Capítulo 22 - Sam

4 2 0
                                    

Estou no banho. O que me deu para olhar daquela forma para ela? Eu tenho namorada. Mas os seus olhos verdes, as bochechas rosadas, os seus caracóis molhados e o seu corpo maravilhoso nas minhas roupas, superou-me. Mas isso não pode voltar a acontecer.
Dou por mim a pensar no seu jeito meigo de falar, no seu sorriso e na sua beleza. O que se passa contigo Sam? Para com isso.

Vou para o quarto com uma toalha a cobrir até aos meus joelhos presa na cintura. Entro nele. A Star fica corada e diz – Vou-me virar.
- Não precisas. – digo num sorriso de convencido.
- Não sejas parvo Sam. – vira-se de costas.

Troco-me rapidamente, optando também por uma t-shirt e uns calções.

- Sabes que horas são? – ela pergunta, virada de costas.
- Não. - caminho para a sua frente.
- Já são 5 da manhã. O tempo voa.
- Já? Então, vou-te lançar um desafio.
- Qual?
- Dormires comigo, lado a lado.
Ela cora e diz – Não posso, prometi à Kitty que quando ela acordasse eu estaria ao seu lado.
- A Kitty acorda sempre às 10h. Por isso, não tens desculpa. A não ser que tenhas medo.
- Eu não tenho medo!
- Então aceita o desafio.
- Está bem.

Nem acredito que ela aceitou. Só espero que isto não dê para o torto.
Sento-me ao seu lado na cama. Ambos estamos calados.

- Vou-me deitar, está bem?
- Sim, deito-me contigo.

Sinto-a tão perto de mim. Dou-lhe a mão, o que a apanha totalmente desprevenida, porém ela tira-a.
Fico triste e nem sei porquê.
Passado cerca de uma hora ela diz. - Sam, estás acordado?

- Estou.
- Podemos ir ver o nascer do sol?
- Sim, grande ideia.
Levantámo-nos e dirigimo-nos ao telhado. Este é definitivamente o nosso lugar.

Sentamo-nos e esperamos o nascer do sol. Cerca de 10 minutos depois lá está ele.
Observo Star, está fascinada. Ela é tão atenta às pequenas, mas grandes coisas...à simplicidade da vida.

- Star?
- Sim?
- Porque não deixas as pessoas se aproximares de ti?
- Como assim?
- Tu afastas as pessoas. Não deixas que elas te conheçam verdadeiramente. Por exemplo, as pessoas que estão de fora, vêm-te alegre, um pouco desastrada... não deixas as pessoas verem a parte séria em ti, só transpareces as partes de brincadeira, isso pode fazer com que as pessoas pensem que és imatura, algo que está completamente errado. Porquê que não deixas as pessoas te conhecerem?
- Porque quanto mais pessoas deixas entrar na tua vida, mais elas podem sair dela, dececionando-te. Talvez eu pareça sempre alegre e até mesmo desastrada, mas faz parte de mim também e sempre fará. E quanto à maturidade, eu consigo ser matura para umas situações, mas para outras bem infantil.
- A parte infantil sempre te vai acompanhar ao longo da vida. Qual a graça da vida se se levar tão a sério?
- A vida tem de ser vivida no presente, como se cada dia fosse o último. Aproveitar cada dia ao máximo e não se chatear com coisas insignificantes.
- Não podia concordar mais. – digo.
É tão bom ter estas conversas com ela.
- Quanto ao que te disse, pensa nisso. Não quero que percas a tua essência, mas quero que arrisques. Vida só há uma e deves aproveitá-la ao máximo.
- Tens razão, vou pensar. Obrigada Sam.
- Não tens de agradecer.
Ela sorri.
- Dá-me o teu número de telemóvel.
- O quê?
- O teu número.
- Porque queres o meu número?
- Para te informar quando te for assassinar.
Ela olha para mim com uma cara horrorizada.
- Estou só a brincar miúda desastrada, para falar contigo como é óbvio.
- És mesmo um gabarola!!
- Vai-me dar o teu número ou não?
Ela olha para mim como se estivesse a pensar em algo muito importante – Está bem. – disse e deu-me o número.
- Aqui tens o meu – digo lingando-lhe.
Ela marca o meu número como "Gabarola", ela não sabe que vi. O que ela não sabe é que o dela já está como "Miúda Desastrada".
- Qual o teu maior medo? – pergunta deitando-se.
- Perder a minha família e o teu?
- Falhar ou então perder a minha identidade.
- Falhar ou perder a tua identidade?
- Sim, falhar com as pessoas que mais gosto. Perder a minha identidade, não saber quem sou, o que fazer, é bem assustador
- Toda a gente falha, Star. Quanto a isso, se algum dia isso te acontecer, espero que não, eu vou estar lá para te ajudar a recuperá-la.
- Eu sei, mas só não gosto. Falhar significa perder alguém. Obrigada Sam, mas não precisas de o fazer pois isso é das tarefas mais difíceis.
- Falhar não significa perder alguém, só perderás a pessoa se ela não te merecer. Eu gosto de tarefas difíceis.
Ela ri e diz – Claro que gostas. Não sei se é bem assim, às vezes tu é que não mereces a pessoa.
- É totalmente o contrário, se ela te merecer, irá te acompanhar sempre e nunca te deixar.
- Tens uma certa razão.
- Claro que sim, sou Sam Scott.
Ela ri e observa o céu. Ficamos calados por algum tempo.
Começa-se a ouvir os passarinhos a cantar e reparo que ela adormeceu.
Pego-a ao colo e dirijo-me ao meu quarto. Deito-a na minha cama e observo-a enquanto dorme, talvez até pareça psicopata, mas não me importo. Ela parece um anjo a dormir, transmite uma serenidade incrível. Vê-la com as minhas roupas deixa-me a sorrir de orelha a orelha, não sei bem porquê, só sei que deixa.
Deito-me ao seu lado. Ela mexe-se virando-se para mim. Decido virar-me para ela e observá-la mais um pouco. Um sorriso desenha-se nos seus lábios.
- Não precisas de me observar, só dormir. – diz de olhos fechados.
Fico muito atrapalhado e sinto as minhas bochechas arderem. – Eu... eu... - não sei o que dizer.
- Está tudo bem. – abre os olhos e ri-se. Aproxima-se de mim e deita a cabeça no meu peito. Faço-lhe mimos ao mexer no seu cabelo macio, que cheira a morango e que eu tanto adoro.

Ela volta a adormecer. Sinto os meus olhos pesarem e finalmente adormeço.

Espero-te nas estrelasWhere stories live. Discover now