Capítulo 04 - Amizade

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"A verdade era que eu não confiava uma pequena parte da minha felicidade nem para mim mesma, então tampouco entregaria à outra pessoa com um poder de destruição bem maior

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"A verdade era que eu não confiava uma pequena parte da minha felicidade nem para mim mesma, então tampouco entregaria à outra pessoa com um poder de destruição bem maior."


Ter amigos verdadeiros é ter tudo na vida. Uma frase clichê que sempre foi expressada por meus pais, que acreditavam piamente que nenhuma pessoa é capaz de ser feliz sem ter amigos. Porque amigos são a família que escolhemos — às vezes, é a única que temos. São as pessoas com quem podemos contar, não importa qual a situação em que nos encontramos. São eles a nos ajudar a levantar quando caímos no abismo, e são eles também a comemorar conosco quando alcançamos o topo da montanha.

Talvez a frase clichê tenha razão, afinal. E ter alguém com quem contar seja, de fato, um aspecto importante da vida. Até por que ninguém consegue fazer tudo sozinho. As pessoas precisam umas das outras não só para se comunicarem, que é uma necessidade básica do ser humano, mas também para estabelecerem relações e alcançarem os seus objetivos.

Mas será que alguém poderia ser feliz sem ter amigos? Algumas pessoas dizem que não precisam de ninguém para vencer na vida, que tudo o que conseguiram foi fruto de seus esforços. São dominados por um narcisismo que lhes cegam e lhes tiram a razão, e acabam afastando quem os ajudou a chegar ao topo. Se dizem felizes, mas vão carregar sempre a sensação de estarem sozinhos no mundo, porque o egoísmo os impede de estabelecer relações verdadeiras com os outros.

O meu egoísmo em não deixar que ninguém entrasse em minha vida de forma profunda poderia ser uma explicação plausível para os dias seguintes, que repetiam a mesma rotina doentia: acordar cedo, ir ao trabalho, atender vários clientes com um sorriso forçado, voltar para casa em ônibus lotado, jantar, tomar banho e dormir mal por causa da insônia. Nas sextas-feiras à noite, meu irmão sempre saía com seus amigos e eu ficava em casa lendo algum livro. E nos finais de semana, eu lia mais um pouco e aguentava a ressaca de Jorge; além, é claro, de aturar as suas reclamações devido a minha falta de vida social.

Eu não tinha amigos, isto era fato, e também era extremamente triste.

Embora meus atos sugerissem o contrário, eu queria ter amigos. Porém, eu não era capaz de fazer amizades verdadeiras, porque sempre pensava que me machucaria de alguma forma. E era exatamente neste fato que residia meu egoísmo. Nunca era eu a machucar o outro nos cenários que eu imaginava. Sempre era culpa do outro, que traía minha confiança, que me maldizia pelas minhas costas, que me abandonava quando eu mais precisava dele. A verdade era que eu não confiava uma pequena parte da minha felicidade nem para mim mesma, então tampouco entregaria à outra pessoa com um poder de destruição bem maior. Porque, por mais que tentemos ignorar, quando alguém de quem gostamos nos magoa, os estragos são bem maiores que quando magoamos a nós mesmos.

— Estrelinha, qual camisa você acha melhor? — Jorge indagou, enquanto mostrava duas camisas sociais idênticas, apenas de cores diferentes.

— Jorge, você vai a um encontro, e não ao seu escritório de direito. — respondi sem nem me levantar do sofá.

Quando Eu Contava EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora