Ato I - cena 1

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Amanhecia no reino de Valachia, a pequena província próspera e acolhedora entrava na mais importante semana do ano. Seriam cinco grandiosos dias de comemorações, o 19º aniversário da Princesa Bonnie era hoje.
Como já era esperado, está data significava também que a jovem princesa ficaria noiva de seu futuro marido e futuro rei de Valachia, a garota, filha dos bondosos governantes William e Abgail, era bastante altiva e inteligente, e uma leitora incansável.
Quando perdeu sua mãe, ainda criança, ela não entendeu muito bem os motivos, só se lembrava de ter ficado exilada com seu pai por meses, e nunca mais vira sua mãe. Mas agora, ela entendia completamente o que havia acontecido, a carruagem que levava a rainha Abgail foi abordada pelo exército inimigo, e ela fora sequestrada, agredida, violentada e morta por eles. Ainda assim, Valachia venceu a guerra contra a província de Greenit. Mas sua mãe jamais retornaria.
Tal fato, gerou na menina um medo e raiva, quase irracionais, por homens, ela não falava com nenhum homem exceto seu pai, tinha horror a história trágica de sua mãe e isso a fez se fechar em copas quanto a ideia de se casar um dia.
O rei William era um homem bondoso e compreensivo, mas também muito conservador nos valores de seu reino, por isso, de maneira alguma ele mudaria de ideia sobre casar sua única filha, já estava velho e sua saúde dava sinais de que não lhe garantiriam muitos anos de vida, tudo o que lhe preocupava era casar Bonnie com um homem bom e justo e que cuidasse dela e de seu povo.


 Os criados prepararam o café da manhã da princesa com todo capricho, ela adorava seus aniversários e geralmente aproveitava a data para pedir todos os seus pratos favoritos, além de sempre inundar o castelo de muita música e flores, era sua época favorita no ano. 

Hoje, sua acompanhante, Caroline, acordou animada e inspecionou pessoalmente todos os preparativos do 1º dia de festas, depois com ajuda de outros empregados se dirigiu com um farto café da manhã até os aposentos da princesa. Mas Bonnie não estava mais na cama, Caroline ouviu o som melancólico do violino e a encontrou na varanda. A princesa usava um vestido preto, um dos mais simples que tinha, sempre que vestia preto era sinal de cólera, e isso não era boa coisa.
⁃ Bom dia, majestade. - Disse Caroline com um sorriso amigável.
⁃ Bom dia, Caroline. - Bonnie respondeu com a voz dura e inexpressiva, ela anotou alguma nota em sua partitura.
⁃ Feliz aniversário, vossa alteza! Trouxe seu desjejum especial, e as flores estão lindíssimas. Caroline disse alargando seu sorriso.
⁃ Pode deixar aí, comerei depois. - A princesa respondeu voltando sua atenção novamente as notas tristes e sombrinhas de seu violino.
Caroline a deixou na varanda sentindo a chateação de encontrar Bonnie triste daquela maneira, ela sabia que a garota não desejava se casar, mas que no fim desses cinco dias de comemorações ela teria um futuro marido e não havia nada que pudesse fazer.
A algum tempo atrás o rei William avisou sua filha que se reuniu ao conselho, e que existiam alguns pretendentes para ela, Bonnie ficou ensandecida de raiva, achou um ultraje seu pai insistir naquela insanidade.
⁃ Tranque-me em um convento, então! - Ela bradou desesperada com a ideia de ser entregue a um homem desconhecido.
⁃ De maneira alguma, és minha única filha e herdeira, precisa ter filhos para lhe sucederem no trono. William exigiu ignorando o ataque de raiva da filha.
Agora a garota não tinha mais ideias, não sabia mais o que fazer, até mesmo ameaçou tomar veneno para livrar-se daquela injusta exigência, mas com medo que de fato ela o fizesse, o rei mandou confiscar todas as substâncias venenosas de toda a província, aqueles que precisavam de alguma droga para o controle de doenças, passava por um rigoroso sistema, tamanho foi o medo do rei de que sua filha cumprisse a ameaça.


  Sabendo da profunda depressão em que se encontrava sua menina, William mandou preparar o almoço para que desfrutassem juntos, antes de irem a praça realizar a primeira etapa das festividades de aniversário. 

⁃ Minha querida, estás ainda mais bela hoje. Ele disse vendo a filha com um outro vestido preto, esse um pouco mais formal, mas igual ao outro, demonstrava o desgosto da jovem pela data.
⁃ Não há beleza que perdure a aflição em que está meu coração, é questão de tempo até que meu exterior esteja tão seco e amargo quanto meu âmago. Ela disse com seu tom teatral e dramático. Caroline rolou os olhos achando graça na chantagem emocional que sua amiga fazia.
⁃ Minha abelhinha, durante o baile você se alegrará e poderá conhecer os jovens príncipes que se juntarão à nós. - O rei disse ignorando a tragédia teatral que sua menina encenava.
Se sentaram para comer e Bonnie sentia o peito apertado em perceber que não teria escapatória, chorar e implorar não faria seu pai demover tal ordem.
⁃ Poderia me conceder um desejo, meu pai? - Ela pediu resiliente.
⁃ Se estiver ao meu alcance, realizarei com o maior prazer. - O rei disse animado.
Bonnie era tudo o que ele tinha, e mesmo tendo pulso firme de pai, ele desejava vê-la feliz, com uma família grande que a amasse tanto quanto ele amou ela e sua mãe.
⁃ Já que terei que me casar com um forasteiro, um completo estranho, gostaria de garantir ao menos que ele não seja um bobo da corte. - Ela começou a falar com a voz tensa.
⁃ Não quero escolher um rosto bonito, nem tão pouco uma fortuna substancial, se terei que me casar, que seja com um cérebro pensante. - Explicou ao pai.
⁃ E como chegará a essa conclusão? - Questionou o rei com curiosidade.
⁃ Um desafio! - Ela bradou um pouco mais animada. - Desejo submete-lós a três enigmas, e o príncipe que desvendar-lhes terá minha mão em casamento. -Ela disse observando a reação do pai.
⁃ Interessante! -Ele bradou animado, finalmente Bonnie começava a demonstrar o mínimo de boa vontade no casamento.
⁃ Tem mais uma condição. -Ela voltou a firmar a voz.
⁃ Diga! - O rei concedeu.
⁃ Aquele que aceitar o desafio mas não conseguir responder aos enigmas propostos, deverá pagar com a vida. Ela disse com frieza.
O rei William pareceu muito consternado com o pedido da jovem, Bonnie sempre se mostrou bondosa e muito sensata, pedir a cabeça de homens inocentes era impensável para ele.
⁃ De onde tiraste este desejo pela morte? Ele perguntou afoito.
⁃ Já disse, prefiro morrer a me casar, e sei que com essa condição nenhum dos preciosos pretendentes há de querer me desposar. - Ela falou se levantando da mesa.
⁃ Isso não é minimamente aceitável Bonnie. O rei gritou irritado.
⁃ Ou aceita minhas condições de escolha, ou eu me afogo na banheira. Ela falou ao sair andando em direção ao quarto.
⁃ Lady Caroline! - O rei chamou a loirinha que ia seguir sua ama até o quarto.
⁃ Sim, majestade. Ela voltou para atende-lo.
⁃ Mande que retirem a banheira do quarto dela, imediatamente. Se quiser banhar-se, que o faça de pé, ao menos não poderá se afogar. Ele ordenou pensativo.
⁃ Agora mesmo, meu rei. Ela disse andando até a cozinha. Chamou outros funcionários que rapidamente trataram de retirar a grande tina de madeira do quarto de banhos da princesa.
Ela esbravejou um pouco com essa invasão de sua privacidade, apesar das sucessivas ameaças, Bonnie achava que nunca teria coragem de tirar a própria vida.


O Rei William se reuniu aos membros do conselho e por maioria de votos eles decidiram ceder ao pedido da princesa, os candidatos pagariam com a própria vida caso não fossem capazes de desvendar o enigma. Contudo, os conselheiros do rei o advertiram a aumentar o dote, e talvez isso atraísse mais pretendentes. 

O Enigma  - BonkaiOnde histórias criam vida. Descubra agora