4 - Vida preciosa.

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Já fazia algumas horas que o sol havia se posto em seu lugar no céu, porém as nuvens, escuras e pesadas, estavam o encobrindo fazendo o dia ficar acinzentado, anunciando que não demoraria muito para que chovesse. Isso o preocupava, pois, a Casa do Minério ainda estava longe, o local era o único lugar, relativamente seguro, que eles poderiam ficar. A construção havia sido parcialmente destruída, mas antes da Grande Catástrofe era o lugar mais movimentado de toda a Floresta D'ouro. Era o lugar mais perto onde os caçadores de ouro poderiam trocar seus achados por dinheiro, muito dinheiro.

Meglium ainda pensava no pesadelo que tivera durante o ataque dos Demônios, por mais que no momento tenha parecido tão real, depois que despertou tudo não passava de borrões. Ele lembrava de ter visto seu pai e sua mãe juntos, mas a lembrança seguinte o deixava profundamente aterrorizado: pedaços de corpos espalhados - braços, pernas, cabeças - em um grande salão que era iluminado por tochas, e meio a tantos membros ele conseguia ver a cabeça de Iris, os olhos frios e sem vida faziam com que o garoto perdesse todas as suas forças. Mas era somente isso que conseguia lembrar, por mais que tentasse não conseguia recobrar o sonho. Ele não conseguia entender o que aquilo significava, por que tantos copos e porquê Iris? Mas cada vez que esses pensamentos vinham em sua mente ele logo os afastava, pois preferia ficar com a imagem, não tão nítida, de seus pais juntos.

Desde que acordou de seu pesadelo, Iris estava completamente distante, como se ainda estivesse presa na realidade que os Demônios do Sono a proporcionaram. Ele realmente queria saber o que ela havia vivido aquela noite, mas mesmo que ele tentasse fazer com que ela falasse, era inútil, pois ela sempre dizia que estava bem. Por um lado Meglium admirava isso em sua namorada, o fato dela encarar os problemas com tanta força o inspirava, mas ela sempre queria encarar tudo sozinha, e ele sabia que isso não a fazia bem. De qualquer forma ele sabia que, naquele momento, ela não precisava de seus conselhos e sim de sua presença.

O silêncio reinava entre os únicos seres que traziam vida para a floresta, até Brandon dizer:

- Eu sei que todos dizem isso, mas é tão impressionante como essa floresta mudou, quando eu era criança costumava brincar aqui por perto, me esconder entre os pinheiros, ficar horas olhando para os lagos, ficar procurando pelas fadas e roubar a comida dos duendes...

- Você roubava a comida dos duendes?

Tyran parecia indignado com a atitude de seu namorado.

- Você não? Todas as crianças fazem isso.

- Eu não fazia isso, para falar a verdade não podia, todos os domadores devem ter uma postura excepcional.

Tyran e Brandon continuaram a conversar sobre como os domadores, de uma forma geral, eram rígidos em relação a várias coisas; por um lado Meglium entendia que eles não poderiam se dar ao luxo de fazer as coisas que os outros povos podiam. O povo solus, ou os domadores, eram conhecidos por serem o único povo capaz de aprender a língua dos elementos e com algumas palavras, fazer labaredas de fogo brotarem no ar, torrentes de ar serem sopradas. Há quem diga que lugares inteiros já foram engolidos pela água em meio a fúria de um domador da água e que as montanhas do Norte foram obras de um domador da terra. Meglium lembrara que alguns domadores estavam presentes na Grande Catástrofe, porém estavam do lado que destruiu a Floresta d'ouro, estavam junto daqueles que mataram centenas de humanos, ele não conseguia entender como um povo com grandes princípios pode participar de algo tão cruel e sanguinário.

- O que acham de pararmos para comer alguma coisa?

Disse Iris escorando seu braço em Tyran.

- Não acho que seja uma boa ideia, logo já vai chover.

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