentando descobrir se eu tenho uma namorada escondida ou uma mulher e três filhos... Tudo muito bem.

— É fim do mês, Tae. Podia mandar algum dinheiro pra sua mãe — ela me devolveu o copo.

— Já conversamos sobre isso, você sabe como ela é — claro que me sentia culpado por não ajudar minha mãe o suficiente, apenas meus irmãos mais novos aceitavam meus presentes e depois de muita insistência, meu pai permitiu que eu pagasse o cursinho do meu irmão do meio para que ele entrasse na Yonsei, mas o que podia fazer se meus pais - especialmente minha mãe - tinham que ser tão difíceis? Todos os cheques eram devolvidos, e os depósitos sempre voltavam em cartas para o escritório da empresa.

— Então, sei lá... doar pra alguma instituição de caridade. Já pensou nisso? Você já é famoso e estupidamente rico. Fazer coisas boas, atrai coisas boas — o comentário dela me fez parar de caminhar, a olhando bem.

— Tá tentando dizer que eu devo ajudar pessoas querendo algo em troca? — perguntei. Isso soava tão... ridículo! Não acreditava no que ela tinha acabado de dizer.

—Não! — ela defendeu, coçando a franja num gesto irritado que não tinha muito haver com o cabelo — Olha, o que eu quero dizer é... bom, você é meu melhor amigo e eu sei que você não é uma pessoa ruim.

Lucky: e o Coelho da SorteOnde histórias criam vida. Descubra agora