Capítulo 12 - Passado

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"Acho que o mundo da fantasia passou a ser doloroso demais para ser imaginado diante da realidade

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"Acho que o mundo da fantasia passou a ser doloroso demais para ser imaginado diante da realidade..."


O PASSADO SEMPRE ME INTRIGOU. Saber mais a respeito das civilizações e culturas antigas e os grandes acontecimentos que as envolviam era algo que me fascinava. Sempre acreditei que nós, que vivemos o presente, somos resultado daquilo que ficou para a história. Talvez seja por isso que sempre detestei o dito popular que diz que quem vive de passado é museu. Afinal, somos, enquanto seres humanos, uma constante construção de histórias, e tudo o que fica em nossos passados reflete diretamente em quem nos tornamos no futuro. No final das contas, não somos nós grandes museus particulares?

Eu acredito que sim. Carregamos o peso de toda uma história de vida que, apesar de acreditarmos com convicção no contrário, afeta também as vidas de outras pessoas, assim como as histórias expostas nos museus. Elas nos afetaram e nós afetamos a quem nos rodeia através de nossas escolhas. É inevitável que aconteça, entretanto, seja essa interferência algo benigno ou não. Veja meu pai, por exemplo. De uma forma ou de outra, a sua reação à morte da minha mãe influenciou de modo profundo as pessoas que Jorge e eu nos tornamos: Jorge se tornou alguém que acreditava que nós devemos aproveitar cada segundo da vida; eu, entretanto, me tornei alguém que acreditava que a vida não tem tanto sentido assim.

Eu pensava nisso enquanto ouvia a longa gargalhada do meu irmão, que preenchia todo o ambiente e chamava a atenção de muita gente que estava naquele local. Meu pai acompanhava essas gargalhadas escandalosas e eu apenas observava, sem conseguir me contagiar pelo momento leve e gargalhar também. Qual havia sido a última vez que eu me permiti gargalhar daquela forma? Baixei os olhos quando constatei que havia sido há muito tempo. Suspirei longamente e senti algo estranho se instalar em meu peito, como um pressentimento de que algo ruim aconteceria muito em breve.

Balancei a cabeça de um lado para o outro, na tentativa de espantar os pensamentos agourentos, e fitei meu pai, que me observava atentamente.

— Você está bem, filha? — indagou-me preocupado.

— Só estava pensando... — respondi com um sorriso forçado.

— Pensando, hein? Pensando em quem, Estrelinha Lúcia? Aposto que em um certo rapaz de olhos castanhos. — meu pai me sorriu de forma estranha, o que me fez querer esconder o rosto, embora não fizesse a menor ideia a quem ele se referia. Sobre os cotovelos, seu Tiago se inclinou sobre a mesa do café e me encarou com aqueles olhos que pareciam vasculhar minha alma — Diga-me, meu amor, como andam os namoradinhos?

— Pai! — cobri o meu rosto, completamente envergonhada da pergunta típica de tias que visitam os sobrinhos apenas uma vez ao ano, enquanto Jorge gargalhava da minha situação. Eu não deveria passar por aquele constrangimento.

— Não é vergonha alguma se apaixonar, filha. — papai me sorriu com carinho, enquanto Jorge continuava a rir — Você sempre foi tão reservada com as questões do coração, mas pensei que você poderia ter mudado um pouquinho. Aos vinte e três anos, você já deveria ter vivido algum amor intenso.

Quando Eu Contava EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora