Livrai-nos do mal

Os Hyuuga

As manhãs em Konoha eram sempre tão desagradáveis quanto as noites. A umidade acumulada na superfície das lagoas da floresta misturava-se ao odor amoníaco que exalava das árvores mortas e condensava-se um nevoeiro que pesava sobre as ruas, dificultando a visão. A densidade da névoa impedia que o sol aquecesse apropriadamente a cidade, dificultando sua dissipação e resultando em uma perene e incômoda garoa que durava até por volta do meio dia.

Porém, naquela manhã, algo diferente havia acontecido...

Lentamente, os moradores que abriam as portas e janelas de suas casas, contemplavam confusos o brilho ainda gentil do astro rei a banhar as ruelas da cidade. Muitos se entreolhavam curiosos, pois, pela primeira vez em muitos anos, as pedras da praça principal não estavam escorregadias. Pela primeira vez em muitos anos, não havia a necessidade de usar as costumeiras capas longas que protegiam as vestes da umidade excessiva. Pela primeira vez em muitos anos, as enormes vidraças do prédio da prefeitura refletiam fortemente um brilho matutino que aquecia a pele de todos. Pela primeira vez em muitos anos, a névoa conjurada pelo clã Uchiha não estava mais ali.

Um sorriso miúdo riscou nos belos lábios de Hinata, que há muito já se encontrava desperta e observava da janela de seu quarto no segundo andar, a curiosidade quase infantil das pessoas pelo novo cenário que lhes cercava. Os olhares, os sorrisos e as vozes alegres chamando umas às outras aqueciam o coração da Hyuuga e, até mesmo, a faziam esquecer das dores que sentia por todo o corpo.

"Com licença, senhora! Bom dia." Uma jovem de sorriso aberto disse após bater na porta aberta do quarto e tirar Hinata de seus devaneios. "Me chamo Tenten e fui designada para ser sua criada enquanto estiver em Konoha."

A jovem Tenten não devia ser muito mais velha que Hinata, porém a vida simples e cheia de privações de Konoha a conferiam uma aparência madura que, de alguma forma, não combinava com sua voz jovial. Seus cabelos castanhos estavam presos em dois graciosos coques laterais no alto da cabeça e sua pele naturalmente bronzeada harmonizava bem com o tom dos grandes e gentis olhos castanhos.

A jovem juíza não gostou da ideia de ter alguém ali apenas para atendê-la. Não havia motivos para tratamentos privilegiados. Os Hyuuga estavam ali para cumprir uma missão pela qual foram bem pagos. Não queria que aquelas pessoas sentissem que deviam servi-los.

"Bom dia, Tenten. Obrigada, porém, não há necessidade de uma criada só para mim..." A Hyuuga, respondeu gentilmente enquanto observava a jovem adentrar o recinto em uma atitude decidida.

"Me disseram que a senhora poderia dizer algo assim. Mas não se preocupe! Será um prazer ajudá-la com qualquer coisa! É a nossa heroína... Foram vocês que dissiparam a névoa, não foi?" Tenten disse com uma euforia polidamente contida.

Com um leve sorriso, a jovem Hyuuga confirmou as palavras da serva que, liberando toda a energia contida pela etiqueta que sua posição social exigia, disse:

"Eu sabia! Aquela coisa horrorosa não teria desaparecido sozinha! Graças às luzes!"

Assim como Tenten não viu, ninguém mais em Konoha testemunhou quando os três caçadores enveredaram-se sozinhos no coração da floresta que cercava a cidade. Cada um voltado para uma direção, conjurou uma magia antiga, formando selos com as mãos e, com os olhos perolados fechados, proferiram palavras em uma língua desconhecida até que Konoha foi envolvida em um triangulo de energia esverdeada que cortou o chão e estendeu-se até os céus antes de expandir-se por toda a floresta em um clarão que ninguém contemplou.

"O que gostaria que eu fizesse para a senhora? Penteasse seu cabelo? Se bem que ele já está tão bem arrumado... Gostaria então de uma massagem? Tratamento facial?" Hinata sentiu uma simpatia instantânea pela extrovertida Tenten. A jovem era o tipo de pessoa que cativava os outros por sua simpatia. Porém, a Hyuuga apenas sorriu e disse recusando as muitas opções de atividades apresentadas pela jovem serva: