Capítulo 08

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O meu dia não poderia ter começado melhor. Recebi uma ligação de Austin depois de quase dois meses sem notícias. Sei que Manuela é a espalhafatosa entre nós duas (embora agora esteja pra lá de resmungona), mas eu fui incapaz de conter um grito animado ao constatar que era ele quem me ligava.

O primeiro impulso que tive ao atender, claro, foi dizer poucas e boas por nenhum deles ter dado notícias durante tanto tempo. No entanto, não demorou para que estivéssemos conversando sobre o que anda acontecendo desde que foram embora.

Pelo o que contou, Lowell e ele estão nos Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia. Para a minha surpresa, estão morando com uma prima dele, chamada Jennie (aparentemente, outra ovelha negra da família Yule). Uma mulher de 25 anos que também divide a casa com a namorada americana.

Como tudo foi muito repentino e impulsivo, Austin disse que entrou em contato com ela, e a prima não pensou duas vezes em deixá-los morar em sua casa.

Em relação a emprego, Lowell foi o primeiro a conseguir. Está trabalhando como barista em uma cafeteira. Austin, por sua vez, agora está ajudando um pequeno restaurante da região como assistente de cozinha. Nada fixo, mas que vale a experiência e lhe dá algum dinheiro.

Fiquei absolutamente feliz por saber que tudo está dando certo para eles.

Também tocamos no assunto escola. Graças à tal Jennie, ambos entraram no supletivo da High School, já que faltam apenas alguns meses para que se graduem. Perguntei se pretendem cursar alguma faculdade, mas Austin comentou que ainda não decidiu o que quer estudar e Lowell também está bastante confuso no que se refere a isso.

Bem, do jeito que conheço meus meninos, sei que não pretendem ficar longe dos estudos por muito tempo. Não agora que têm liberdade para buscarem as carreiras que desejam de verdade.

Depois de um pouco mais de uma hora (viva a internet, pois uma ligação convencional custaria horrores), eu desliguei e uma onda de alivio me preencheu.

Admito que desde que fugiram, sentia-me um pouco culpada por, de alguma forma, incitar que tomassem essa atitude. Afinal, fui eu quem aconselhou que lutassem. No entanto, depois dessa conversar, percebi que teriam tomado essa decisão mesmo sem os meus conselhos. Não foram as minhas palavras que levaram os garotos a fugirem e sim a repressão e o medo de viverem para sempre em uma mentira.

E falando em repressão e mentiras, nem preciso dizer que a fuga deles causou a maior confusão. Até o excelentíssimo senhor Carter apareceu no colégio, acompanhado da senhora Yule. Como eu imaginava, o pai do Lowell é um típico homem rico de meia idade, com os cabelos grisalhos e uma postura tão fria e apática, que os ambientalistas poderiam levá-lo ao Ártico para tentar conter o derretimento das geleiras.

Não é à toa que esses dois se merecem. Somente não merecem os filhos maravilhosos que têm.

Na ilustre visitinha dispensável que o casal fez ao colégio, a senhora Yule também aproveitou para cumprir a "ameaça" que fizera antes das férias, por eu ter atrapalhado o seu showzinho ridículo diante os outros alunos e professores. Ela reclamou com a diretora que eu tinha me intrometido em um assunto de família.

Mas a sua choradeira não funcionou. Além de eu ter o apoio dos meus colegas de trabalho, que presenciaram toda a cena e relataram o ocorrido, Charlotte, desde o acontecido com Adrian, vem correndo de escândalos e não deu crédito algum a ela quando descobriu que causou justamente um escândalo.

Logo, a tal reclamação não deu em absolutamente nada. À não ser um olhar torto e cheio de raiva, que eu ignorei com sucesso igual a primeira vez.

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