Konoha

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"Malditos!" A mulher loira de meia idade esbravejou após amassar e atirar a carta recém-aberta no fogo da lareira em frente a mesa de seu amplo e mal iluminado escritório.

"Tsunade sama! A senhora não deve xingar a Igreja! Acalme-se, por favor!" A mulher morena, alguns anos mais jovem, repreendeu.

"Como você quer que eu me acalme, Shizune? Você leu o que eles responderam! Nossa situação não se caracteriza como prioridade?! Se ter uma cidade inteira sob o jugo desses demônios não é prioridade, me pergunto o que é?" Disse enquanto dava às costas a sua assistente e socava firmemente a madeira velha da mesa cheia de papéis.

"A única coisa que podemos fazer é confiar no julgamento dos homens de Deus e aguardar." A secretária tentava argumentar inutilmente.

"Aguardar pelo quê? Pela morte? É a única coisa que vai chegar até eles decidirem..." Um silêncio amargo tomou conta do escritório da prefeita. Logo o sol iria se pôr e ambas sabiam muito bem o que isso significava...

Konoha. Assim era chamada a cidade pequena incrustada entre as montanhas no coração do País do Fogo e constantemente mergulhada nas neblinas da floresta que a cercava. Uma terra que já havia sido um rico e próspero entreposto de troca para todo comerciante que viajasse por aquela terra, porém, que há cerca de 50 anos, havia sido tomada pelo mal em sua forma mais pura: Um antigo clã de demônios vampirescos conhecido como Uchiha, ou o clã das aves negras, havia se instalado nas montanhas e transformado a cidade em sua principal fonte de alimento. Em pouco tempo, a notícia de que a cidade havia sido amaldiçoada se espalhou pelo país e os visitantes pararam de chegar. Alguns desavisados que se arriscavam nos arredores do local, acabavam mortos de forma violenta antes de adentrarem à cidade. O mesmo acontecia com os moradores que, na tentativa de salvarem suas vidas, fugiam dali.

No início, os líderes, junto a população, resistiram bravamente. Lutavam, oravam, estendiam crucifixos e jogavam água benta nos monstros, porém, nada era capaz de derrubá-los... Até que, vencidos, todos se renderam e passaram, então, a aceitar a situação como uma espécie de carma do qual não se podia fugir. A população passou a ser ensinada a nunca caminhar pela floresta ou tentar sair da cidade; a nunca andar pelas ruas durante as horas escuras e a sempre carregar um crucifixo sob suas roupas. Tudo apenas de forma paliativa, afinal, nenhum desses métodos era efetivo: a sombra das montanhas bloqueava os raios de luz que poderiam ferir os demônios garantindo-lhes segurança para irem à cidade e andarem pela floresta no momento em que desejassem. Ademais, as cruzes e os demais objetos sagrados nem sequer os paralisavam.

Para Tsunade, esta situação era um opróbrio ao qual não aceitava submeter-se. Quando criança viu seu avô morrer combatendo uma horda de Uchiha e, mais tarde, já moça, viu seu irmão mais jovem e o amor de sua vida perecerem da mesma forma. Decidiu, então, colocar todos os seus esforços na libertação de Konoha e encontrou em seus dois assistentes, Katou Shizune e Hatake Kakashi, o mesmo espírito de revolta. Secretamente, treinaram arduamente alguns homens nas antigas artes da caça aos vampiros e do exorcismo. A prefeita também passou a enviar cartas aos tribunais da Inquisição na tentativa de obter apoio da Santa Igreja e reforçar ainda mais sua luta contra o mal.

Entretanto, os bons ânimos duraram apenas até o primeiro ataque... A Anbu, nome dado ao pequeno exército formado pelos jovens sonhadores que desejavam a liberdade de Konoha, conseguia resistir e salvar algumas vidas, porém estava longe de ser uma real ameaça aos vampiros do clã. Os Uchiha eram muito fortes, resistentes e não caíam perante as técnicas tradicionais de exorcismo.

"Notícias de Kakashi?"

Como medida desesperada, o líder da guarda Anbu ofereceu-se para procurar socorro fora dos limites da cidade. Mesmo sabendo que, ao tentar sair, poderia ser atacado e morto pelos monstros. Ainda assim, o homem de cabelos cinzentos e fala mansa, decidiu arriscar-se em uma missão suicida.

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