2 - Corrupção (Parte I)

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Agora sim! Após o final de Epifania (e da saga Ellk), precisei tirar uma semana de folga da escrita. Mas estamos de volta com nossa programação o/

A partir desta semana, as postagens de Ponto Cruz passam a ser regulares.

Ela jurava que aquele Chevrolet Celta preto havia ficado estacionado na frente da calçada da casa dos Montenegro durante o dia anterior, tal como estava exatamente agora, quase na mesma posição

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Ela jurava que aquele Chevrolet Celta preto havia ficado estacionado na frente da calçada da casa dos Montenegro durante o dia anterior, tal como estava exatamente agora, quase na mesma posição. E até onde ela conseguia se rememorar, a viúva Lisa Montenegro vendera seu Ford Ka há quase duas semanas, e ela e sua filha Duda utilizavam somente o transporte público coletivo. Então, a quem pertencia aquele veículo?

Uma ansiedade inquietante deslizou pela superfície gelada de sua pele, causando um arrepio em todo o corpo.

Vanessa soltou a cortina da janela, cobrindo a imagem da residência da vizinha da frente. Precisava de foco. Estava quase na hora de ir para o seu trabalho. Ainda tinha que pegar a pista, e levava mais ou menos meia hora entre sair de Piracicaba e chegar em Rio das Pedras, e a chuva que caía sobre o seu bairro provavelmente estaria muito mais pesada na rodovia, obrigando-a a dirigir mais devagar.

As pontas dos seus dedos seguraram outra vez o tecido da cortina, abrindo uma brecha para observar novamente aquele amanhecer chuvoso em Piracicaba.

Desse jeito, o Carnaval acontecerá embaixo de muita água.

O Chevrolet continuava lá, como se estivesse rindo de uma piada muito secreta, que somente eles dois conheciam.

Vanessa bufou, soltando a cortina.

Apanhou sua blusa branca que estava jogada no braço do sofá desde a noite anterior e a vestiu, cheirando o tecido em busca de algum odor muito forte de suor. Nada demais. Um pouco mais de desodorante e a blusa poderia ser usada de novo. O dia não seria quente. Pegou seu jaleco pendurado no espaldar da cadeira, o enfiou embaixo do braço e se dirigiu à cozinha para tomar mais uma xícara de cappuccino — odiava café puro do fundo da sua alma — antes de dar início a mais uma jornada.

Foco, foco, foco. Precisava repetir aquele mantra. Faltava tão pouco.

E, talvez, era por isso que estava se sentindo tão acuada.

Enquanto enchia a sua xícara com a água quente para preparar o cappuccino, seu estômago reclamou de fome. Hum, talvez um pãozinho com manteiga não fosse uma má ideia. Poderia ajudar a tirar aquele bolo de nervoso que girava dentro dela.

Sem pressa, mas com a respiração pesada, Vanessa abriu a primeira gaveta do balcão, apanhando uma faca de serra.

Ela não sabia de onde vinha aquela impressão, aquela certeza de que olhos navegavam no vazio da cozinha, de que uma boca bufava muito próxima de sua nuca, pronta para lambê-la, mordê-la, devorá-la. Estava ali, no invisível intocável; embaixo da mesa, dentro da dispensa, atrás da geladeira, nos vãos das janelas.

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