| Melody |
Algo me beliscava o braço com alguma força que de certa forma me provocava dores. Tentava mover-me mas o meu corpo não me obdecia, até que sinto algo líquído a ser jogado contra o mesmo. Isso de certa forma ajudou-me. Provavelmente estivera desidratada durante uns dias devido ao que tivera injerido e só agora é que despertei.
Abro os olhos cuidadosamente e à minha frente estava a criatura do mar que eu mais admirava, juntamente com outras que eu desconhecia. Para além de Winter que estava no oceano a observar-me, um carangueijo também estava a meu lado. Se eu não fosse sereia, agora estaria aos gritos por um crustáceo estar com as suas pinças enormes a apontar para mim. Tecnicamente, agora sou humana, mas uma humana diferente...
Ele era o conselheiro pessoal da Deusa dos Mares, ou seja, estava aqui para me dar um recado importante da minha "mãe". Uma gaivota com poucas penas segurava com as suas membranas, um balde com água. Por coincidência deve ter sido o que me fez acordar.
Todos eles olhavam para mim, ou devo corrigir, para o meu corpo. Estava confusa, uma vez que no dia em que me tornei humana tive a oportunidade de conhecer a minha nova aparência física, mas agora tinha a minha cauda, assim como os meus cabelos escondiam os meus seios. Acho que li mal as consequências do feitiço, ups. De acordo com o que me lembro, devia ser só na terceira noite que me convertinha em sereia, afinal, estava enganada.
- Melody, que bom que a encontramos. - a atenção que captava as minhas pernas descobertas agora tivera sido desviada para a gaivota que falava comigo. Eu pensava que tivera perdido essa capacidade, assim que me tornara diferente. Tal como os humanos dizem: a pensar morreu um burro. Defenitivamente que tinha de mudar o meu vocabulário. Estava enganada. Continuava quase igual.
- Acho que vais precisar da nossa ajuda. - referiu o meu melhor amigo.
Secalhar este era o meu don, falar com criaturas do mar. Quem me ouvisse dizer isto, pensaria que era louca.
Não conseguia dar-lhe uma resposta concreta, pois tinha receio de como a minha voz iria sair, por isso limitei-me apenas a acenar com a cabeça.
De repente. volto a sentir a sensação de ontem quando me transformei. Só que esta fora rápida e ínvisivel. Tinha as minhas pernas de volta e estava mais feliz que nunca. Todos sorriam para mim e fiquei agradecida por nenhuma pergunta ter sido feita, pois eu não teria resposta clara para ela.
Um lençol caía agora na minha frente e agradeci mentalmente à gaivota que me ajudava a vestir. Enrrolei-o ao meu corpo e prendi a ponta nos seios, de forma a que ficasse seguro. Winter chamou estrelinhas do mar para que servissem de brincos e juntamente com elas vieram algas que auxiliaram em segurar o tecido. O carangueijo nada dizia, apenas examinava tudo, sem proferir qualquer palavra.
Voltei a sentar-me na rocha e o carangueijo aproximou-se. Juntei as minhas mãos numa concha e fiz sinal para que ele aceitasse o gesto. Assim o fez, enquanto o colocava nas minhas pernas para o poder ver e escutar melhor.
- Querida Melody, sabes que a Deusa do Mar não está muito contente por teres fugido.
- Bem, não se trata de fugir, mas sim de seguir os meus sonhos! - pela primeira vez falo e fico orgulhosa de mim própria pela minha voz não sair tremida nem diferente.
- Eu compreendo princesa mas não o pode fazer assim sem mais nem menos. Deveria ter informado alguém. - interrompo o seu discurso e imponho-me. Será que não entendem que eu não quero passar a minha vida toda debaixo d'água? Eu não sou um peixe!
- Bem o que está feito não pode voltar atrás, por isso, se não se importam eu tenho de ir. - escorreguei da rocha e despedi-me dos meus amigos, não deixando o conselheiro acabar com o seu aviso para crianças. Por amor de deus já sou crescidinha.
E agora? Para onde vou? Caminhei sozinha pela praia, sempre a lembrar-me se tivera tomada a escolha ideal. O que seria de mim daqui em adiante? Lembro-me de ter lido, que no mundo dos humanos todos devemos trabalhar, e secalhar é por onde devo começar, para assim poder arranjar algum dinheiro e construir a minha própria vida.
Um hotel de oito andares encontrava-se à minha frente. Todas as pessoas olhavam para mim de lado como se eu tivesse vindo de uma mercadoria de pesca. Ignorar era a melhor forma do sucesso.
Podia ser que tivesse sorte e precisassem de contrarar gente nova no hotel.
Empurro a porta de vidro e como resposta um sininho avisa a receccionista que alguém entrou. Ao contrário da população da rua, ela cumprimenta-me com um sorriso caloroso.
- Boa noite, precisa de alguma coisa? - a jovem rapariga de longos cabelos castanhos e de olhos da mesma cor pergunta-me com todo o cuidado na voz. Admito que estava com algumas saudades de me chamarem princesa. Normalmente, todas os meus 'amigos' tratavam-me pelo meu nome ou por esse tão precioso.
Claro que aqui ninguém sabe quem eu sou...
- Hum... eu gostaria de saber se estão a precisar de pessoal. Eu posso fazer qualquer coisa. - dou-lhe o meu melhor sorriso e a minha atenção fixa-se nas minhas mãos que naquele momento parecem ser mais interessantes. Se ela disser que não, terei de procurar outro emprego.
- Bem, precisamos de alguém que fiquei responsável pelas tarefas domésticas. Temos duas contratadas, mas mais uma dava muito jeito.
A jovem faz sinal para mim e eu sigo-a. Um silêncio estava instalado entre nós e eu não sabia como quebrá-lo. Entrámos num elevador e os seus dedos finos, com as unhas pintadas de um vermelho forte carregaram num botão tátil que dava acesso ao último piso.
Felizmente, eles ofereciam quartos próprios para as empregadas, o que quer dizer que vivo aqui, pelo menos enquanto esta for a minha ocupação. Umas roupas foram deixadas na minha cama, para que me sentisse mais confortável, porque aquelas que eu tinha vestido, era nada mais nada menos que um simples lençol. A receccionista programou o meu despertador e saiu do quarto despedindo-se com um simples aceno. Afastei as almofadas que serviam de decoração e cobri-me de forma a que ficasse bem quentinha. Amanhã iria ser um longo dia.
***
Feixes de luz teimavam em entrar pelas persianas, o que me fazia dar voltas na cama à procura de um espaço livre de claridade. O despertador tocou e alguém entrou no quarto. Não reconheci a voz mas avisou-me que já eram horas de acordar e que teria de começar com as tarefas domésticas.
Obriguei o meu corpo mole a levantar-se e se não me tivesse segurado á barra da cama, acho que voltaria a cair num sono profundo. Nunca dormira tão bem do que nas últimas horas. Se fosse assim todos os dias então estávamos a começar bem.
Em cima da cama estava um monte de roupa que continha um papel pequeno em forma de recado. Abri-o e li-o para mim. Pelos vistos a minha primeira tarefa era estender a roupa. Peguei na bacia com a roupa molhada e deixei-a perto da porta de forma a que não me esquece-se dela quando saísse. Vesti-me rapidamente e saí do quarto a cantarolar a minha melodia favorita.
Umas palmas foram-se ouvidas o que me pregaram um susto de morte. Quase que saltava! Virei-me na direção de onde elas vinham e deparei-me com uma criança sorrinde a olhar para mim. Não resisti e aproximei-me dela, e cantei-lhe baixinho o resto da canção.
- A tua voz é tão linda. Faz-me lembrar uma sereia - no momento em que estava para lhe sorrir, o resto da sua frase ficou a pairar na minha mente.
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Mermaid || h.s [parada]
FanfictionSereia - ser mitológico, metade mulher e metade peixe, que através da sedução do seu canto, atraía os marinheiros, que se aproximavam para escutar o belíssimo som, acabando por naufragarem. As sereias representam a união da Deusa com a água. Esse e...