[2] O Amor Vai Chegar

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Eu odeio manhãs.

Honestamente, eu não entendo como as pessoas conseguem funcionar antes das dez e meia. Para mim, o mundo não deveria acordar antes das nove, no mínimo. De manhã, as coisas eram muito quietas e as pessoas costumavam feder mais, seja o mau hálito ou remela no canto dos olhos, e esse era um dos principais motivos para eu odiar manhãs. Bem, pelo menos a Velha não tinha nada disso quando deu duas batidas na porta do meu quarto antes de abrir sem nem esperar por minha permissão. Sorte a dela porque eu faria ela ficar tão vermelha quanto um tomate reclamando sobre isso.

Virei de costas imediatamente, já irritado pelo barulho chato do ranger das molas daquela porcaria de colchão.

— Jimin! Jimin! — ela cantarolou, baixinho. — Acorde, é o seu primeiro dia de aula hoje! O ônibus chega daqui a trinta minutos.

Me virei para ela, extremamente enjoado com a voz alegre. Quem, as sete da manhã, fala assim? — Eu nem dormi, 'pra começo de conversa. Esse colchão é uma merda.

— Não xingue — ela diz séria mas logo curva a boca novamente. — Seu uniforme está no banheiro. Eu e RM te esperamos para o café da manhã. Bom-dia, docinho.

E lá estava o maldito apelido. Ela estava me chamando de docinho, bebê, anjo, amorzinho, querido e várias outras variações desde que cheguei dois dias antes. Eu nem me incomodava mais; fingia que ela nem estava falando comigo. Nem me dei o trabalho de reclamar sobre isso porque tenho certeza que ela não pararia, já que ninguém aqui me respeita, inclusive o Esquisito que fica me olhando pelo canto do olho como se soubesse todos os meus pecados e não tivesse amor a própria vida. Alguma hora eu ainda assustaria aquele garoto de novo, e ele que está implorando.

Bem, eu queria ficar e tentar dormir de novo mas sabia que ir para escola era mil vezes melhor do que aguentar mais dos apelidos idiotas dela. Fiquei foi chocado quando soube que nessa escola teria que usar uniforme. Nunca tinha ido em uma que fosse necessário usar uniforme então era meio chato ter que usar as minhas roupas velhas para ir ao colégio. Com o uniforme estupidamente perfeito, não preciso me preocupar em ficar escolhendo qual das minhas roupas se parecia menos com a que um mendigo usaria. Simplesmente genial! Então levantei e rumei ao banheiro, molhando o cabelo para fingir que tinha tomado banho e praticamente usando todo o frasco de perfume que ela tinha me comprado noite passada.

Não me leve a mal, não sou porco. É que eu não gostava de tomar banho de manhã. Resumindo: não gosto de fazer nada de manhã. Quase infartei quando Elis me disse que frequentaria a escola nesse turno, então ainda estou me acostumando a viver mais cedo.

O perfume era bem cheiroso então quando cheguei na sala, ela sorriu para mim e eu sabia que era pelo cheiro só pelo nariz franzindo. O Esquisito me olhou também quando eu me inclinei sobre a mesa em que eles sentavam. A Velha espiou eu pegar uma torrada e enfiar ela inteira na boca enquanto já alcançava a jarra de suco e derrubava algumas gotas na toalha de mesa ao derramar o líquido no copo. Ele olhou 'pra ela como se dissesse "Isso é permitido?". Preciso falar que amo essa expressão horrorizada barra assustada barra supresa que as pessoas fazem. Sério, é hilário.

— Você não vai se sentar para comer conosco? — ela diz com a voz afetada. Por um breve segundo, enquanto encarei seus olhos antes de alcançar a mochila e a pendurar em meus ombros, tive pena.

De toda forma, ela era bobona, então meio que eu tinha pena dela sim. De todas as crianças, ela tinha logo que me escolher... Era um verdadeiro azar. Bem, o que posso fazer? Que ela culpe a Deus, não a mim.

— Não.

E saí pela porta sem olhar para trás.

Eu até pensei em ficar no ponto de ônibus esperando por ele, mas resolvi ir a pé depois de passar mais de dez minutos esperando o bendito. Não sabia se estava seguindo a direção certa mas tanto faz. Se eu acabasse lá entraria na escola mas se não, só continuaria andando em frente. Passei por várias ruas, mas elas todas pareciam as mesmas e eu nem esperava muita coisa porque essa parte da cidade é um saco. A vizinhança era quieta como um lar de idosos, eu não vi uma criança, e olha que eu fiquei a terça inteirinha sentado na escadinha da porta, esperando por qualquer sinal de alguém menor que eu para atormentar. Mas ninguém apareceu, nem mesmo um adolescente.

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