Duas folhas

459 99 59
                                    

Marília achou o gesto fofo e cavalheiresco

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Marília achou o gesto fofo e cavalheiresco. E começou a analisar melhor o seu salvador, seu cavaleiro da armadura acolchoada, com isolamento térmico, em seu cavalo branco, ou melhor, em seu sky train. Ele deveria ter uns 24 anos, portanto uns 4 a mais que ela. Tinha olhos castanhos e um olhar de cachorro sem dono. Usava um cabelo diferente, com uma espécie de topete, como era moda entre os jovens canadenses. O corte de cabelo lhe conferia personalidade, mas, na opinião da Marília, diminuía seus atrativos. Sim, aquele corte era muito esquisito, lembrava uma lhama moicana. O rapaz era alto e parecia ser esbelto em baixo de todas aquelas camadas de roupas e o casaco pesado. Nada mal, pensou ela já com outras intenções. Hora de fazer mais especulações.

Sean estava achando bonita e engraçada a estrangeira que ele resgatou na estação do sky train. Lá, ele havia reparado como ela estava agitada procurando algo e falando em uma língua que ele pensou ser espanhol. A garota de cabelos castanhos compridos, na verdade, falava português e era de um país que ele mal sabia onde ficava. Só sabia que tinha futebol, Carnaval e... mulheres seminuas. Mas essa estava vestida demais.

Ele reparou que ela era bonita, mas era muito magrinha e franzina, não se parecia em nada com aquelas brasileiras voluptuosas dos anúncios turísticos. Ela sorria de forma tímida em agradecimento ao seu auxílio. Descobriu que ela era caloura na mesma faculdade que ele. Observou que as mãos dela ainda se agitavam. Sinal de que ela ainda estava apreensiva com a situação. Mas suas mãos, nuas, também se esfregavam na tentativa de se aquecerem. Ora, quem seria ele se não oferecesse suas luvas para a formosa dama?

— Tome, use minhas luvas. — disse ele, descalçando-as e apresentando-as em oferta.

— Não precisa, obrigada. Não quero que fique sem suas luvas. — disse ela dispensando sua gentileza.

— Faremos assim: fique com uma, que eu fico com a outra. Cada um terá uma mão protegida e a outra poderá ficar no bolso.

Ela assentiu quando reparou no sorriso maroto que lhe dispensou junto com a nova proposta. Ele fora charmoso e esperto em seu convencimento.

Marília resolveu especular mais sobre o rapaz. Como seriam seus músculos embaixo daquela montoeira de roupas. O jeito era fazer uma dedução sobre os fatos que pudesse apurar.

— Você pratica esportes? — perguntou ela como quem não quer nada. Ela podia ser avoada, mas não era boba.

— Gosto de hóquei e de esquiar. E você? — ele devolveu. Também não era bobo.

Marília, pega de surpresa com o rebote, tentou se imaginar praticando algum esporte radical como esquiar... Lembrou-se da tentativa frustrada que fizera na Alemanha durante um intercâmbio há dois anos... só conseguira escorregar pela neve alguns metros com as pernas em forma de alicate. Será que "skibunda" nas praias brasileiras serviria?

— Fui da equipe de vôlei no ensino médio, no high school. Mas passava mais tempo no banco de reservas. — Lasqueira, o tiro saiu pela culatra, concluiu Marília. Ela sabia que aquela resposta daria uma clara noção do quanto não amava praticar esportes ou qualquer outra atividade física. Ela tinha consciência que, certamente, perdera pontos.

Marília soube ainda que o Sean gostava de acampar e caçar. Ela o imaginou correndo pelas florestas nevadas com um rifle na mão, perseguindo algum animal chifrudo. Ela estava ficando apavorada. Mesmo que a imagem tivesse uma aura máscula e sexy, era também muito selvagem e impiedosa. "Af"! Deveria haver algo de que ambos gostassem.

O rapaz, por sua vez, estava orgulhoso e feliz de poder se gabar das suas façanhas. Tinha interesse em cativar a brasileirinha bonitinha avoada que jogava vôlei muito mal. "Ops"! Deu-se conta de que algo estava fora do eixo. Por que ele estava achando fofo os defeitos dela?

Sean estava empenhado em criar algum vínculo com sua dama em apuros. Se o esporte não seria um elo entre eles, ele precisaria encontrar outros pontos em comum. Não precisou pensar demais. Havia algo de aceitação universal:

— Gosta de comida italiana? Tenho ascendência italiana e adoro pastas. — Bingo! O desconforto da sua dama deu lugar a um sorriso mais descontraído, quase aliviado.

— Eu também adoro! Quais as suas preferidas? — Ela deu corda.

E assim, seguiram conversando até a separação inevitável quando o sky train se aproximou da estação onde ele desceria. No entanto, Sean já havia bolado um plano para encontrar a garota brasileira novamente.

— Fique com a luva e me entregue na faculdade. Que horas você tem aula amanhã?

— Tenho uma às 10h e outra às 13h.

— Que tal às 12h na lanchonete? — combinou ele pensando que poderia conciliar seu horário na universidade e o trabalho que exercia na empresa do pai.

E assim se separaram com a perspectiva de um novo encontro.

E a carteira da Marília? Sobre a carteira desaparecida, por orientação do Sean, Marília enviou um e-mail à administração do sky train, informando a perda e o seu conteúdo. Surpreendeu-se quando recebeu uma resposta com a informação de que fora encontrada com todo o seu conteúdo: cada centavo de dólar. 

Ao abrir sua carteira, depois de buscá-la noendereço indicado pela companhia do trem, encontrou uma folha de boldo que alise infiltrara, provavelmente, quando caiu. Segundafolha da sorte.





Espero que estejam gostando da Marília e do Sean. O que estão achando da estratégia de abordagem do Sean?

Help: uma moça em apuros (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora