As revelações

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Marinette encarava as luzes da cidade em sua varanda, pensativa. Ainda não acreditava que realmente tinha colocado os poemas no armário de Adrien e, o que era pior, ele sabia disso. Quando sentia o medo e arrependimento a invadir, a azulada tentava pensar que o pior não tinha acontecido. "Tikki conseguiu recuperar a carta em que revelei minha identidade, está tudo bem", dizia para si mesma encarando o papel em suas mãos. Mas percebia que aquilo não bastava quando sentia seu coração acelerar imaginando o loiro lendo as outras duas declarações de amor. Percebendo que a amiga parecia preocupada, a kwami se aproximou. Não tinham conversado desde que saíram do colégio.

— Você está bem? — Perguntou Tikki, mas a menina continuou encarando a noite parisiense.

— Sei que eu deveria estar feliz por termos recuperado esse poema, mas… — Suspirou e ficou em silêncio.

— Está preocupada com os outros? — Ela assentiu.

— Por que fui inventar de escrever aqueles poemas idiotas e entregar? — Disse baixo, mais para si do que para a kwami.

— Sei que é difícil, mas tente pensar que seu maior segredo continua guardado. — A azulada não respondeu e continuou olhando as luzes da cidade.

— Agora ele sabe que sou apaixonada por ele.

— Mas… não era isso que você queria? Você vem tentando se declarar para ele há tanto tempo.

— Sei lá… não esperava que esse dia chegaria tão rápido. Acho que não estava preparada. — Olhou para Tikki — Não estou preparada. — Corrigiu e voltou a olhar para a noite da capital francesa.

— Vai ficar tudo bem. — Disse a kwami, abraçando a bochecha da amiga.

— Assim espero… — Ficou em silêncio durante alguns segundos. — O que acha que ele vai fazer quando descobrir que sei da paixão dele pela Ladybug?

— Acho que vamos ter que esperar para saber.

***

Adrien encarava o papel em formato de coração, incrédulo. "Mas… não faz sentido! Como ela descobriu?", pensou enquanto olhava a assinatura de Marinette para certificar, mais uma vez, que foi ela quem escreveu aquilo. O loiro suspirou tentando se acalmar e resolveu ler o poema com o título "segredos" de novo, talvez tivesse entendido errado. Logo na primeira estrofe, a menina pedia para que ele não sentisse medo e que não ficasse com raiva dela. É claro que, se alguém descobrisse que ele era Chat Noir, ficaria preocupado. Naquela tarde mesmo tinha dito para Ladybug o quanto era perigoso saberem as identidades. Nessa mesma estrofe, Marinette dizia que tinha descoberto o segredo dele sem querer. "Será que ela viu quando eu estava me transformando?", pensou. Isso realmente fazia sentido, já que se transformou diversas vezes na escola. Leu o restante da carta, percebendo que a menina falava que guardaria o segredo. Ele suspirou, pelo menos mais ninguém saberia sua identidade secreta. Mas, de qualquer forma, não era para Marinette ter descoberto aquilo. Lembrou-se do que dissera para sua parceira naquele dia: "eu não gostaria de que… sei lá, um amigo meu que sabe minha identidade, por exemplo, fosse akumatizado, pois ele poderia pegar meu anel com mais facilidade". A preocupação aumentou quando ele percebeu que Marinette não poderia, de forma alguma, ser vítima dos akumas de Hawk Moth, já que ela, agora, sabia a verdadeira identidade de Chat Noir. Tentou afastar esse pensamento e voltou sua atenção para o poema. Na estrofe seguinte, estava escrito "muitas coisas tem explicação, porque agora eu sei a verdade". Talvez as "coisas" fossem o sumiço de Adrien quando Chat Noir aparecia ou as mentiras sem sentido que inventava para os amigos quando iria salvar a cidade. Continuou a leitura e, nos próximos versos, Marinette afirmava que descobrir aquilo era a realização de um desejo. "Por quê?", ele pensou, realmente confuso. Mas, logo na próxima estrofe, a amiga revelava seu amor por Adrien. "Ela disse há pouco tempo que amava Chat Noir, por isso deve ter gostado de saber que sou eu. Os dois garotos que ela gosta são a mesma pessoa", pensou, lembrando-se da noite em que a menina tinha declarado seu amor pelo herói em sua varanda, o que resultou na akumatização do pai dela no dia seguinte. O modelo suspirou, percebendo que estava certo, Marinette realmente sabia sua identidade secreta. Encarou o kwami, que dormia tranquilamente, e lembrou de quando ele dissera que ninguém poderia saber quem era o super-herói de Paris. Certamente, Plagg ficaria decepcionado com a falta de responsabilidade dele. "Não posso contar para ele que uma amiga minha me viu quando fui me transformar, ele vai me achar um idiota por ter tido tão pouco cuidado", pensou, deitando na cama. "E a Marinette? O que eu falo pra ela? Será que digo que não sou o Chat Noir? Mas… se ela viu a transformação, nenhuma mentira vai adiantar", colocou as mãos sobre a face. "O que eu faço?". Depois de alguns minutos tentando, em vão, imaginar alguma forma de resolver aquilo, percebeu que deveria guardar os cartões antes que mais alguém soubesse seu segredo. Levantou-se e andou até o guarda-roupa, local em que tinha uma caixa com diversas cartas e presentes de fãs que dizia para si mesmo que, algum dia, iria dar uma olhada. Guardou os dois poemas lá e voltou a deitar-se, tentando, mais uma vez, cair no sono, mesmo sabendo que isso seria difícil após tantas revelações.

