Quando eu completei treze anos, lembro de ter perguntado ao Ellis o que era sexo. Não fazia a mínima ideia do que era e apenas quando ele se engasgou ao ouvir a pergunta que percebi que talvez aquilo fosse algo inapropriado. Bom, ele não chegou a me responder – só ficou gaguejando por minutos e me fez desistir de saber, indo embora. Hoje, aos quinze, já sei o que é e com propriedade afirmo que continuo tão desinteressado no assunto como dois anos atrás. Antes, não ouvia tanto sobre isso e depois da Não-Conversa com Ellis, até parei de pensar mas agora, é praticamente impossível evitar o assunto.
Gravidez, preservativo, beijo, DSTs, camisinha... Tudo isso gente da minha idade já sabia por outros meios, mas insistiram em nos ensinar na escola, mais precisamente nas aulas de biologia. E a cada ano inovavam em como abordar sobre isso sem parecerem que estão nos ensinando como transar. Naquela manhã, a professora Kim de biologia entrou na sala segurando duas caixas de ovos quando eu jurei que já tinha visto de tudo nessa vida.
Ela escreveu "Projeto do Trimestre" no quadro e depois se virou para nós, sorridente. Eu suspiro de lamentação, prevendo o que rolaria. Aprendi desde cedo que quando um professor sorri daquele jeito às sete da manhã numa segunda-feira, boa coisa não é. E sabendo do histórico da professora Kim, isso só piorava.
Ela parecia ser a única professora dessa escola de robôs que demonstrava se importar se os alunos estavam aprendendo ou não o assunto, e eu ainda não tinha decidido se isso era bom ou ruim. Com somente algumas semanas de aula, tivemos testes todas ás sextas para ela se certificar que estávamos aprendendo. O teste tinha dez perguntas sobre o assunto que ela ensinou na semana inteira e, surpreendentemente, eu me saí muito bem neles. Mas eu não esperava outra coisa: Era a única aula do dia que eu conseguia ficar acordado sem pegar no sono de jeito nenhum! Eu não sei dizer se eram pelos assuntos nojentos que eu achava interessante ou pela professora ser tão bonita como uma modelo de revista, na verdade... Mas o fato era: conseguia prestar atenção e talvez até gravar o que ela dizia. Por isso que conseguia entender tudo, por ela tentar deixar a aula ser menos chata o máximo que podia.
E em alguns dias até funcionou. Aquele dia, acho que não.
— Turma, vocês podem me dizer o que é isso? — Foi a primeira coisa que ela disse. Ela segurava um dos ovos com uma mão e com o outro braço, apoiava a caixa de ovos para não cair. Eu fiquei encarando a caixa, querendo que com o poder da minha mente todos eles caíssem para eu dar risada mas... não aconteceu.
— Um ovo, professora. — O menino baixinho sentado na frente dela estendeu a mão e falou quando ela o deu permissão. Eu reviro os olhos, afundando mais ainda na minha carteira.
— Não, Jihoon. Alguém mais quer tentar?
Eu franzo as sobrancelhas, extremamente confuso. Aquilo ali era um ovo, como assim estava errado?! Porém, fico quieto quando outra pessoa se oferece para responder. Eu já estou tempo suficiente aqui para saber que, se eu acho que sei alguma coisa ou a resposta é tão fácil que chega a ser óbvia, então estou definitivamente errado e outro aluno brotaria de um bueiro para responder corretamente.
— Isso é um ovo de granja, professora! — Mais uma vez a professora nega, sem vacilar o sorriso de sabichona que ela vivia expondo.
Está vendo? Eu nem sabia que existia mais de um tipo de ovo. Sei que existem os marrons e o branco, desconheço os de granja mas essa menina é aparentemente uma expert de ovos. Com isso, ninguém mais se propõe a responder. A professora fica satisfeita, deixando a caixa de ovos na mesa dela e sentando num outro canto da superfície. Ela alisa o ovo nos dedos, como se ele tivesse vida e sentisse a carícia. Que mulher louca.
— Pela próxima semana, isso não vai ser um ovo. Estes vão ser os seu filhos! — ela diz, animada.
O burburinho irritante inicia automaticamente e eu me inclino para Seokjin só para me certificar que não tinha enlouquecido e aquilo era alguma projeção da minha mente enquanto na verdade eu estava em coma por três dias seguidos. — Ela acabou de dizer que esses ovos serão nossos filhos?
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O Mundo e Nós
FanfictionNo auge dos anos 90 onde todo mundo parece viver harmoniosamente, Park Jimin, qual acabou de completar 15 anos, não se vê incluso nesse cenário. Pulando de família em família por criar problemas demais aos responsáveis, o órfão não está nada perto d...