Capítulo 1

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Sempre soube que o pecado hora ou outra a nós volta e que o demônio faz questão de sempre que possível, jogar na nossa cara nossos erros do passado, talvez por esta razão, eu sempre procurava ser cuidadoso com o que eu peco. Minha mãe, desde que eu era criança, me falava sobre o inferno, sobre pecar e o que aconteceria comigo no inferno se eu pecasse, toda semana, ao menos uma vez por semana, líamos o evangelho e ela com medo de me perder para o inferno e para o pecado, sempre se focara na parte que chamo de ruim da bíblia, sempre nos castigos dos pecadores.

Aos doze anos eu já havia lido por pelo menos duas vezes o Catecismo da Igreja Católica, e a bíblia ao menos uma vez, minhas histórias de dormir sempre foram algum trecho da bíblia. Sempre preferi ouvir a professora da escolinha ler histórias, pois assim eu fugia um pouco de tantas histórias que nunca senti que eram para crianças da bíblia, envolvendo mortes, vendas de crianças e essas coisas, claro que só consegui entender o por que eu não me sentia bem com esse tipo de história a partir da minha adolescência, pois eu já tinha mais noção das coisas. Desde os treze anos, fui obrigado a me confessar uma vez ao mês, lembro-me que no começo eu nem tinha o que falar, mas com o tempo passando que aprendendo a ter malícia do mundo, minha lista de pecados foi aumentando, mas eu sempre me controlava, por amor a minha mãe e por temor a Deus, ás vezes ao contrário também. Aos quinze anos, minha mãe me dissera ter tido um sonho comigo, no sonho eu estava vestido com uma batina preta, sendo ordenado padre e a partir desse dia, ela sempre ficava me falando que achava que eu teria vocação para ser padre e de fato, eu sempre gostei dessa ideia, mas nunca havia pensado tão seriamente, até após eu ter tido um sonho parecido e então comecei a acreditar que Deus havia me chamado para ser o seu operário. A partir dai, não me permiti mais namorar ninguém, apenas uma garota com meus dezesseis anos, mas não foi algo muito longo, pois depois de dois meses que a levei em casa para conhecer meus pais, minha mãe falou para ela que o namoro não iria muito longe, pois em dois anos eu entraria no seminário e me tornaria padre, mais ou menos duas horas depois minha ex namorada me perguntou se isso era verdade e eu disse que tinha sim o sonho de ser padre, então brava comigo, ela contou a escola toda sobre meu desejo e terminou comigo. A partir desse dia todos começaram a me chamar de beato na escola, mas isso nunca me incomodou de fato, entretanto nunca mais beijei nenhuma garota depois da Andreia.

Na verdade, apenas uma...

Eu estava no meu segundo ano de seminário, aos 20 anos a minha vida corria tranquila. Estudava, ajudava no seminário, aos fins de semana fazia pastoral na igreja Nossa Senhora de Aparecida ao lado do meu querido amigo e confidente padre Matias Oliveira e do diácono José Luiz Augusto, e um dia, enquanto ao lado deles, de alguns coroinhas, acólitos e ministros da eucaristia eu fazia a recepção das pessoas que chegam para a missa das dez da manhã de domingo, pela primeira vez em muito tempo, uma mulher me chamou atenção, digo, muitas outras mulheres já haviam me atraído sexualmente, não sou hipócrita de negar, mas nessa, havia algo especial, então procurei me controlar e desviar o olhar, entretanto o olhar dela era muito penetrante e me desconcertava, após passar pelos coroinhas e acólitos, ela veio direto a mim, pegou na minha mão e me pediu benção:

- Sua benção João

Ela disse com uma voz que soou como música aos meus ouvidos, pegou minha mão levou até sua boa e com seus lábios macios, beijou-a, pude sentir o hálito fresco saindo de sua boca para minha mão e me arrepiei até a espinha. Graças a Deus eu estava de túnica, o que significa que ninguém pode ver que eu estava arrepiado e pior ainda, excitado, de uma forma que estava me machucando, tive que ir ao banheiro para poder arrumar minha calça, e foi difícil resistir a tentação de não me dar prazer naquela hora, mas consegui e me foquei na missa que estava por vir.

Quando a missa começou, como sempre fiquei do lado direito do altar, e quando me dei conta, no meio da missa, vi que essa mesma mulher estava sentada na primeira fileira de banco, bem a minha frente. Ela não estava usando nenhuma roupa vulgar, apenas uma jeans apertada o suficiente para marcar suas pernas e curvas, mas nada mais que o normal, uma camisa branca solta e um tênis. Na verdade ela nem estava bem arrumada, parece que veio a missa com roupas de ficar em casa, ou de ir a padaria, mas algo me chamou atenção, e seu olhar não se desviava de mim, o que talvez era pior, pois eu não conseguia também ficar com meus olhos longe dos dela por muito tempo. Ao final da missa, parecia que ela me esperava, ao sair da sacristia já arrumado, tentei correr, pois havia combinado com os Silveiras de que almoçaria com eles, mas lá na porta da igreja ela estava, parada, me esperando, encostada no corrimão que eu estava antes recebendo os fiéis. Algo me dizia que ela estava me aguardando, mas como eu não tinha certeza, resolvi apenas cumprimentar com um olhar e falar "tchau".

Os Pecados da SalvaçãoWhere stories live. Discover now