[5] Com Gosto de Antares

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Naquele momento parecia que todos os ventos do Leste haviam cessado. O céu que por um breve instante chegou a anunciar uma tempestade em resposta ao castigo do deus-sol durante o dia, agora resolveu que era melhor dar lugar as estrelas novamente, as tão conhecidas constelações do hemisfério sul. E lá estava ela, destacando-se em um vermelho inconfundível, a estrela alfa da constelação de Escorpião: Antares. Brilhava intensamente mais do que de costume, como se vibrasse na mesma intensidade do homem de cabelos azulados que detinha sua confiança e que ofegava, ali, em frente ao 8º templo sagrado do santuário da deusa Atena.

Kardia não podia acreditar no que via, sentia e pressentia. Aquele que por muitas vezes inundara seus sonhos com os desejos mais ínfimos que já tivera, estava bem ali, à sua frente e prestes a colar os lábios nos seus. Era realmente inebriante ver o quão aqueles olhos podiam tragá-lo para uma dimensão paralela. Definitivamente, não conseguia raciocinar direito diante deles, era praticamente impossível pensar enquanto Dégel lhe devolvia seu olhar curioso com um outro doce e desejoso e de forma lenta, se aproximava cada vez mais dos seus lábios, as mãos segurando a face do escorpiano com firmeza, a respiração entrecortada exalando um aroma de vinho e tão próxima que o escorpiano pensou que pudesse se embriagar também só de tragar aquele ar quente vindo de encontro a sua boca.

Era estranho, além de não conseguir dizer nada, o grego parecia estático, não conseguia mover um dedo sequer. Sempre se imaginou nas mais diversas situações em que, por fim, provaria de seus lábios, mas por outro lado, se imaginava sendo o predador e não a presa.

Foi quando, decididamente, o outro fechou os olhos e os lábios dele tocaram timidamente os seus que Kardia se deu conta que finalmente iria descobrir qual seria o sabor do beijo aquariano, aquele que ele guardava a sete chaves.

Dégel logo de início não se conteve, emitiu um murmúrio baixo assim que encostou os lábios nos dele. Fez pressão procurando ser o mais cuidadoso possível enquanto explorava sua textura. Kardia se demorou um pouco mais de olhos abertos observando o que ele estava fazendo e acima de tudo, custando a acreditar, mas não resistiu por muito tempo, fechou os olhos e se deixou mergulhar naquele deleite francês. Pensou rapidamente em agarrá-lo de vez e conduzir aquela necessidade ávida de ambos. Porém, diferente de tudo que já sentira algo naquele momento o estancava.

Os corações? Batiam acelerados. As mãos? Ocupadas em carícias um tanto ousadas, principalmente em se tratando de Dégel. A respiração, então? Descompassadas, audíveis, acusadoras. E quanto às línguas? Decidiram que era hora de dançar.

Kardia se viu derreter, mas se sentia esquisito. Com um esforço descomunal, trouxe sua razão novamente à superfície exatamente no momento em que Dégel afastara seus lábios e com a língua e pedia desesperadamente por passagem para que pudesse explorar a boca do escorpiano. Foi breve, mas Kardia pôde sentir a pontinha da língua dele roçando na sua. Seu corpo estremeceu da cabeça aos pés, uma onda meio gelada subiu de sua barriga e uma vontade incontrolável de aprofundar aquele beijo surgiu. Mais uma vez as línguas se encontraram uma delas meio que hesitante e um gostinho adocicado de vinho foi o que Kardia sentiu. Logo, lembrou-se do porquê aquilo tudo estava acontecendo.

Dégel, agora com os olhos abertos parou como se esperasse do outro uma reação que não vinha, e enquanto ele respirava penosamente, com os lábios ainda colados aos dele, percebeu que o escorpiano finamente se moveu; porém, aquela não era a ação tão esperada pelo aquariano.

Sentindo o coração acelerar e a já conhecida febre desapontar, o grego levou uma mão ao peito do outro, subindo lentamente numa espécie de carícia, como se tivesse pedido desculpas antecipadas e sem demora o empurrou, de uma forma nada gentil, fazendo com que Dégel se desequilibrasse e caísse dois degraus a frente, apenas não descendo escada abaixo por que conseguiu se endireitar no último minuto com o resquício de forças que ainda tinha.

In Vino Veritas | Kardia x DégelOnde histórias criam vida. Descubra agora