Imaginário, o soneto do acerto de contas ecoou em seus ouvidos.
Ele me passou para trás.
E agora iria fazê-lo se arrepender.
A visão do corredor imerso em um breu taciturno se prolongava e se turvava diante dos seus olhos. Respirava em descompasso, atravessada pelo vulcão que arrebentava suas veias.
A madrugada gemia em sua hora mais sombria. Ela não tinha certeza do motivo de ter escolhido aquele horário para confrontá-lo, tampouco se recordava de como chegara até aquele local.
Mas sabia o que precisava fazer.
Ele me roubou.
Iria roubá-lo de volta.
Suas pernas se moviam por conta própria, a sola gasta do tênis rangendo traiçoeira em contato com o chão. Andava depressa; a água escorria dos fios de seus cabelos e do tecido escuro de sua roupa. Estava encharcada, e o frio era um companheiro desagradável. A tempestade lá fora bramia e se chocava violenta contra as janelas do velho edifício.
E... Espere um pouco. Por que não se utilizara de um guarda-chuva ou de um meio de transporte para chegar até lá?
Sua mandíbula trincou, apagando o questionamento.
Ele me passou para trás. Ele colocou toda a operação em risco.
Ela andou até o final do corredor e virou à direita. Apressou o passo até começar a correr. Ninguém iria lhe escutar mesmo. E caso alguém o fizesse, pouco se importaria. Estava próxima de seu anuviado e incerto objetivo, mas tão nervosa que acabou avançando para além da porta almejada. Grunhiu, girou depressa nos calcanhares, espalhando mais água pelo corredor, e parou derrapando em frente ao ponto desejado.
Mas por que eu tenho que fazer isto a esta hora?
Uma agulhada no pulso esquerdo dispersou seus pensamentos.
Inspirou fundo. Havia um odor de madeira velha e mofo serpenteando no ar. Expirou rápido. Faria aquilo. Sentia a lâmina fria em contato com a pele de seu tornozelo, onde escondera a faca de prata com seu nome gravado. Não permitiria que os tremores em suas mãos corrompessem sua escolha.
Decidida, testou a maçaneta. A porta estava destrancada.
Sorriu de canto.
Sempre tão descuidado.
Adentrou sem medo no aposento.
O quarto estava abafado e ainda mais escuro que o corredor. Escutava-se a chuva do lado de fora. Um pequeno abajur providenciava luz para o local, contudo, uma camiseta cinza e suja fora jogada em cima dele, o que tornava a luminosidade opaca, permitindo que o ambiente dançasse em uma torturante penumbra.
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Ponto Cruz | DEGUSTAÇÃO
Misterio / SuspensoLIVRO EM DEGUSTAÇÃO - COMPLETO NA AMAZON 1º lugar no Concurso Atlantis 1º lugar no Concurso Heróis da Salvação 1º lugar no Concurso Gênio da Lâmpada 1º lugar no Concurso WINged Team 1º lugar no Concurso Master Book 1º lugar no Concurso Sakura 1º lu...