20 de Dezembro, 2012.
Eu não conseguia acreditar em duas coisas: Que eram 4 da manhã e eu estava pseudo-acordada e que eu teria que voltar para o Brasil. As duas coisas partiam o meu coração (talvez acordar cedo não partisse tanto quanto abandonar meu sonho, mas definitivamente é cedo demais para eu abandonar o drama).
Olhei mais uma vez para a tela do celular com os olhos quase fechados. 04h15 min. Eu já deveria estar no banho. Levantei com muita dificuldade - parecia que tinha uma bigorna em cima de mim. Fui para o banheiro com minha calça branca, e a blusa da minha mãe de 1992, toda franjada. Como eu amo aquela blusa. Senti a água descendo pelo meu corpo, como se estivesse levando minha angústia junto.
Vou tentar explicar, de forma curta: Vim fazer um intercâmbio de um ano na Califórnia, e estou indo embora depois de um mês. Tive um problema com a família bem sério, e não consegui arranjar outra no prazo de duas semanas que o programa me dava para achar. A família que eu estava era em São Francisco. Ficaram tão irritados quando pedi para mudar de família, que assim que minha diretora de área foi embora da reunião que tivemos, eles me deram 20 minutos para fazer minhas malas e sair da casa deles. Pesado. Ai, minha diretora de área teve que me mandar para Sacramento, para eu ficar na casa de outra diretora de área chamada Leslie Marks.
Triste, né? Principalmente porque, qualquer pessoa que me conhece, sabe do fascínio que eu tenho pelos Estados Unidos. E estando aqui , posso afirmar: nunca senti paz de espirito tão grande. O que eu passei com a família, não vem ao caso. Não gosto de comentar. Mas, só de estar aqui, eu arranjei forças para superar.
04h35 min. Sai do quarto com a carta de despedida que tinha escrito para a família Marks. Batia ela na palma da minha mão, pensando aonde ia esconder. Eu odeio despedidas e sou muito melhor com palavras quando as escrevo, do que quando as falo. E não ia conseguir falar nada para aquela família, que me acolheu tão carinhosamente, sem chorar/ soluçar/ me jogar no chão e ter que ser arrastada para o carro para ir embora. Olhei em volta e decidi colocar em cima da lareira, entre os enfeites de natal que tinha escolhido com Leslie alguns dias atrás, na Michaels. Acho que não vão notar logo de primeira. Espero que não notem.
Segui para a cozinha por que parto do princípio que comida, o chá que eu tomana na escola (até quando torci o pé) e água do mar curam tudo. Tentei ao máximo não fazer barulho abrindo a despensa para pegar meus Cheerios. Vou sentir tanta falta. Cheerios. Pop Tarts. E depois eu me pergunto por que eu tive que dar uns pulinhos para entrar nessa minha calça.
Quando eu viro para apoiar a tigela do balcão e sentar, quase derrubo tudo. Leslie estava me olhando da escada. Não preciso falar que me assusto facilmente, né?
"Vou sentir falta do jeito que você pensa em todos aqui. Mal consegui ouvir a porta da despensa. Se fosse Katrina ou Landon, já teriam arrancando a porta." Disse ela, rindo. O pior é que era verdade.
"Eu vou sentir falta de Pop Tarts. E das suas tentativas de me cozinhar café-da-manhã sempre." Impossível esconder minha tristeza ao dizer aquilo. Já nem tentava mais.
"Sissy," era como ela chamava a filha mais nova, Katrina, "não conseguiu parar de chorar. Ela queria você aqui todos os dias. Diz que a escola passou a ser bem melhor com você indo deixar e pegar ela."Belo jeito de me fazer perder completamente o apetite, Les. Obrigada mesmo.
"Está tentando me fazer ficar? Porque a gente tem que aproveitar que eu ainda não explodi de tanta comida e caibo na despensa!" Amenizei o clima, eu acho.
"Ah, momo," ela deu um longo suspiro, e tudo o que quis foi abraçá-la, "como eu queria que você ficasse. Mas não depende de mim."Pronto. Perdi de tal forma o apetite, que até empurrei a tigela de cereal um pouco para frente. Se minha mãe tivesse visto, com certeza já teria me reprendido com o olhar.
![](https://img.wattpad.com/cover/23349039-288-k598525.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coisa de Cinema
Storie d'amore“‘Ah, vai! Se a gente tivesse planejado, não teria dado certo!’ Falei sorrindo e deslizando meus dedos pelos cachinhos dele. Não existe frase mais certa para mim, que essa. Ele se mexeu um pouquinho, tentando achar uma posição confortável para a cab...