"Naquele momento, o silêncio significava dor."
O silêncio possui uma característica dicotômica fascinante. Ele pode ser bom ou ruim. Longo ou curto. Bem-vindo ou não. Feliz ou triste. Leve ou pesado. O silêncio, ironicamente, pode dizer tudo, como também pode não dizer nada. Pode ser afirmação ou negação. Certeza ou dúvida. Verdade ou mentira. Pode conter segredos, mas pode também conter revelações. O silêncio é uma variedade de dualidades que se apresentam de acordo com as situações nas quais é imposto. Ele se adapta facilmente a elas.
Meu pai sempre dizia a famosa frase "quem cala, consente" para Jorge e eu todas as vezes que ele achava que havíamos feito algo de errado. Entretanto, o que o dizer popular não sabia, e o que nem passava pela cabeça do meu pai, é que nem sempre quem cala consente. Quem cala pode ter medo de que algo ruim aconteça caso exponha o que tem a dizer; pode ser também que quem cala não concorde com o que o outro pensa ou faz, mas simplesmente não quer se meter em confusão.
O silêncio que se seguiu na sala da minha casa foi estranho. Não havia nada a ser dito, nem a ser sentido. O silêncio era apenas isso: silêncio. Guilherme me fitava de um modo peculiar, como quem quisesse desvendar o que eu escondia.
— Essa pizza já não deveria ter chegado? — perguntei, incomodada com os barulhos que meu estômago fazia. Era a única coisa que quebrava o silêncio.
— Acabei de ligar para a pizzaria, Estrelinha. — Guilherme riu da minha situação e arqueou uma de suas sobrancelhas em seguida. — Você está entediada, isso sim.
— Não, eu estou com fome mesmo. Deveria ter terminado de preparar meu sanduíche e tê-lo comido. — bufei, indignada. — Quer saber, é isso que vou fazer. Além do mais, seria estragar um sanduíche em perfeito estado.
— Não, não, Estrelinha, você vai comer a pizza. Aposto que você tem estômago de passarinho e, se comer esse sanduíche, vai estragar uma pizza maravilhosa. — Guilherme tentou me impedir, mas eu já estava caminhando em direção à cozinha.
Terminei de preparar meu sanduíche e voltei para a sala. Guilherme me observava tentando sufocar o riso. Ignorei-o e mordi o sanduíche. Foi como ir ao céu e voltar. Meu estômago agradeceu.
— Retiro o que disse. Você não parece ter um estômago de passarinho. O tamanho desse sanduíche comprova isso.
Dei de ombros e mais uma mordida no sanduíche. Guilherme continuava tentando sufocar o riso, mas, dessa vez, não conseguiu e o que escapou foi uma longa gargalhada. Parei o sanduíche no meio do caminho para a boca e o encarei.
— O que é tão engraçado? — franzi o cenho.
— Você é engraçada, Estela. — ele apontou para mim e depois para o sanduíche. — Não imaginava que uma senhorita tão delicada quanto você teria um apetite tão voraz quanto um caminhoneiro.
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Quando Eu Contava Estrelas
RomanceESTELA LÚCIA é uma jovem de 23 anos que nasceu para ser brilhante em todos os aspectos de sua vida. Entretanto, acontece algo muito ruim que a faz se tornar totalmente apática e fechada para qualquer pessoa fora de seu círculo familiar. Então, em ma...