[7] Veneno e Vinho

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Quem poderia imaginar que os moradores da pacata vila siberiana localizada nos confins do oeste russo estariam sob uma das mais cruéis experiências da face da Terra. Formada principalmente por nativos, o que predominava naquele lugar era o clima gélido, o vento cortante e a paisagem branca. Estava tudo silencioso. Era possível dizer que não havia habitante algum ali e justamente por esse motivo se tornara o alvo principal para os propósitos macabros daqueles dois seres inóspitos, mas que tinham algo em comum: haviam acabado de se tornar espectros e, orgulhosamente, exibiam suas sapuris em seus peitos estufados

— São mesmo muito frágeis, não acha, Helmold ? — disse rindo e tocando o outro no braço.

— São, sim. Dá até vontade de quebrar ossinho por ossinho antes de lançar eles no poço. — respondeu o mais baixo, porém, não menos feio Gravel.

Aglomerados no canto de uma caverna, um grupo de pessoas assustadas pelo que viam, gritavam e, inutilmente, cavavam a parede atrás deles com as próprias unhas, tamanho era o desespero em tentar escapar daquele horror. No centro da caverna os espectros haviam feito uma enorme cratera e dela, regularmente, surgiam labaredas de fogo. O poço, como assim os espectros o chamavam, transbordava uma espécie de lava escura que criava bolhas de fervura naquela mistura líquida e que, quando um humano era lançado para dentro, braços estranhos e animalescos os seguravam, tragando-os para baixo enquanto suas peles eram queimadas e dilaceravam com extrema rapidez.

Os espectros olhavam orgulhosos para o trabalho feito. Restavam apenas cinco pessoas, dentre elas uma criança de 4 anos que berrava em plenos pulmões e se agarrava ao pai. Isso significava que o mais velho dos espectros deveria sair em busca de mais pessoas para queimar enquanto o outro ficaria de guarda da caverna e completaria o serviço. Como a maioria dos habitantes daquela ilha já haviam conhecido seu triste fim, seria necessário expandir a captura para outros países.

A dupla estava certa que começaram com o pé direito naquilo de ser espectros, e com certeza, o Sr. Aiacos iria notá-los e quem sabe até elogiá-los devidamente frente Srta. Pandora, afinal de contas, eles estavam encarregados de transformar todos aqueles seres humanos inúteis em soldados menores para exército de Hades, e aquele poço em questão era a chave para a tal transformação.

Gritos e mais gritos se ouviam de dentro da gruta, mas que não podiam ser percebidos da mesma maneira do lado de fora, graças ao extraordinário poder de Gravel que erguia uma espécie de barreira espelhada capaz de camuflar qualquer cosmo. A tal barreira também podia, incrivelmente, iludir a qualquer um que passasse em frente da caverna, pois o que se via por fora era exatamente o lado de dentro, mas completamente vazia, como se não houvesse ninguém, como se nenhuma atrocidade estivesse acontecendo ali.

Não muito distante, dois jovens cavaleiros de Athena vasculhavam agora por entre pequenas grutas e por trás de enormes rochedos. Depois de terem passado pelo vilarejo e visto que praticamente todos habitantes dali haviam desaparecido de vez, apressaram-se em procurar por lugares que, de alguma maneira, Dégel poderia ter negligenciado há alguns dias atrás.

— Tem algo muito errado aqui! — disse um contrariado aquariano. — Eu me certifiquei de olhar em todos os lugares, nas casas, cavernas e até mesmo na área vulcânica e não vi nada anormal, porém todos os habitantes daqui sumiram por completo.

— É isso que dá esquecer os óculos no templo antes de sair pras suas missões! — suscitou um abusado escorpiano. Parecia que Kardia havia pegado gosto em repreender Dégel ultimamente e isso, aos poucos, irritava cada vez mais o aquariano, para a completa alegria de Kardia, claro! Afinal, aquilo demonstrava que o amigo estava voltando ao normal ou pelo menos o mais próximo disso.

Durante todo caminho, Dégel permanecera calado. Evitava prolongar os assuntos paralelos que o outro tentava iniciar e só brindava o ar com sua voz quando Kardia lhe perguntava por mais detalhes que pudessem ajudar na investigação da missão.

In Vino Veritas | Kardia x DégelOnde histórias criam vida. Descubra agora