***

A azulada já estava em seu lugar na sala de aula, ao lado de sua amiga, e esperava ansiosamente pela chegada de seu amor que, agora, não era mais secreto. Tinha ficado boa parte do fim de semana imaginando o momento em que ele falaria com ela. Mas a ansiedade deu lugar à preocupação quando o loiro chegou ao local e a encarou. Aquele olhar parecia trazer tanto medo quanto o dela de viver uma nova realidade, na qual não haveria mais tantos segredos.

Na noite anterior, Tikki conseguiu acalmá-la um pouco, dizendo que o principal ainda estava guardado. Mas, só em pensar que Adrien agora sabia de sua paixão por ele, sentia um frio na barriga. Aquele dia finalmente tinha chegado, agora sua declaração de amor estava feita e não poderia nem mentir dizendo que os poemas não eram dela, já que os dois estavam assinados.

O modelo já tinha sentado em seu lugar e estava conversando com Nino. Percebendo que a amiga estava distraída, Alya resolveu falar com ela.

— O que foi, Marinette? Você está esquisita desde que chegou.

— Eu entreguei as cartas. — Disse baixo, sem pensar muito.

— Espera, que carta? Aquele poema que você escreveu se declarando? — Sussurrou e a azulada assentiu. — Não acredito! Esse é um dia histórico! Quando você entregou? Falou alguma coisa com ele? Por que não me falou nada antes? Como está se sentindo? Será que ele já leu?

— Ainda não sei se ele leu. — Disse, ignorando as outras perguntas da amiga.

— Amiga, você tem noção do que acabou de acontecer? Você finalmente revelou seu amor por ele! Eu ainda não estou acreditando! — Marinette deu um sorriso forçado, visivelmente não compartilhava a felicidade de Alya. — Por que você está assim? Pensei que esse era o dia que você mais tinha esperado nos últimos meses.

A professora chegou ao local e a azulada sentiu-se aliviada por não precisar falar sobre aquele assunto com a amiga. A verdade era que nem ela sabia com o que estava tão preocupada, afinal, tinha escrito aqueles poemas imaginando que seu amor era correspondido. Marinette tentou voltar sua atenção para a aula, as provas estavam chegando e ela tinha certeza que a matéria não seria seus problemas pessoais.

***

Durante o intervalo, Adrien conversava com Nino, mas seus olhos estavam voltados para a azulada. Ele ainda estava preocupado com os poemas que tinha lido na noite anterior. Tanto que, assim que acordou, foi certificar se aquelas cartas eram reais e as leu novamente. Ainda não sabia o que iria fazer, pois certamente não adiantaria dizer que não era Chat Noir. O modelo percebeu que deveria ter disfarçado melhor e olhado menos para Marinette, pois logo Nino percebeu que atenção do loiro não estava ali e encarou o local que o amigo tanto olhava.

— Quer ir lá conversar com ela? — Adrien arregalou os olhos, estava tão na cara assim? — Ultimamente você tem andado bastante com a Marinette, se quiser falar com ela agora, não tem problema. Só não fique encarando tanto assim, vai acabar assustando a menina.

— O quê? Não, eu não vou falar com ela agora não, relaxa, não preciso ir conversar não. — Esconder o nervosismo foi impossível, cada vez que pensava no momento em que falaria com a azulada sobre os poemas, ele sentia um frio o percorrer. E agora o amigo tinha sugerido que a conversa que queria adiar ao máximo acontecesse em poucos minutos? Talvez pela enorme quantidade de "nãos" que conseguiu dizer em uma única frase, o moreno começou a rir.

— Calma, não vou chamá-la para vir aqui. Só pensei que queria falar com ela, já que nem estava ligando para o que eu falava.

— Desculpa, eu dormi um pouco tarde e parece que minha mente ainda está dormindo. O que você estava dizendo? — Nino riu novamente e voltou a falar sobre o assunto que não tinha prendido a atenção do amigo. Mas, dessa vez, o loiro realmente parecia estar escutando.

Antes que terminassem de conversar, o sinal anunciou o fim do intervalo e Adrien observou a azulada caminhar até a sala. Embora não quisesse, sabia que, uma hora ou outra, aquela conversa iria acontecer. Era óbvio que ela tinha mandado aquilo assinado para que ele pudesse saber com quem falar.

As aulas passaram e cada vez que o modelo ouvia a voz de Marinette sentia que, a qualquer momento, ela perguntaria se ele tinha recebido os poemas. Ele suspirou, sabendo que não adiantaria deixar aquela conversa para depois. "Preciso falar com ela", pensou.

Depois Daquela CartaOnde histórias criam vida. Descubra agora