𝗠𝗜𝗟𝗘𝗬 𝗖𝗬𝗥𝗨𝗦 || 𝚏𝚞𝚝𝚎𝚋𝚘𝚕

· Anunciação ·

"A voz do anjo sussurrou no meu ouvido
Eu não duvido, já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais
Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais"

-...-

Ela dançava no meio da praça entre os músicos, depois de tanto tempo longe de casa era bom ouvir algo brasileiro que matasse a saudade do verão de seu país.

Ela amava Liverpool, mas nada se equiparava ao quanto ela amava o sua cidadezinha no interior de Minas. Nem mesmo a estação inglesa mais quente a lembrava de casa.

Ah, a saudade ainda a mataria um dia.

Fechou os olhos deixando-se levar pela letra da música. Crescera ouvindo Alceu Valença cantando ela na fita de sua mãe, mas ela gostava mesmo da música na voz dos irmãos Victor e Leo.

-A voz do anjo sussurrou no meu ouvido. Eu não duvido já escuto os teus sinais... - cantou junto com o rapaz, rindo enquanto se sentia em casa. As pessoas ao redor gravavam e sorriam pela espontaneidade da garota. Ingleses eram sempre tão polidos e discretos, mas de vez em quando, um rompante desses não faria mal.

De longe, Firmino sorria feliz por ver a namorada feliz e por não ser o centro das atenções por um dia. O sorriso dela era resplandecente e estava nítido que aquilo a faria bem. Pendurou a bolsa dela no ombro enquanto a fotografava dançando. A sala drapeada longa dava a impressão que ela Alcaria voo em poucos instantes e o sorriso dela, ah o sorriso dela valia qualquer sacrifício.

-Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais. - novamente Sn cantou.

Logo o violão foi dando os últimos acordes e junto com a banda ali ela agradeceu ao público e depois se virou a eles.

-Obrigada, vocês não sabem o quanto me fizeram bem. Sucesso - sorriu com lágrimas nos olhos, deixando o sotaque mineiro aparecer na frase em português.

Roberto se aproximou dela, abraçando a mulher. Sn escondeu o rosto no peito dele, sorrindo em meio ao choro de saudade. Sentia tanta falta de casa. A garota tinha saído de casa cedo, mal terminara o ensino médio e já ingressara num concurso de bolsas para engenharia aeroespacial na universidade de Liverpool. E passara com louvor, indo para a cidade dos Beatles e ficando lá por longos 6 anos.

Nesse tempo ela voltou ao Brasil somente duas vezes, o que deixava seu ccoração apertado de saudade. Saudade da sua cidade, da sua família, da rotina interiorana que tinha.

-Shii... Tá tudo bem amor. - ele beijou o cabelo dela - Eu sei que dói.

-Ah Bobby - ela falou - tá tão longe... As vezes eu só queria acordar no meu quarto e ver de novo as telhas vermelhas e a janela madeira azul escancarada.

-Eu sei... - ele falou pensando no presente de aniversário que daria a namorada. Mataria dois coelhos numa cajadada só.

···

-Alugar um jatinho, Roberto? - falou - É mesmo necessário? Não é como se eu não já soubesse que estamos indo à Alemanha. - entrou no avião particular torcendo o nariz ao gasto que ele estava tendo. - De econômica iria para o mesmo lugar, creio eu.

-Não troco minha vantagem de esticar as pernas por pagar menos. Sou rico, de quê me adianta essa grana toda e deixar ela no cofre do banco? Sem contar que aqui tem chocolate quente.

Ela revirou os olhos - Você é tão modesto querido - as vezes Roberto era tão criança quanto as duas filhas que ele tinha. Sn escolheu a poltrona da janela e sentiu o namorado já sentado ao seu lado, apoiando a cabeça em seu ombro.

-Você vai ter o melhor aniversário da sua vida.

-Eu devo ficar nervosa?

-Com toda certeza boneca - ele sorriu e piscou. Tirou do bolso o celular e os fones de ouvido, entregando um lado a ela. Sn deu um sorriso largo ao ouvir o som familiar de Anunciação tocar.

Ela fechou os olhos, deixando a música penetrar seus ouvidos e enraizar em seu sangue, levando ela novamente a infância.

-Você é o melhor, Bobby.

-Eu sou não é? - segurou a mão dela e sentiram o avião decolar - dorme um pouco amor, o voo vai demorar um pouco. - ela assentiu e fechou os olhos, caindo no sono ouvindo Victor e Leo cantarem repetidamente em seus ouvidos.

Durante o trajeto ela acordou algumas poucas vezes questionando se já haviam chegado, no mais, Roberto não teve com quê se preocupar. Logo ele dormia também.

Mais tarde a comissária o acordou avisando que faltava poucos minutos para pousarem no aeroporto da Pampulha em Belo Horizonte, onde teria um carro a espera dos dois rumo a Ipatinga.

-Amor, chegamos... - a acordou de mansinho.

···

Ao desembarcarem, Sn ouviu as boas vindas eletrônicas soando pelos auto falantes e reconheceu o aeroporto de Belo Horizonte. Deu um grito de felicidade e rindo ela abraçou o jogador.

-Bobby! Não precisava! - ela tinha os olhos cheios d'água e sorria.

-Eu disse que te daria o melhor aniversário do mundo, pequena.

-Quando eu penso que não tem como eu te amar mais... Você me surpreende e mostra que não tem limites.

-Sei que sou demais. - viu o funcionário do aeroporto se aproximar e entregar a chave de um carro a ele - Quer me guiar até o fim de mundo que você nasceu.

-Amas olha aqui! Cê vê se respeita minha cidade.

Firmino a beijou, segurando as bochechas dela e fazendo um bico.

-Como faz pra ver um mineiro descer a ladeira correndo?

Ela revirou os olhos, Roberto tinha um arsenal de piadas de mineiros completo. 

-Só jogar um queijo ladeira abaixo.

-Você é ridículo Firmino.

···

Ninguém pediu mas eu resolvi fazer este com o Smile-Boy e aproveitem o surto de criatividade da madrugada.