Prólogo

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| Melody |

8 Anos Atrás...

O céu negro da escuridão da noite reflectia nas bravas e perigosas ondas do oceano Atlântico. Parte da lua que estava coberta pelas carregadas nuvens cheias de água pronta para ser lançada da atmosfera até ao mar mais conhecido, onde tivera sido abandonado o Titanic em 1912.

Estrelas estavam dispersas pelo manto misterioso do infinito. Infinito esse desconhecido. Milhares de cosmos, milhares de estrelas, milhares de planetas, milhares de constelações, milhares de buracos negros e milhares de criaturas desconhecidas que o ser humano ignora, por mera incapacidade de investigação, pois interesse há bastante pelos jovens de hoje em dia como eu.

Eu não sou diferente. Também sou uma humana só que com uma capacidade desigual em relação aos outros. Lá por não ter pernas, mas sim uma cauda não significa que possa ser recusada pela espécie humana. Se algum dia fosse descoberta e revelada pelas mãos erradas, o mais provável era ser levada para um laboratório, ser analisada e servir de atracão no zoomarine, o que não iria ser nada agradável, pois ninguém gosta de ser o centro das atenções mesmo que seja no bom sentido certo?

Quando era pequena a minha mãe, Deusa de todos os mares, contava-nos histórias, a mim e ás minhas irmãs sobre sereias que tinham um romance secreto com humanos e que nunca foram descobertas, conseguindo assim amarem-se e algumas das vezes era-lhes concedidas pequenos prémios da sua deusa, dependentemente do ponto de vista das suas vidas.

Uma vez eu ouvira um história em que uma princesa fora salva por um cavaleiro, mas não era uma princesa qualquer. Era uma humana que recebera o privilégio de trocar de vida com uma sereia, substituindo e modificando de papéis. Só que havia regras que tinham de ser cumpridas e uma delas é que a rapariga teria que voltar ao mar de três em três dias, se não secaria de escassez da água e morreria.

Tudo correra muito bem até que ela se apaixonou por um 'sereio'. Ambos corriam perigo pois eram perseguidos por um da mesma espécie chamado Lir que queria a princesa apenas para si e apoderar-se do seu controlo. O cavaleiro que a acompanhou até ao seu castelo sentia uma enorme atração por ela, contudo só se interessava pelo seu dinheiro e das jóias que ela continha, que tinham sido uma oferta da sua deusa, quando esta se juntou ao mundo dos mares. Fora num dia de muita bebida em que ela desejou magia na sua vida. No dia seguinte, tinha um voo para apanhar. Quando este se despenhou, a deusa apareceu e deu-lhe a escolha. Seria humana e morreria naquele momento ou trocaria de personalidade com a sereia Ondina. Era óbvia a escolha.

No dia em que ela o descobriu com o auxílio e o benefício de estar a ser protegida pela Deusa, fora o mesmo em que ela lhe dera a notícia de que esta noite, que era a terceira, se o amor entre ela e o 'sereio' fosse verdadeiro e real, seria-lhe concedida a cauda para toda a eternidade e assim viveriam felizes para sempre, até que esses planos foram arruinados por alguém. Esse alguém fora Lir. Apesar de ter sido banido pela Deusa, conseguira roubar o tritão à minha mãe e atingir o futuro amor da sereia. Este fora ferido gravemente e a Deusa não podia desfazer o encanto, uma vez que tivera sido com o seu próprio tritão por isso o destino do 'sereio' já estava traçado. Ele iria morrer...

Quando esse momento chegou a princesa teve a opção de escolher se queria permanecer no fundo do mar, ou voltar à sua vida com o livre arbítrio de querer recordar todos os momentos ou de os esquecer, como se batesse com a cabeça e não lembrasse o porquê. A escolha dela foi sábida e preferiu as suas pernas e a memória fresca.

Tudo voltou ao passado assim como a recordação de que se encontrava num avião e que um rapaz chamado Dylan tivera estado inconsciente devido ao impacto do avião. Passados cinco meses esse mesmo encontrara-se com ela e jurou-lhe eternidade assim como o 'sereio' fizera. Parecia impossível, mas a verdade é que a Deusa deu-lhes uma vida para que ficassem juntos. Se não podiam ser felizes no mar, porque não na terra? Parecia um sonho, no entanto era a realidade....

A maioria das pessoas não acredita nestas histórias, mas eu sempre tive a noção de que quanto menos esperamos, isto acontece. E porque não sonhar um pouco? Ninguém pode invadir os nossos pensamentos assim do nada e os desviar certo? Era o que eu pensava até ver o menino de caracóis...

Havia fogo de artifício no ar, o que indicava que havia uma festa. Um cruzeiro era avistado ao longe no oceano Atlântico. Curiosa como sou decidi nadar até lá. Atirei-me de cabeça para a água e segui caminho até ao cruzeiro. A minha cauda era invisível para os humanos à noite, uma vez que a cor da água era escura o que servia de protecção para nós, sereias. Claro que tínhamos de ter cuidado, pois há mitos.

As águas eram-me conhecidas, pois tinha sido neste mar que eu nascera e crescera, por isso não demonstrava qualquer tipo de medo para com elas. Sentia-me em casa em qualquer lado desde que tivesse água. Ás vezes gostava de espreitar a superfície e quando ficava tempo a mais o meu corpo ansiava pelo contacto com a água urgentemente.

Música alta ecoava pelo cruzeiro todo, assim como os foguetes os acompanhavam. Nos meus pensamentos eram como corais que se abriam no céu. Por conseguinte a minha opinião não importava a ninguém, nem mesmo ás minhas irmãs. Elas achavam-se esquisita porque era diferente delas. Enquanto elas gostavam de se arranjar para sair com os 'sereios' eu preferia aventurar-me. A minha mãe costumava-me dizer que isso era tudo inveja. A filosofia dela era que eu conseguia ser feliz com pouco ao contrário das minhas irmãs que precisavam de jóias caras e belas para as satisfazer.

Eu amava subir à superfície, sempre atrás das rochas, e observar o que os humanos faziam. Por vezes até sonhava que era eu no lugar deles. O meu melhor amigo, Winter, o golfinho, acompanhava-me a todo lago e por vezes íamos apanhar conchas e búzios juntos, de forma a que eu pudesse fazer os nossos colares simples e bonitos.

Cantar foi a primeira coisa que fiz quando subi à superfície depois de observar tudo à minha volta. Estava escuro mas mesmo assim, as luzes do cruzeiro davam a perfeita visão de um oceano revoltado e cheio de raiva.

Ondas grandes lutavam umas com outras para verem qual delas era a maior. O som delas por mais que fosse reconfortante para mim, batiam nas rochas e reproduziam um som agradável de se ouvir. A água agora com uma cor negra por causa da noite controlava tudo. Que dominava e que engolia....

Mal o refrão acabou fui surpreendida por um menino pequeno que andava a espreitar no cruzeiro e a sorrir para mim. Não consegui resistir e aproximei-me dele. Os seus olhos verdes cor de esmeralda eram únicos, os seus cachos rebeldes acentuavam-lhe na perfeição e davam vontade de os despentear assim como aqueles lábios avermelhados formavam quase um pequeno coração só no lábio superior.

- Porque estás na água? - perguntou-me ele com a sua voz doce

Antes que pudesse responder-lhe uma onda gigante engoliu o cruzeiro e só tive tempo de apanhar o rapazinho que se contorcia na água porque ainda era pequeno e não sabia nadar. Esta era a vantagem de seres diferente, não precisavas de ser ensinada a nadar.

***

Assim que chegámos a terra arrastei o seu corpo inconsciente e fiquei a admirá-lo. Ele era tão bonito... como iria ele agora se adaptar sem os seus progenitores? Queria ficar com ele e ajudá-lo mas o meu corpo chamava pela água. Olhei uma última vez para ele e contornei com o olhar, a minha pérola que agora estava no seu pescoço. Fora um prenda que eu lhe tivera dado como recordação se algum dia se lembrasse de mim.

Assim que ele abriu um pouco os olhos mormurou algo como "tu és uma sereia" e eu sabia que estava na hora de partir, mas antes de ir, depositei um beijo rápido na sua bochecha pois eu sabia que NUNCA mais iria voltar a vê-lo.

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Mermaid || h.s [parada]Onde histórias criam vida. Descubra agora