Num dia de inverno em Vancouver, uma jovem brasileira, distraída e avoada, perde sua carteira numa estação de sky train. Uma dama em perigo.
Um canadense, que sequer sabe onde fica o Brasil, resgata a jovem desastrada. Um herói salvador.
Essa não é...
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Sean e Marília passaram a se encontrar, primeiramente, na universidade. Então, começaram os passeios por pontos turísticos. Foram esquiar na Grouse Moutain, embora somente Sean realmente o tenha feito. Marília apenas passeou no que ela denominou de trenó de Papai Noel, puxado por um pequeno trator. Também foram passear na ponte suspensa de Capilano e caminhar nas praias de English Bay e Katisilano. Houve também, como não poderia faltar, várias incursões às cantinas italianas, onde reinava o consenso gastronômico.
O jovem canadense queria mostrar o que havia de melhor e mais interessante em sua cidade para a brasileirinha distraída. Marília também estava se enturmando com outros canadenses e foram juntos com a galera a um show de música eletrônica. Divertiram-se até de madrugada em danças frenéticas temperadas com pequenos agarramentos insinuantes.
Enquanto o canadense mostrava os atributos da sua cidade, Marília contava sobre a cultura, as belas paisagens e o que havia de melhor no Brasil: o povo alegre e amistoso.
Em um dia em que a camada de neve estava mais espessa, até construíram juntos um horrível boneco de neve. Quem diria que juntar um monte de neve e moldá-la seria tão difícil? O tal boneco não manteve qualquer proporção ou verossimilhança com aqueles dos enfeites natalinos. Era disforme e seus olhos ficaram em alturas diferentes. Na cabeça, ganhou um cone de trânsito alaranjado. O boneco caolho, que apelidaram de Jo Nesbo, em referência ao livro do autor, ficou um tanto assustador, era um verdadeiro quasímodo. Talvez fosse útil como espantalho em alguma plantação.
Os dias dos encontros inocentes ficaram para trás e começaram a se transformar. Os passeios de mãos dadas deram lugar aos beijos calorosos e aos amassos afoitos. Estava na hora de começar a efetivar as coisas, pensavam ambos.
Ele estava muito interessado em conhecer o "tempero" da América do Sul e vinha assediando a namorada com pegadas mais firmes e abusadas. Ela, já permitia certas indecências em lugares mais escondidos nas festas ou nos parques. Às vezes, ela mesma tomava a iniciativa para um rela-rela.
Sean já havia mencionado, para o pai, a garota brasileira com quem vinha saindo. O pai, muito influenciado pelos estereótipos, alertou o filho sobre as mulheres, imigrantes de países menos desenvolvidos, que enredavam homens canadenses em busca de vistos permanentes, seja pelo casamento ou pela maternidade. Ele ficou indignado com a insinuação do pai de que Marília tinha planos dessa natureza. Mas, de toda forma, os cuidados básicos são necessários por diversas razões e ele os tomaria.
Marília, por sua vez, sentia o fogo aumentar entre eles e lembrou-se da constrangedora nécessaire que sua mãe preparara para ela antes do embarque. Mesmo ela alegando que não queria e que "podia deixar" que ela ia se cuidar, sua mãe, sorrateiramente, enfiou em sua mala um "kit de primeiros socorros". Não sendo uma pessoa nada comedida e de nenhum bom senso, sua mãe fizera um super combo com várias camisinhas — de vários modelos, marcas, cores e sabores —, pílulas do dia seguinte e o contraceptivo receitado pela médica da própria intrometida.
Af! Sua mãe era muito invasiva e descarada. Ela chegara e entrar em detalhes e alertá-la de que certos rapazes insistiam em não se protegerem por acharem "mais gostoso", mas que ela mantivesse em mente que nada gostoso seria voltar para o Brasil "buchuda" e sem diploma ou, pior, com alguma doença grave.
Marília lembrou-se dos conselhos óbvios sobre os cartões e o dinheiro, que ela havia negligenciado, e teve medo da famosa "praga de mãe". Melhor seguir à risca toda a teoria sobre o assunto porque, se algo desse errado, não se trataria apenas de solicitar novos cartões de crédito.
Pensava sobre isso quando voltava para casa depois da aula. Tinha o hábito de chutar pequenos torrões de neve que encontrava na calçada. Ao fazê-lo com um deles, viu uma folha de bordo levantar-se no ar, plainar e pousar em seu sapato. Terceira folha da sorte.
O que vocês acharam do Kit que a mãe da Marília preparou pra ela?
