Prólogo

713 91 244
                                    

Imaginário, o soneto do acerto de contas ecoou em seus ouvidos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Imaginário, o soneto do acerto de contas ecoou em seus ouvidos.

Ele me passou para trás.

E agora iria fazê-lo se arrepender.

A visão do corredor imerso em um breu taciturno se prolongava e se turvava diante dos seus olhos. Respirava em descompasso, atravessada pelo vulcão que arrebentava suas veias.

A madrugada gemia em sua hora mais sombria. Ela não tinha certeza do motivo de ter escolhido aquele horário para confrontá-lo, tampouco se recordava de como chegara até aquele local.

Mas sabia o que precisava fazer.

Ele me roubou.

Iria roubá-lo de volta.

Suas pernas se moviam por conta própria, a sola gasta do tênis rangendo traiçoeira em contato com o chão. Andava depressa; a água escorria dos fios de seus cabelos e do tecido escuro de sua roupa. Estava encharcada, e o frio era um companheiro desagradável. A tempestade lá fora bramia e se chocava violenta contra as janelas do velho edifício.

E... Espere um pouco. Por que não se utilizara de um guarda-chuva ou de um meio de transporte para chegar até lá?

Sua mandíbula trincou, apagando o questionamento.

Ele me passou para trás. Ele colocou toda a operação em risco.

Ela andou até o final do corredor e virou à direita. Apressou o passo até começar a correr. Ninguém iria lhe escutar mesmo. E caso alguém o fizesse, pouco se importaria. Estava próxima de seu anuviado e incerto objetivo, mas tão nervosa que acabou avançando para além da porta almejada. Grunhiu, girou depressa nos calcanhares, espalhando mais água pelo corredor, e parou derrapando em frente ao ponto desejado.

Mas por que eu tenho que fazer isto a esta hora?

Uma agulhada no pulso esquerdo dispersou seus pensamentos.

Inspirou fundo. Havia um odor de madeira velha e mofo serpenteando no ar. Expirou rápido. Faria aquilo. Sentia a lâmina fria em contato com a pele de seu tornozelo, onde escondera a faca de prata com seu nome gravado. Não permitiria que os tremores em suas mãos corrompessem sua escolha.

Decidida, testou a maçaneta. A porta estava destrancada.

Sorriu de canto.

Sempre tão descuidado.

Adentrou sem medo no aposento.

O quarto estava abafado e ainda mais escuro que o corredor. Escutava-se a chuva do lado de fora. Um pequeno abajur providenciava luz para o local, contudo, uma camiseta cinza e suja fora jogada em cima dele, o que tornava a luminosidade opaca, permitindo que o ambiente dançasse em uma torturante penumbra.

Ponto Cruz | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora