Extra II

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Jackson teve que piscar os olhos algumas vezes para absorver aquelas palavras.

Será que havia escutado direito?

Encarou fixamente o rapaz diante de si, procurando qualquer resquício de mentira ou incerteza, mas aquele olhar demonstrava determinação, ainda que tal sentimento acobertasse melancolia. Então simplesmente não soube o que responder ou mesmo se deveria fazê-lo, afinal, aquilo era uma loucura.

Fazia mais de três anos que ele não encontrava o seu antigo aluno. Sabia por alto que havia ganhado uma bolsa de estudos em uma renomada escola de música e que se tornara trainee em uma agência de ídolos. John só aparecera em seu apartamento uma única vez e há anos atrás, prestes lhe pedir um favor. Logo, Jackson entendeu que aquele encontro, de longe, era uma coincidência. E ele estava redondamente certo.

O professor de matemática só não imaginava que o tal favor seria tão surpreendente.

– Você está brincando, não é?! – indagou, ainda desacreditado.

– Não, eu não estou.

– Você só pode estar louco!

John respirou fundo. Recostou-se na cadeira e encarou um ponto qualquer da sala, buscando firmeza para refazer o pedido. Talvez para Jackson ou qualquer outro que o visse naquele momento, ele estivesse sendo forte ou até mesmo indiferente, mas a verdade é que estava desmoronando por dentro.

Desde que tomara a sua decisão, lutava arduamente contra o próprio coração, apesar de uma batida se esvair a casa vez que lembrava de tal ideia. Ele, melhor do que ninguém, sabia que era uma loucura. Uma loucura que beirava a estupidez, um ato de egoísmo. Afinal, a partir do momento em que decidiu seguir o seu sonho de ser músico, sabia que não tinha mais qualquer direito de interferir na vida de Clara.

Porém, no fundo, só queria ter a certeza de que ela estaria com alguém que a amasse e pudesse cuidar do jeito que ele não poderia mais. John desejava que mesmo não sendo ao seu lado, Clara fosse feliz com uma pessoa que fizesse dela o centro de sua vida, algo que havia - com muito custo – aberto a mão para realizar o seu sonho.

Estar diante de Jackson para fazer aquele pedido levava o que restou de seu coração, já que a outra e mais importante havia partido com a ligação que deu fim a tudo. Se perguntava todos os dias como estava suportando tanta angústia. Era tão difícil, tão doloroso. Mas ele tinha que suportar. Se esforçou mais do que qualquer pessoa ao longo dos últimos três anos, dado tudo de si, e a chance de ouro apareceu.

Tinha que suportar. Por ele mesmo, por ela. Embora lhe doesse na alma.

John deu um gole na água que Jackson servira e disse ao soltar um suspiro:

– Eu sei que é uma loucura, mas não teria vindo aqui se não estivesse certo do que estou fazendo. Não há ninguém melhor do que você, Jackson. Na verdade, eu não me atreveria a pedir isso para outra pessoa que não fosse você.

– Eu não sei se posso. Isso seria brincar com os sentimentos da Clara e...

– Não estou pedindo para forçá-la a um relacionamento. Óbvio que não. Eu não seria tão baixo assim. O que estou pedindo é que esteja sempre ao lado dela, seja como amigo ou o que for. Se rolar algo entre vocês... – fechou os olhos rapidamente. Como era difícil dizer – Que a ame por nós dois e cuide dela como eu infelizmente não posso. Sei que você sempre a amou e também sei que vai protegê-la.

Jackson permaneceu calado. Definitivamente, aquela conversa não fazia o menor sentido. Tudo bem que John havia lhe explicado o porquê de tal decisão, sobre o contrato que logo assinaria e em como as cláusulas implicavam em não poder manter qualquer tipo de relacionamento amoroso por anos para que focasse totalmente na carreira até que estivesse no auge e estabilizado no ramo.

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