Capítulo 1 - Príncipe Sombrio

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Hector

Vampiros.

Talvez essa tenha sido a palavra que mais escutei na minha vida. Com vinte e um anos tudo havia girado em torno disso até então e minha família era famosa no ramo de matar os dentes afiados.

Não que o resto do mundo soubesse disso.

Na verdade, a regra mais importante era que ninguém fora do ciclo soubesse o que nós fazíamos ou como fazíamos. Minha mãe ensinou isso para todos os filhos, desde bem pequenos. Eu era o mais velho e por isso acho que fui sempre mais cobrado. Oliver e Clarisse, meu irmão tinha dezesseis anos e adorava fazer missões com o meu pai, minha irmãzinha de nove anos já arranjava brigas e dava muitos problemas para minha mãe na escola.

Aprendi que esse mundo é dividido entre "nós" e "eles". Minha família e de outros conhecidos eram o "nós", os caçadores, aqueles que matava os "eles", vampiros, aquelas criaturas sombrias que matavam humanos e se alimentavam de seu sangue. Ainda haviam os inocentes, pessoas que não faziam a mínima ideia da guerra que se desenrolava nas sombras de São Paulo.

Esses eram os meus amigos.

Era difícil manter essa vida dupla. Quando fui iniciado achei que a melhor coisa a se fazer era viver definitivamente nas sombras, mas minha mãe queria que eu fosse um jovem normal. Então eu fui para escola e fiz amigos.

- Por que essa expressão séria?

A voz de Amélia me acordou de meus pensamentos e me fez olhar para ela. Minha melhor amiga me encarava de um jeito questionador que sabia que me deixava sem graça, tentei relaxar minhas feições e sorri.

- Está ansioso com o programa! – Mateus riu passando o braço em torno dos meus ombros.

O meu estomago foi tomado pelo frio quando ele disse aquilo. O bendito programa. Meses atrás Amélia disse que tinha feito minha inscrição num tal "A escolha de uma milionária", fora tudo uma brincadeira dos dois comigo. Eles queriam zombar comigo por ser uma pessoa tão séria que nunca parecia estar disposto a rir ou levar a vida de forma mais leve.

Para minha surpresa eu fui selecionado.

Não ia aceitar, aquele não era o tipo de coisa que eu fazia na vida, nunca nem tinha visto aquela bobagem na televisão e minha família jamais deixaria que eu largasse meu posto de futuro caçador para passar três meses longe de casa aparecendo na tv para que o mundo inteiro me visse e chamasse mais atenção do que deveria.

Então veio a segunda surpresa.

Minha mãe disse que eu deveria participar.

Agora estava com as malas prontas, contando os dias para ir até uma mansão no interior de São Paulo, aquela noite com os meus amigos fora ideia deles de despedida antes que eu fosse.

Sabia que as vezes eu era bem antissocial, passava tanto tempo me preocupando com as responsabilidades de quem eu devia ser que esquecia que ser uma pessoa normal fazia parte da minha vida e isso significava ir ao cinema com os meus amigos num sábado à noite.

- Eu ainda acho uma ideia bem idiota ir para esse programa. – Resmunguei na fila do cinema para comprar os ingressos.

- Você sempre acha as nossas ideias idiotas. – Amélia revirou os olhos. Fora a irmã mais nova, ela era a única garota que eu podia chamar de amiga, mesmo assim tinha que manter uma certa distância, assim como mantinha de Mateus, um deslize meu e os dois acabariam descobrindo algo que não deveriam ou se machucando. Nunca me perdoaria por isso.

Mas com Amélia era mais difícil, ela estava sempre perto demais, podia ser antissocial, mas conseguia reparar no jeito que me olhava e isso não era bom. Esse tipo de contato não podia acontecer.

O ciclo das RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora