Alguns dias passaram e eu fiquei estudando sobre o assunto. Li sobre a submissão da mulher em textos bíblicos, antropológicos, sociológicos, li artigos de psicologia que abordavam o tema e por fim, textos de bdsm. Queria estar preparada para o que estava por vir, se é que viesse. Na verdade, ainda não estava 100% certa de que faria isso. Mas eu sei que a Glória costumava ser uma pessoa vingativa e se eu não aceitasse, além de ter a Daniela passando à frente, eu poderia esperar alguma reação da minha editora, porque ela viria. Talvez até a demissão... não conseguia nem pensar nisso. Não, eu tinha que aceitar essa proposta e pagar para ver. Mas não conseguia me ver submetendo a homem algum. Sempre fui muito orgulhosa por se uma mulher independente e nunca ter precisado de um homem para nada. Até mesmo nas minhas relações eu costumar ser mandona, então eu me curvar de boa vontade seria fingimento e eu acreditava que não conseguiria fazer isso. O melhor seria encontrar com Edgar e ver qual afinal, seria a proposta dele.
Então foi o que fiz, tomei coragem e liguei para o homem, que aliás me atendeu muito bem. Disse-lhe apenas que queria conversar com ele para conhecer melhor o assunto porque estava interessada em escrever uma matéria sobre. Marcamos um jantar para dois dias adiante e eu fui como normalmente ia para uma entrevista: bem arrumada, mas nada que demonstrasse interesse além do profissional. Ele quis me buscar em casa, mas eu recusei. Não queria dar intimidade fora da hora.
Marcamos em um restaurante no Leblon mesmo, às oito da noite. Quando cheguei, Edgar já se encontrava à mesa me esperando. Ele se levantou e aguardou eu sentar. Eu não posso negar que eu estava "armada" com a situação e me perguntei se aquele gesto era cavalheirismo normal dele, ou era apenas presunção de macho.
- Como tem passado, Vânia?
- Muito bem. E você?
- Ótimo. Você bebe vinho?
- Sim, claro.
Edgar pediu ao garçon um vinho e voltou sua atenção para mim.
- Então você está interessada em saber mais sobre a submissão.
- Sim, eu gostaria de conhecer mais sobre o assunto, como isso acontece. Pelo o que eu entendi da nossa conversa da semana passada, o que você vive na verdade é uma relação BDSM, certo?
- De certa forma podemos dizer que sim. Gosto de relacionamentos de submissão e dominação.
- E nesses relacionamentos tem toda aquela liturgia, couro, chicotes e cordas?
Edgar riu com a minha pergunta.
- Na verdade não. Eu particularmente não gosto de liturgia e nem de que outros imponham regras aos meus relacionamentos.
- Mas você impõe regras para a mulher, no caso sua submissa.
- E qual o relacionamento em que não há regras? Se você está em um com certeza vai falar ao seu companheiro quando vai sair e quando deverá voltar, vocês vão definir como funcionará a casa se ambos morarem juntos. Até o lado da cama em que você ou ele dorme é definido, então como você pode dizer que só em um relacionamento BDSM é que há regras?!
Ele tinha um ponto aí. Mas eu ainda não tinha desistido da minha opinião de que aquilo era opressor. Ainda faltava muito para eu desistir da luta e eu confiava mais no meu taco.
- A diferença é que no meu tipo de relacionamento as regras são mais claras e você sabe exatamente o que se espera de você. Você jamais ficará ansiosa ou incerta do que deve ou não fazer. Se está fazendo o certo ou não. Isso não existe. Cada um sabe o seu papel e o que se espera.
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Um Mergulho na Escuridão
RomansaVânia é uma mulher da Zona Sul do Rio, jornalista, independente, feminista. Uma vida já definida por ela mesma. Mas Vânia sente um vazio que nenhum dessas conquistas consegue preencher. Depois de assistir a uma palestra sobre um livro polêmico que d...