02 - Experimento ✓

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Me levantei da cadeira quando vi um vidro cair no chão, derramando um líquido e se partindo em cacos.

Me aproximei do mesmo, tentando encontrar a tal Zero Two que meu avô falava. Acho que se o vovô estiver vendo isso, ele com certeza está rindo da minha cara.

Olhei debaixo da mesa, mas não tinha nada. O meu medo de meu avô ter criado um monstro mutante era gigantesco. Eu temia, e muito, as capacidades daquele velho.

Passos rápidos foram ouvidos atrás de mim, eu me virei, vendo o que viria.

Uma garota muito estranha estava correndo nua atrás de mim. Era muito semelhante a um humano, tirando as presas na boca, as pequenas marcas avermelhadas ao redor dos olhos e chifres na cabeça.

A mesma correu em minha direção e eu andei para trás, pisando em alguns poucos cacos de vidro, pois dei um pulo e subi sobre a mesa com outros vários frascos.

A menina corria rapidamente atrás de mim, mas ouvi um guincho saído de sua boca após vê-la pisar em vários pedaços de vidro. Ela correu para a cama do laboratório.

Eu sai sobre a mesa, pulando com cuidado para não cair sobre os restos do vaso. Andei na direção da mesma preocupado, a vendo puxar os pequenos fragmentos transparentes da sola dos próprios pés o mais rápido possível. De seus ferimentos, escorriam um sangue azul, extremamente incomum.

Me aproximei cautelosamente da garota, a rosada esboçou um sorriso de alívio quando retirou todos os vestígios dos cacos.

— O que estava fazendo?— Ela me perguntou, me encarando.

— E-Eu é que pergunto! Você me assustou...— Encarei seu rosto, que me encarava com uma bela expressão confusa.

— Você invadiu meu quarto.— Ela deu de ombros. Quarto? Como alguém chama isso de quarto?

— Mas você sabia que eu viria. Por que se escondeu?— Disse mais confuso que ela.

— Eu sabia que você viria, mas nunca disse que ia te aceitar de braços abertos. Eu sempre estive melhor sozinha. Ninguém, nem mesmo o professor estava comigo todos os momentos. — Meu rosto corava pela imagem de seu corpo desnudo sobre cama, definitivamente, aquela garota não tinha noção de pudor. — Seu pervertido!— Um tom risonho tomava conta de sua voz, meio estranho.

— P-P… Pervertido?— Perguntei, assustado. Passei a mão no rosto dolorido.

— Você estava mexendo nas minhas calcinhas!— Exclamou.

— M-Mas você que está nua!— A via apoiada com os braços na cama, sem nenhum pudor.

— Você estava aqui, não queria fazer barulho para você me achar...— Se defendeu.

— C-Certo…— Disse envergonhado, era a primeira vez que via o corpo de uma mulher nu — Pode se vestir agora, por favor?— Tentei desviar meu olhar de seu corpo.

— Pra' um pervertido… Você até que é tímido…!— Se levantou e tocou com o dedo no meu peito, me fazendo chegar para trás.

Zero Two vestiu um vestido branco e roupa de baixo, enquanto eu andava de volta para a cadeira para poder assistir o vídeo. Usei o controle que deixei sobre a mesa e o vídeo voltou a rodar.

Bem… Zero Two é meu experimento de "ressucitação", por assim dizer. Antes de tudo isso, eu encontrei um corpo em decomposição durante uma escavação. O lugar onde estávamos era extremamente profundo, mas a escavação parou quando encontramos cavernas. Lá, eu achei o corpo da 001. Mais apropriadamente, eu a chamo de Princesa Urrossauro. E ela é magnífica!— Ele saiu por instantes pegando um quadro branco e pincéis — Lá nas cavernas, nós também achamos corpos de "monstros" enormes, os urrossauros. Depois disso, a escavação foi fechada, pois iríamos estudar os monstros…— Sua expressão mostrava tédio — Apesar de que eu gostaria de continuar escavando. Mas o governo mandou tapar aquele buraco!

— Urrossauros...?— Sussurei sozinho.

— Sim, eles são meio que meus primos…— A rosada apareceu por detrás de mim, com um riso travesso, me dando um susto que não deixei aparente.

...E então, pelo que estudamos, os Urrossauros são máquinas de batalha de uma espécie muito antiga, em que quem as pilotava, aparentemente, se fundiu à máquina. Tão incrível! Pelo que vi, são uma raça muito mais avançada! Os Kyoiriu são pilotados por uma pistilo, a fêmea, e por um parasita, o macho. Foi daí que desenvolvi meus Franxx revolucionários!— Ele levou as mãos para o ar em uma dança comemorativa — Mas isso tudo é uma noção básica do que você deve saber sobre a Zero Two, uma… introdução!

Pare de falar de mim como se eu fosse mais uma de suas máquinas, Doutor!— A voz da rosada foi ouvida na gravação, e então, uma caneta foi jogada na câmera, encerrando o vídeo.

Olhei para trás, esperando ver a rosada. Porém, a mesma já havia desaparecido naquele cômodo gigante. Olhei em volta, a procura da mesma. Sem sucesso, eu peguei o segundo CD e o coloquei no leitor.

O vídeo se iniciou novamente, meu avô se afastava da câmera.

Bom, como a 002 quebrou a última câmera, eu demorei um pouco para gravar esse CD.— Suspirou com a mão na cintura — Voltando a ela... Zero Two pode ser emocionalmente instável, por isso, cuidado com o que fala com ela. Eu por exemplo, ganhei uma bela cicatriz nas costas quando a chamei de "barata tonta"…— Passou a mão pelos poucos cabelos brancos — Pelos exames que fiz quando ela era mais nova, temos que tomar cuidado quando sua pele avermelhar e endurecer... Normalmente, isso acontece no inverno. Ela fica extremamente agressiva e animalesca. Quando mais nova, ela comeu meus ratos de laboratório...— Coçou a cabeça a saiu por alguns segundos, voltando com um pequeno pote com pedaços avermelhados... — Isto é um fragmento de pele vermelha. Durante o início da primavera, a pele vermelha da Zero Two começa a "descamar", por assim dizer… Durante aquela época, os seus chifres crescem com mais velocidade e seus dentes ficam pontiagudos. Por isso, é sempre bom ter uma lixa de ferro… Ah, sim! Acredita que os dentes dela se regeneram? Arranquei alguns quando ela era mais nova... Em meio de dois mêses, eles já estavam de volta!

Olhei assutado para meu avô, pensando no que ele havia feito aquela garota… Acho que qualquer mulher que crescesse com ele seria instável. Mas ela… Parecia nem sequer saber o que era estabilidade.

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