Os Pecados da Salvação

Prólogo

"Lavai-me Senhor de minhas faltas, e purificai-me de meus pecados"

Lavei minhas mãos como comumente o faço durante a missa, pedindo ao Senhor Deus que perdoasse meus pecados e me fizesse limpo para poder continuar com a consagração. Wellington e Robson, dois acólitos que conheço desde que ambos eram crianças e se tornaram ainda mais especiais por terem sido uma das primeiras crianças que batizei na Santa Igreja Católica em minha vida, os dois estavam com os olhos marejados. Tive que me controlar para não chorar também.

Voltei para o altar e fiz a prece sobre as oferendas com um tom de voz como sempre, baixo, um dos poucos momentos da missa que sinto que é apenas Deus e eu.

"Bendito sejais Senhor Deus do universo pelo Pão que recebemos de Vossa bondade, fruto da terra e do trabalho humano que agora Vos apresentamos e para nós vai se tornar, o Pão da Vida"

Ao erguer o Pão Sagrado como eu fazia em todas as missas, pronunciei essas palavras, abençoando-o e pedindo ao nosso senhor Jesus que derramasse suas bênçãos sobre esse Pão para alimentar seus fiéis, dessa vez diferente das outras minhas mãos tremiam um pouco, tamanha a emoção desse dia. Após abaixar a hóstia e colocá-la no altar, peguei o cálice sagrado, coloquei vinho representando o sangue de Cristo e uma gota de água, representando a nossa insignificância e pequenez perante tamanha grandeza de nosso senhor, e ao erguer o cálice, proferi a bênção ensinada há mais de dois mil anos por Ele:

"Bendito sejais Senhor Deus do universo pelo vinho que recebemos de Vossa bondade, fruto da videira e do trabalho humano que agora Vos apresentamos e para nós vai se tornar, o Vinho da Salvação".

E então abaixei o cálice posicionando-o no altar, enquanto o ministério de música terminava de tocar a música que antecede a comunhão, peguei como sempre com demasiado cuidado, a hóstia em minhas mãos, segurei-a com meus polegares e indicadores e sobre o cálice a segurei, com as palmas das minhas mãos ergui o cálice e enquanto todos os fiéis em volta do altar erguiam em grande parte sua mão direita em direção ao corpo e sangue de Cristo e colocavam a mão esquerda no coração – ou onde eles achavam que era o coração – comecei a recitar:

"Pelo mistério dessa água e desse vinho possamos participar da divindade de Vosso Filho que se dignou a assumir a nossa humanidade."

Coloquei a hóstia e o cálice sobre o altar novamente, me reverenciei sobre o altar e rezei:

"De coração contrito e humilde sejamos acolhidos por Vós e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que Vos agrade, Senhor nosso Deus"

As coisas continuaram como de costume, após isso convoquei os fiéis a orarem pelas intenções do dia, logo em seguida fiz a oração do prefácio, depois disso em grande júbilo cantamos o "Santo", fiz a oração Eucarística e enfim chegamos a hora da consagração. Mais uma vez elevei a hóstia sobre o cálice e em voz alta, com os olhos marejados fiz a prece, hoje sem o microfone, mas quis que a igreja toda escutasse:

"Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai todo poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre".

E em forma de cântico, o ministério começou a cantar "Amém". Convoquei então as pessoas a rezar o Pai-Nosso e então rezamos pela paz. Enquanto reparti o pão, fiz o apelo ao Cordeiro de Deus. Elevei o Corpo e Sangue de Cristo e os convidei a Sagrada Ceia.

"Felizes os Convidados para a Ceia do Senhor. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo".

Em resposta dos fiéis foi proclamado "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo"

"Que o Corpo e o Sangue de Cristo vos guardem para a vida eterna"

"Amém"

- Formem uma fila em cada canto do presbitério, os ministros me ajudarão a distribuir a comunhão, lembrem-se de estarem limpos de seus pecados, pois para tomar a comunhão, é necessário ao menos uma vez no ano ter se confessado e não ter cometido ao menos nenhum dos pecados mortais – eu disse após essa parte litúrgica ter terminado.