O passado nos persegue (cap 9)

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Via seu amado entrar pela porta de entrada da lanchonete. Pensava longe, imaginando ele entrar assim na igreja vestindo um lindo terno. 'Olha as coisas que você está pensando, Josh.' Discutia consigo mesmo ao ver Tyler andar praticamente como um modelo.

"Vamos direto ao ponto. Você." Disse se sentando na frente de Josh. "Eu não tenho boa lembrança daqui." Ri sozinho.

"Oi pra você, Tyler." Passou as mãos no cabelo tentando arrumá-lo. Não queria parecer estranho na frente dele.

"Você precisa dá um jeito nesse cabelo. Esse cabelo emo ainda me intriga. Vai saber se a qualquer momento você queira enfiar uma gilete no pulso." Faz uma piada pesada e não vê o sorriso no rosto do outro.

"Para Tyler, meu cabelo não é de emo. É só um pouco diferente." Passa a mão nos fios que saiam do lugar.

"E você para de debochar de quem se corta, Tyler. Essas pessoas sofreram pra estar fazendo o que faz." Justifica.

"Eu já passei por tantas perrengues, Josh. Mas nem por isso eu peguei uma navalha na mão na intenção de me perfurar. As pessoas tem que entender que temos que nos manter vivos mesmo que passamos por coisas ruins. Estamos quebrados por dentro mas a morte não é a melhor opção, a não ser que ela deixa de ser uma opção pra virar uma necessidade."

"Nossa que lição de moral." Josh olhou pro lado vendo a garçonete, que por sinal é muito bonita.

"Achei que você era gay." Tyler tira Josh dos pensamentos. "Tem mais alguma coisa sobre você que eu ainda não sei?"

'Tem muitas'. Ele pensou em responder

"Vai me rotular agora, Tyler?" Da um sorriso de lado. "Eu sou bissexual. Achei que você já tinha notado."

"Notado? Eu nunca vi você beijando outro alguém além de...mim." Suspira forte. "Eu não sei de nada sobre você. Afinal eu te conheço há uma semana, Josh."

"Por isso estamos aqui, pra falarmos de cada um."

"Então isso é meio que um encontro?"

"Talvez. Mas normalmente nos encontros as pessoas se beijam." Josh pisca pro mais novo fazendo um biquinho de lado.

"Mas não somos pessoas. Somos aliens." Eles gargalham.

Houve um silêncio entre os dois. O barulho de pessoas conversando, fingindo que levar uma vida maravilhosa. Crianças correndo sem ao menos pensar nas responsabilidades da vida, talheres batendo contra alguns pratos, algumas sirenes de ambulância zoavam nos ouvidos dos dois. Talvez alguém aqui perto esteja precisando de um médico. Afinal quem é que nunca precisa de um médico? Sempre tem algum momento na nossa vida que vamos parar numa ambulância ou talvez um túmulo.

"Agora me diga tudo sobre você, Josh Dun." Disse cruzando os braços encarando a barba mal feita de Josh.

"Posso contar uma história antes diss.." Os dedos de Tyler encontram com os lábios de Dun na intenção de calar. "Não muda a direção da conversa, Sr. Dun."

"Tudo bem." Suspira. "Bom, tudo começou quando nasci. Obviamente." Tyler olhava concentrado pra Josh.

"Tyler..." Josh desperta Tyler do seu inconsciente.

"Diga?"

Josh pega nas mãos frias de Tyler o puxando pra sair do estabelecimento.

"Vamos até o parque. Me sinto melhor em poder conversar com você no silêncio."

A neve lá fora caia com pouca intensidade mas era possível ver o chão quase completo de branco.

Enquanto andavam até chegarem no parque mais próximo, os dois conversavam sobre coisas aleatórias para poderem se distrair.

"Aqui estamos nós." Tyler se senta no balanço um pouco sujo de neve.

"Onde nós paramos?" Se senta no balanço ao lado.

"Acho que você iria revelar algum segredo cabuloso sobre você." Riram olhando fixamente para os lábios de ambos.

Josh agora estava com um semblante sério. O sorriso se desmanchou de seu rosto.

"Minha mãe morreu quando eu era criança." Disse Josh fitando o chão. "Na verdade, ela foi assassinada cruelmente."

Tyler abriu a boca sem reação.

"Meus pêsames, Josh. Isso deve ter sido difícil pra você."

"Tudo bem, Ty." Sorriu singelamente.

"Continua meu bem, se quiser ok? Eu não quero te forçar a falar nada."

"Eu quero que você saiba. Afinal você é a unica pessoa que eu posso confiar agora." Suspira.

"Bom, continuando... Eu encontrei ela morta no chão do quarto enquanto via meus irmãos pequenos chorando. E sabe quem foi o responsável pela morte dela? Meu próprio pai, meu sangue.

Tyler olhava para o rosto angustiado de Dun.

"...ele tinha fugido da cidade minutos depois de ter a matado cruelmente. Eu fui separado dos meus irmãos dias depois. Fomos levados para orfanatos distintos. Nunca mais os vi até quando eu completei 12 anos quando uma moça gentil me adotou. Uma boa moça, com um coração de ouro e otimista. Ela me criou sozinha, não teve ajuda de ninguém. Ela me ensinou o que era certo e errado. Me dizia que eu poderia ser tudo o que eu quisesse se eu acreditasse que poderia ser. Aos poucos eu pude encontrar com meus irmãos que vivam em casas diferentes com 'pais diferentes'. Mas aos meus 14 anos minha rebeldia se acomodou. Eu queria saber sobre meu passado sobre meu pai e o por que dele ter feito o que fez." Lágrimas caíam do rosto de Dun, ele parou de falar por alguns segundos mas ainda tinha muita coisa pra dizer. "Ty, eu estava sedento em procurar por aquele homem. E depois de tantas buscas eu o encontrei. Ele se chamava William mas depois que fugiu precisou mudar seu nome pra Jack. Mas não acaba ai. Eu fui atrás dele em outra cidade. Descobri que ele era um assassino de aluguel, matava pessoas por dinheiro. Quando encontrei com ele estava prestes a fazer algo contra sua vida mas pelo meu azar ele não se rendeu e por algum motivo ele me convenceu a passar alguns dias ao seu lado. Eu o via matar pessoas com crueldade nos olhos. Não reconheci aquele homem e assim voltei pra casa. Era tão esperto e calculista que descobriu onde eu e minha mãe adotiva morava e nos chantageava. Tivemos que mudar daquela cidade imediatamente e voltar pra minha cidade natal, onde tudo aconteceu." Quando terminou sua fala, Josh já chorava muito.

"Eu não sei o que dizer, Josh. Isso é horrivel."

"Não precisa dizer nada, Ty. Eu só queria que você me abraçasse agora e nunca mais solte."

Seus corpos se juntaram a um abraço reconfortante. A cabeça dos dois estavam longe. Cada um com seus problemas do passado.

"Eu amo você." Soltou um ar de dor dos seus pulmões.

Os lábios secos de Tyler encostou nas bochechas frias de Dun.

"Eu também te amo, Josh."

Seus olhos estavam vermelhos. Ambos choravam.

"Está muito frio. Vamos embora." Disse Tyler pegando seu companheiro pela mão.

Josh se sentia aliviado e leve. Tyler ainda digeria toda aquela informação. Os dois estavam com a mente bagunçada, mas sabiam de uma coisa: eles se amam de verdade.

When The Light Goes Out (Joshler)Onde histórias criam vida. Descubra agora