Oneshot - Photograph

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Fazia frio naquele dia, um frio descomunal, mas Mello sempre adorara dias como aquele. Nos quais assistia a chuva batendo em sua janela, junto a um cobertor e uma xícara de chocolate quente.

Mas naquele momento tudo que conseguia fazer era culpar o de cabelos brancos por não estar fazendo o de costume. Ao invés disso, estava na biblioteca, tentando se concentrar no material sobre refração de ondas à sua frente, já que não estava satisfeito com a quantidade de horas que passara estudando durante o dia. Por isto ele podia culpar Matt, que o alugara o dia inteiro numa partida de futebol.

Fazia semanas que vinha tentando se preparar para a prova que haveria na semana seguinte, no intuito de ao menos uma vez, ficar em primeiro lugar no ranking dos melhores alunos da classe. Mas falhava miseravelmente ao tentar se concentrar, pensando que tudo que Near fizera nos últimos meses fora construir castelos de cartas.

Odiava como o albino conseguia tudo o que queria sem esforço algum, sempre odiara. Mas de uns tempos pra cá assustou-se ao perceber que não cultivava apenas sentimentos ruins em relação ao garoto.

Descobrira isso há algumas semanas, quando se pegou apreciando os traços delicados de Near em uma das fotografias do álbum da Wammy's, imaginando como seria o gosto do albino, ou o modo como a língua de Near se movimentaria se Mello o beijasse.

Suas suspeitas sobre o surgimento de novos sentimentos se confirmaram quando o loiro, mesmo que não fosse admitir nunca, roubou a foto do álbum, guardando-a no pequeno compartimento de seu caderno.

Presumiu que ali seria um bom lugar para guardá-la, já que Matt a encontrara no último esconderijo, enquanto remexia a gaveta de meias do loiro em busca de alguma barra de chocolate. Isso rendeu a Mello três dias seguidos de perguntas e piadinhas.

Voltou a encarar a questão sobre o valor do lâmbda em seu caderno, ignorando a pequena parte da foto onde podia ver os cabelos de Near levemente bagunçados.

Seu corpo retesou-se ao ouvir um suspiro alto vindo do outro canto da biblioteca, pensava ter certeza de que era o único louco presente na biblioteca àquela hora da madrugada, mas aparentemente estava enganado.

Levantou-se silenciosamente da mesa em que estava, apertando o caderno - agora fechado - em seu peito, caminhando na direção da qual viera o suspiro. Viu o garoto de cabelos prateados levantar a cabeça levemente, seus olhos encontraram os de Mello.

Então por isso nunca o via estudando, ele estudava durante a noite, bem longe das vistas de Mello. Albino besta, pensou.

     - O que está fazendo aqui? - Perguntou o loiro

     - Estudando - Near a essa altura já tinha a cabeça baixa novamente, ignorando Mello completamente.

     - Pois vá estudar em seu quarto, seus suspiros estão atrapalhando minha concentração. - Mello disse entredentes, irritando-se facilmente com a inexpressividade do garoto e a maneira como ele o descartara tão rapidamente com um simples menear de cabeça. O baque de seu caderno contra a mesa fora audível em toda a biblioteca, mas o que fizera o sangue do loiro gelar fora o pequeno quadrado de papel que deslizou pela superfície de mogno, parando bem em frente ao dono da foto.

Mello tinha certeza de que, se tentasse se mexer, seria em vão. Estava completamente congelado no lugar, sentia o estômago revirar e os olhos não podiam encarar outra coisa. A possibilidade de fingir um desmaio cruzou sua mente.

Podia jurar que passara-se uma eternidade até que Near finalmente desviasse o olhar da própria fotografia, e agora encarava Mello diretamente.

    - Tem uma foto minha guardada. Gosta de mim.- O garoto de cabelos brancos disse sem emoção alguma na voz. Mello estava aterrorizado com a velocidade com a qual fora descoberto.
 
Estava pronto para responder de forma malcriada, dizer que Near perdera a razão e obviamente alguém plantara aquela foto ali, quando notou.

Near dera um pequeno sorriso de canto, revelando uma pequena covinha na bochecha direita, e Mello não conseguira ao menos raciocinar quando o albino se levantou com sutileza e caminhara até ele, fazendo com que ficassem frente a frente.

Near o encarava fixamente, e Mello sentiu o coração acelerar mais que o normal quando o de cabelos brancos ficou na ponta dos pés, inclinando-se e fazendo com que os lábios se tocassem num beijo casto.

Ficaram assim por algum tempo, até Mello empurrar bruscamente o garoto a sua frente, prensando-o em uma das prateleiras da biblioteca. A cabeça do loiro girava com o que acabara de acontecer.

- O que pensa que está fazendo comigo? - Disse com os olhos semicerrados e os dedos ao redor do pescoço do Albino.

Mello analisou o rosto inexpressivo de Near com cautela, e ao perceber que o menino abrira a boca para responder, calou-o com um beijo muito mais intenso que o anterior.

Mello passou a língua ao redor dos lábios do mais novo, fazendo com que Near abrisse a boca calmamente, sentindo o gosto doce do loiro.Suspirou, permitindo-se relaxar ao toque de Mello, enquanto este tocava sua cintura por debaixo da blusa de frio, os dedos gelados enviaram um arrepio por todo o corpo de Near.

As línguas brincavam entre si, o gosto de Near era inebriante, seu beijo tinha sabor de hortelã, misturando-se com o do bombom que Mello comera ainda há pouco, o beijo transmitia desejo e ferocidade. Quebrando-se minutos depois de ter começado, quando Mello se afastara bruscamente de Near.

- Conte isso para alguém ovelha, e acabo com você. - Fora o que dissera antes de dar um pequeno selinho no albino, recolher seu caderno e sair da sala como um furacão loiro.

Near não se movera, desviou o olhar para a mesa. Sorriu ao perceber que Mello havia levado a foto consigo.

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