1 - Falha crítica

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FRONTEIRA BRASIL-PARAGUAI


Os sons dos tiros podiam ser escutados tanto na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero quanto na cidade brasileira de Ponta Porã.

Ariadne esfregou a boca quando sentiu o gosto do sangue em seus lábios. Maldito, me acertou! Com um movimento veloz, Leon Gómez avançou sobre ela. Ariadne sentiu o corte que a navalha abriu em seu braço antes que se desviasse, e praguejou com a ardência, repreendendo a si mesma. Aquilo era consequência de meses sem treinar por conta do trabalho.

Acho que estou fora de forma.

Satisfeito, o traficante investiu outra vez. Ariadne prestou mais atenção. Ágil, ela saltou,girando no espaço aberto, e pousou próxima do traficante, plantando um chute certeiro em seu estômago.

— Vadia! — ele urrou em espanhol, rolando pelo chão com o impacto. — Então você é uma federal?! Trabalha para o governo?!

Ela lhe deu um sorriso de vitória, empurrando os cabelos para trás.

— Surpresa, querido.

O homem praguejou diversos xingamentos em espanhol. Virou a perna, acertando uma rasteira na canela de Ariadne. A agente foi pega de surpresa, contudo, usou o peso do próprio corpo para aparar a queda, e caiu de mau jeito, agachada em posição de luta, mantendo a arma apontada para ele. Sentiu a fisgada no tornozelo pela "aterrissagem" descuidada.

Merda, estou definitivamente fora de forma.

— Quem diabos é você, garota?!

— Sua passagem de ida para a prisão. A responsável por desmanchar seu cartel e sua máfia de tráfico de drogas.

Leon quis atacá-la, mas sua intenção foi frustrada quando uma nova voz se abriu no descampado frente ao galpão lacrado.

— Fim da linha, compañero.

Ariadne olhou para trás, abrindo uma expressão satisfeita.

Viu Joaquim, um agente perto da idade da aposentadoria, avançar até ela junto de outros dois agentes. Era gratificante encarar olhos conhecidos após tanto tempo infiltrada, longe de tudo e de todos. Ele sinalizou para que Leon fosse algemado. Ariadne fez questão de dar um aceno de despedida para o traficante, que continuava urrando palavrões em espanhol.

Nuestro amigo já está sendo levado. Você fez um ótimo trabalho de infiltração para cercá-los. — Joaquim deu dois tapinhas no ombro dela, agachando-se ao seu lado. — Pronta para finalizar a missão?

Ariadne inspirou satisfeita.

— Prontíssima. Basta apreendermos tudo com sucesso, e vou ganhar minha passagem para trabalhos fora do país. E nunca mais voltarei para cá. Isso sim que é liberdade, que é ser livre.

Escutou Joaquim expelir um suspiro pensativo, tocando o queixo. Algumas rugas salientavam-se em sua testa.

— O que foi, Joaquim?

— Sabe... Não se pode ser verdadeiramente livre aqui — disse, apontando para o espaço ao entorno deles —, se não formos livres aqui — e tocou sua cabeça —, e aqui — finalizou, apontando para o coração.

Ariadne franziu o cenho, torcendo a boca. Joaquim riu baixo.

— Acho que já estou velho demais para dar conselhos para os jovens. — Ele se colocou em pé, correndo os dedos pelos cabelos grisalhos. — Vou até a van. Boa sorte com o fechamento.

Ela agradeceu com um gesto de cabeça, assistindo-o partir.

O céu cintilava em um azul cobalto adorável. Duas máfias — uma paraguaia e uma brasileira — disputavam o controle do tráfico na fronteira, e Ariadne precisara de mais de noventa dias infiltrada no cartel paraguaio para obter provas e desmanchar a operação. Mas a recompensa e a promoção valeriam a pena. Sem contar que era particularmente prazeroso desestabilizar os negócios da máfia brasileira.

O comunicador em sua orelha chiou.

Por um momento, o radar apontou um movimento suspeito, mas ele já desapareceu. Acreditamos que era um animal. — Escutou a voz do comandante da equipe tática que invadiria o laboratório de metafetamina. — Você está familiarizada com o cartel, Dangelo. É arriscado? Devemos recuar?

— Não, não! Está tudo limpo! Repito, está tudo limpo! Tenho trabalhado nisto há mais de três meses! Se a equipe recuar, toda a operação estará comprometida. Perderemos as provas.

Autorizada a invasão ao galpão do laboratório?

— Autorizada!

Ao seu comando, a equipe tática avançou.

Ariadne rolou pelo chão, desviando-se da linha de fogo. Seu coração vibrava em um misto de adrenalina e euforia. O desmanche da facção seria sua ponte de saída. Bastava que a equipe apanhasse...

Ei, tem algo errado aqui!

Num pulo, ela agarrou o comunicador.

— O que está dizendo?!

Houve um som carregado, como um vulcão entrando em erupção. Antes que a resposta chegasse, uma explosão de fumaça e fogo voou para todos os lados. Ela foi atirada para longe com o impacto. Mesmo à distância, Ariadne sentiu o calor quase queimar sua pele.

Gritos agudos reverberaram pelo ar.

Fitando o galpão destruído, ela se ergueu parcialmente no chão; toda a musculatura latejava. O peito ribombava em choque. Tentou respirar, mas o cheiro asfixiante da fuligem afogava sua garganta.

Não é possível. Não é possível. Tudo foi perfeitamente calculado.

O alaranjado das chamas distantes iluminava os contornos perplexos do seu rosto.

Um pássaro cortou a noite, piando alto.

E todos os gritos se calaram.


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Enquanto eu ajeito o próximo capítulo de Epifania, deixo aqui para vocês uma amostrinha do que vem em fevereiro ♥

Ponto Cruz | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora