Tive o zelo de ir até o banheiro da 1º classe para me arrumar, mesmo que eu não gostasse de ter essa rotina todas as vezes que viajava essa era a única exigência de meu pai, já que ele não se importava comigo, eu fazia o possível para agradá-lo e ter o seu carinho novamente como tinha quando minha mãe era viva. Assim que entrei no banheiro, pus meu necessáire sobre o balcão e passei a encarar o meu reflexo no espelho. Eu era a cópia viva dele, desde o formato do nariz, os cabelos loiros, os olhos castanhos, a pele clara. Não havia herdado nenhum dos maravilhosos traços brasileiros de minha mãe. Não havia necessidade de que eu me arrumasse muito, a genética gostava de colaborar ao meu favor, acabei apenas desembaraçando meus longos cabelos e passando um gloss em tom nude terroso e rímel.
Retornei ao meu assento bem a tempo de ouvir a aeromoça pedindo para que afivelássemos nossos cintos, pois o avião estava próximo de pousar no aeroporto de Los Angeles. Lembranças da rotina de agradar a sociedade e evitar os clicks dos tabloides invadiam minha mente, mas o que me aterrorizava mesmo era imaginar para onde meu pai me mandaria desta vez, e sem me consentimento. Meu pai era dono da maior multinacional de Los Angeles, e acabou conhecendo minha mãe em uma das suas viagens a negócios no Brasil. Não tenho muitas lembranças de minha mãe, mas posso lembrar como eu amava passar o tempo com meu pai, ele era muito presente e costumava me ensinar todas as coisas boas que eu me lembro. Mas desde o acidente de mamãe, ele mudou da água para o vinho, eu passei a ser o seu maior tormento e sempre que possível ele me afastava ao máximo me enviando para viagens ao redor do mundo. Eu conhecia o mundo, mas não sabia quem era o homem que me deu a vida e o amor que um dia eu conheci.
Assim que o avião pousou e fiz o check-in fui procurar o motorista que era encarregado de me buscar sempre que retornava, mas ele não estava por ali. Pensei que ele havia ficado preso no trânsito. Logo entrei no primeiro táxi que encontrei e enviei uma mensagem ao motorista:
"Oi, não te encontrei". Peguei um táxi, não se preocupe comigo.
Capitu."
A mensagem foi visualizada, mas não houve resposta, aquilo era muito estranho. Jonah sempre me respondia. Assim que o táxi encostou em frente à enorme e exagerada casa em que morava, aquela casa que nunca gostei, desci e fui entrando, mas foi uma tentativa sem sucesso.
- Desculpe Capitu, sua entrada não é mais permitida nesta casa – Disse Gion, que era o segurança da casa.
- Como não Gion? Eu moro aqui? – Tentei então entrar, mas os braços enorme de Gion me seguraram.
-Desculpe Senhorita, são ordens do Sr.Whoop.
Não podia acreditar no que eu estava vendo, meu próprio segurança não me deixou entrar por nada. Por infortúnio do destino, fui obrigada a ligar para meu pai. Mais uma das minhas ações realizadas sem sucesso. Assim que a ligação caiu na caixa postal, um sms caiu em minha tela. Era a secretária de meu pai respondendo minha ligação.
"Boa tarde, sr. Whoop, pediu para que eu avisasse que ele está viajando em Lua de Mel, e que você não faz mas parte dessa família, disse que tem apenas o direito de ficar com as coisas que estão em suas malas."
Aquilo me caiu como uma bomba e me quebrou em todos os sentidos, então voltei meu olhar para Gion, e pude perceber que estavam começando a ficar mareados, Gion sabia de tudo desde o início e eu nem sequer podia culpa-lo por não permitir minha entrada em casa. Nesse mesmo instante meu celular vibrou, era outra mensagem da secretária:
"Desculpe Capitu, não queria ter enviado esta mensagem, mas estou apenas fazendo meu trabalho, espero que entenda...".
A primeira coisa em que pensei foi em ir para um hotel, mas assim que tentei fazer uma reserva, descobri que todos os meus cartões haviam sido cancelados, e eu agora estava à mercê, eu não tinha aonde ir e muito menos como sair dali. Tentei então impedir as lágrimas de caírem, mas foi em vão, pude as sentir rolarem ao mesmo tempo em que meu corpo ficou todo trêmulo. Senti então Gion me abraçar.
- Vai ficar tudo bem – Ele dizia.
Ele não era apenas o segurança de meu pai, mas era também irmão de minha melhor amiga Meggan. Eles eram exatamente iguais, mesma pele bronzeada, mesmo formato de rosto, e até os mesmos olhos e cabelos pretos. Enquanto o encarava, tentei formar frases em meio às lágrimas:
- Como ficaram bem Gion? Eu não tenho para onde ir, muito menos como ir.
- Não pode ir para casa de nenhum parente? – Ele perguntou na melhor das intenções.
- Os únicos parentes que tenho contato estão no Brasil, e não tenho como chegar lá agora.
Antes que Gion respondesse, o rebati.
- Sabia que meu pai não me amava, mas eu esperava ao mínimo um pouco de humanidade ou consideração. Ele não mereceu o amor de minha mãe, NUNCA MERECEU!
- Vamos dar um jeito, você pode ficar lá em casa até conseguir algum lugar para ficar. Meggan vai adorar ter você por perto, isso te fará muito bem, e eu vou agradecer que não vou ter que ficar de vela outra vez quando ela estiver se agarrando com Ezra durante os filmes.
Sem muito pestanejar aceitei a oferta, afinal não tinha mais para aonde ir. Gion então me levou para sua casa. A fachada era simples e aconchegante. Assim que entramos, entendi o que Gion quis dizer com "Meggan se agarrando com Ezra". Eles estão se beijando freneticamente, e nem puderam perceber quando entramos, eles só notaram quando Gion fingiu estar tossindo. Ambos ficaram vermelhos, e assim que eles se recuperaram, Meg percebeu minhas malas e meu estado, ou seja, ocorreu uma chuva de perguntas.
- Capitu, o que aconteceu?
Assim que expliquei tudo, Meg me acomodou em seu quarto. A casa era pequena, afinal ela morava apenas com seu irmão. Seu quarto não era muito grande, mas acomodava perfeitamente a sua cama de casal. Assim com o restante da casa, tudo era ótimo, e aquilo seria temporário, eu precisaria encontrar algo logo, e sair daquela situação.
Resolvi me deitar na cama de Meg para descansar, meu dia teve muito mais emoções do que eu jamais imaginaria viver. Ao acordar iria pensar em uma maneira de me livrar daquela situação toda. Não iria sair por baixo e deixar o homem ao qual eu um ia chamei de pai e amei destruir toda a minha vida.
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Assim que acordei, fui até a sala onde encontrei Meggan com Ezra, eles discutiam algo, e assim que me viram Ezra gritou:
- Vai ter uma festa hoje! Ajude-me a convencer Meggan!!
- Por que você não vai Meg? - Perguntei à minha amiga.
- Não quero te deixar sozinha Cah.
- Se eu for ficar atrapalhando sua vida, eu vou morar na rua. - Rebati antes que pudesse pensar em qualquer outra resposta, e percebi que havia deixado todos constrangidos. Aquela não era minha intenção.
- Ok! Vocês vencerão. Amor arrume mais uma pulseira, Capitu vai junto.
- Eu não vou a lugar nenhum!! - Gritei assim que ouvi Meg dizer, e me arrependi de tentar convencê-la, mas pela cara dos dois era tarde demais para desistir, então acabei cedendo.
Ezra logo foi embora, e vi Meg carregando minhas malas para o outro quarto, estranhei porque aquele era o quarto de Gion. Logo a questionei:
- Eii, o que está fazendo?
- Estou te dando um quarto. Gi ligou e disse que o seu pai o mandou para outra casa, então ele não vai voltar tão cedo, porque essa é fora de LA.
- Primeiro ele não é mais meu pai, e prefiro esquecer que um dia já foi. E em segundo, você tem certeza que não vou incomodar?
Ela assentiu e ordenou entre gargalhadas que eu fosse me arrumar para a tal festa. Eu não tinha a menor vontade de ir, mas eu não tinha nada a perder, e além do mais precisava esfriar a cabeça, já que não fui capaz de ter um momento de paz uma vez que meus pensamentos me traiam sem pestanejar.
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Tatuando o Destino
RomanceCapitu era filha de um dos homens mais poderosos do país, mas perdeu sua mãe muito cedo, ficando aos cuidados apenas de seu pai, que não fazia questão de estar presente em sua vida, mandando-a sempre para o mais longe possível. Após retornar de um e...